O presidente Jair Bolsonaro contou com uma base de votos na C�mara menor que a de antecessores nos dois primeiros anos de mandato. Mesmo com o apoio de partidos do Centr�o e o alinhamento maior de deputados desse bloco ao Pal�cio do Planalto, a ades�o a Bolsonaro supera apenas a observada durante o governo de Dilma Rousseff (PT) pouco antes do impeachment, em 2016. Para cientistas pol�ticos ouvidos pelo Estad�o/Broadcast, o quadro representa risco para o presidente no momento em que cresce a press�o por seu afastamento.
Levantamento do Observat�rio do Legislativo Brasileiro (OLB), produzido pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), revela que, na primeira metade de seu mandato, Bolsonaro teve, em m�dia, apoio de 72,5% na C�mara. O �ndice considera o alinhamento dos deputados com a lideran�a do governo em todas as vota��es, excluindo aquelas nas quais houve consenso, como o decreto de calamidade p�blica para enfrentar a pandemia de covid-19.
Apesar de ter maioria na C�mara para aprovar projetos de seu interesse, Bolsonaro enfrenta dificuldades. N�o sem motivo: o porcentual de 72,5% indica que o apoio parlamentar ao governo � inferior � base que sustentava seus antecessores desde a gest�o de Luiz In�cio Lula da Silva (2003 a 2006 e 2007 a 2010).
A m�dia de apoio ao governo em vota��es nominais na C�mara no primeiro mandato de Lula, por exemplo, foi de 77,1% at� junho de 2004 (mais informa��es nesta p�gina). J� o ex-presidente Michel Temer, que assumiu o governo ap�s o afastamento de Dilma Rousseff, obteve respaldo de 73,7% dos deputados no per�odo em que permaneceu no cargo, at� o fim de 2018. Nos meses que antecederam o impeachment de Dilma, no entanto, a ades�o ao governo petista era de 58,2%.
Agora, diante do agravamento da pandemia de covid-19 e de erros do governo na condu��o da crise, a aprova��o ao governo Bolsonaro caiu e foram registrados nos �ltimos dias em diversas cidades panela�os e carreatas com o mote "Fora Bolsonaro". O presidente mudou a estrat�gia de comunica��o, como mostrou o Estad�o, e agora aposta na chegada das vacinas ao Brasil para superar o desgaste. Na arena pol�tica, Bolsonaro tem distribu�do cargos e emendas para indicados do Centr�o.
O cen�rio, no entanto, � de muita turbul�ncia. Partidos de oposi��o como PT, PDT, PSB, Rede e PC do B prometem protocolar nesta ter�a-feira uma a��o que pede a sa�da de Bolsonaro, sob o argumento de que ele tem sido negligente com a sa�de da popula��o.
Bolsonaro, por sua vez, se movimenta para eleger o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), l�der do Centr�o, como presidente da C�mara. O principal advers�rio de Lira � o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e por uma frente de siglas de centro e de esquerda.
Cabe ao presidente da C�mara arquivar ou dar andamento a pedidos de impeachment contra o chefe do Executivo. Atualmente, h� 56 pedidos ativos de afastamento de Bolsonaro. A expectativa � que se Lira ganhar a elei��o vai engavetar todos eles.
'C�lculo pol�tico'
"O alinhamento nas vota��es � um indicador insuficiente para medir a possibilidade de impeachment, mas, certamente, sinaliza que a perda de apoio entre os parlamentares pode influenciar nas articula��es para evitar a abertura de um impeachment", afirmou a cientista pol�tica D�bora Gershon, uma das autoras do estudo do Observat�rio do Legislativo Brasileiro. "O cen�rio atual, com queda de popularidade, � �rido para o presidente, mas ainda n�o coloca o impeachment � vista. O elemento novo � o aumento da temperatura pol�tica fora do Congresso. Isso, sim, muda o c�lculo pol�tico do parlamentar."
Com a ades�o ao governo, o Centr�o se aproximou ainda mais de outros partidos conservadores, desde 2019 fi�is ao governo, como PSL e PSC. A dist�ncia desse grupo com a oposi��o criou um "fosso" no centro pol�tico da C�mara e aumentou a polariza��o nas vota��es. No ano passado, de acordo com o levantamento do Observat�rio do Legislativo Brasileiro, nenhuma legenda ficou "em cima de muro".
"A base � fluida e inst�vel porque s�o poucos os que acreditam verdadeiramente nas pautas do governo, exceto a econ�mica. Por isso, a cada vota��o d�-se novo rearranjo de for�as. O Centr�o segura, mas n�o garante", disse o deputado F�bio Trad (PSD-MS), integrante de um dos partidos que apoiam Lira, mas que n�o declarou em quem vai votar.
Durante o ano passado, quando o Brasil come�ou a enfrentar a pandemia de covid-19 e o Congresso dedicou a maior parte dos projetos ao enfrentamento da crise, os deputados mais alinhados ao governo nas vota��es foram PSL, PL, Progressistas, Patriota, Novo, Republicanos, PSC e MDB. As notas m�dias de governismo ficaram pr�ximas a 8, em uma escala que vai de 0 a 10. Na outra ponta, como era esperado, os oposicionistas PSOL, PT, PC do B, Rede, PSB, PDT, PV e Cidadania se mantiveram distantes da orienta��o do Planalto nas vota��es, com notas de 1 a 4. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA