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Estado de Minas POL�TICA

Biblioteca de Celso de Mello deixa o STF e vai para escrit�rio em Tatu� (SP)


19/12/2020 13:00

Afinal de contas, Capitu traiu Bentinho? A d�vida provocada por Machado de Assis em 1899, quando foi lan�ado Dom Casmurro, at� hoje desperta debates e teses liter�rias, com interpreta��es para todos os gostos. Um dos admiradores do romance � o ministro aposentado Celso de Mello, que deixou o Supremo Tribunal Federal (STF) em outubro, na v�spera de completar 75 anos.

A obra fazia parte da biblioteca do antigo decano, formada por cerca de 12 mil livros que dominavam as paredes do seu gabinete na cobertura de um edif�cio anexo � sede da Corte. O acervo - que re�ne revistas, livros jur�dicos e a mem�ria de 31 anos de atua��o no tribunal - acaba de ganhar uma nova casa: Rua 15 de Novembro, 609, Tatu� (SP), endere�o do escrit�rio de dois amigos de Celso, os advogados criminalistas Jos� Rubens do Amaral Lincoln e seu filho, C�cero do Amaral Lincoln.

Ao todo, 164 caixas foram transportadas de caminh�o de Bras�lia para a cidade natal do ministro - o exemplar com a hist�ria de Capitu, no entanto, n�o foi para l�: ficou com Celso, em S�o Paulo, onde o ministro cumpre a quarentena em tempos de pandemia. Da biblioteca do STF, que fundamentou votos hist�ricos em longas noites - e madrugadas - de trabalho, o magistrado guardou para si poucos livros, de alguns de seus autores favoritos: T.S. Eliot, Ezra Pound, E�a de Queir�s, Samuel Johnson, M�rio de Andrade, Jos� Lins do Rego - e Machado.

Durante uma visita a Tatu�, nas f�rias do STF, Celso at� participou, em um momento descontra�do com amigos, de uma esp�cie de "julgamento" em torno da mulher de Bentinho. "Por incr�vel que pare�a, as opini�es divergiam (sobre a trai��o da personagem), nunca se chegava a um ponto comum, mas essa � a inten��o do autor. Continuamos ainda preocupados, em pleno s�culo XXI, com a culpabilidade ou inoc�ncia de Capitu. Mais importante, por�m, do que tentar definir a pr�tica do adult�rio por Capitu � destacar, como observa Bruna Kalil Othero (escritora e pesquisadora), as constru��es est�ticas brilhantes de Machado de Assis!", escreveu Celso de Mello ao Estad�o, pedindo que as respostas fossem publicadas na �ntegra.

"Helen Caldwell, tradutora de Machado de Assis para a l�ngua inglesa, sugere a absolvi��o de Capitu, concluindo - tal como eu penso - �que o romance � escrito de tal forma a deixar a quest�o da culpa ou da inoc�ncia da hero�na para decis�o do leitor!�", acrescentou.

Mem�ria

Dois meses depois da aposentadoria, a mem�ria de Celso de Mello - definido como uma "b�ssola" pelos ex-colegas das sess�es plen�rias - permanece viva na Suprema Corte. O antigo decano doou ao tribunal a segunda edi��o de um livro de sua autoria, chamado Constitui��o Federal Anotada. O acervo da Corte tamb�m ganhou o mobili�rio (mesa e cadeira) usado pelo ministro nas intermin�veis jornadas de trabalho, embaladas ao som de m�sica cl�ssica em alto e bom som. J� a doa��o das 164 caixas de livros da sua biblioteca para Tatu� movimentou a pacata cidade do interior paulista de 120 mil habitantes. "Uma vida inteira est� em cima deste caminh�o", resumiu uma moradora ao ver a carga no meio da rua, conforme relato do jornal Integra��o, editado por Jos� Reiner Fernandes, outro amigo do ex-ministro.

Segundo C�cero, o novo dono da biblioteca, a doa��o foi promessa de alguns anos atr�s. Para acomod�-la no escrit�rio, mais estantes foram providenciadas, mas as caixas continuam espalhadas por todos os cantos. "O conte�do jur�dico das obras mostra como se manter a democracia do Pa�s, nos orienta contra o autoritarismo e nos d� consci�ncia de nos mantermos firmes", afirmou o criminalista. "Eu considero isso um patrim�nio de Tatu�", disse o pai, Doutor Lincoln, que pagou do pr�prio bolso o transporte dos livros. Amigo de Celso h� mais de meio s�culo, o advogado j� manifestou o desejo de transformar o local em uma esp�cie de memorial do ministro. "A ideia seria essa biblioteca ser preservada o m�ximo poss�vel, em respeito a ele", afirmou.

No momento, Celso de Mello l� Cidade de Deus (De Civitate Dei), de Santo Agostinho, uma obra, que nas suas palavras, "exige medita��o e suscita muitas reflex�es". "� preciso ter f� no fato de que os livros representam um poderoso instrumento de resist�ncia, sempre leg�tima, contra ensaios autorit�rios de poder, e de cuja leitura resultar� a luz que iluminar� os passos de nossa democracia e dissipar� as pr�ticas sombrias que buscam destru�-la", afirma. "A constru��o da ordem democr�tica e a preserva��o das liberdades fundamentais, que n�o podem ser destru�das pela a��o intolerante dos ep�gonos do poder e de seus ac�litos, t�m nos livros um meio essencial a essa defesa e de enriquecimento do esp�rito. Foi com esse objetivo que doei a um jovem (e promissor) advogado de minha terra quase todo o acervo que reuni ao longo de d�cadas." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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