O ex-governador de S�o Paulo e ex-ministro Paulo Egydio Martins morreu ontem, aos 92 anos. Paulo Egydio governou o Estado durante o regime militar, entre 1975 e 1979, nomeado pelo ent�o presidente Ernesto Geisel. No per�odo em que ocupou o Pal�cio dos Bandeirantes se destacou mais pelo perfil administrador. Na pol�tica, se consolidou como um liberal e seu �xito foi estimular a reabertura durante a ditadura.
Filiado � Alian�a Renovadora Nacional (Arena), o partido de sustenta��o do regime de mar�o de 1964, Paulo Egydio deu suporte civil � chamada pol�tica de distens�o de Geisel.
Nos quatro anos que comandou S�o Paulo por indica��o do ent�o presidente, Paulo Egydio se tornou o homem de confian�a no Estado, e se op�s aos militares linha-dura. Manteve, desde o come�o de sua gest�o, rela��es delicadas com o general Ednardo D�vila Melo, comandante do 2.� Ex�rcito, um dos que queriam aprofundar o combate aos que tentavam "subverter" o governo.
"Desculpe incomod�-lo", afirmou Paulo Egydio a Geisel, por telefone, na noite de 18 de janeiro de 1976. "Morreu outro preso no DOI. Outro enforcamento." Era uma refer�ncia � segunda de duas mortes que representaram o momento mais delicado de seu governo e precipitaram o processo de distens�o do regime militar.
O jornalista Vladimir Herzog e o metal�rgico Manoel Fiel Filho foram assassinados em outubro de 1975 e janeiro de 1976, respectivamente. Na �poca, Herzog, ex-rep�rter que ajudou a instalar a sucursal do Estad�o em Bras�lia e ent�o diretor de jornalismo da TV Cultura - emissora do governo paulista -, havia se dirigido �s depend�ncias do DOI-Codi para prestar um depoimento. De acordo com a vers�o oficial da ditadura, ele tirou a pr�pria vida ao se enforcar na cela, com os joelhos dobrados.
A morte teve s�rias repercuss�es, mobilizando a sociedade em rep�dio �s pris�es e assassinatos pol�ticos. A imprensa e o pr�prio presidente interpretaram o assassinato como um desafio do aparelho de repress�o ao projeto de Geisel. No dia 19 de janeiro, ap�s a liga��o de Egydio, Ednardo foi exonerado.
O projeto de abertura no interior do governo militar saiu fortalecido. "Militares linha-dura n�o queriam que o Geisel desse continuidade � abertura pol�tica que ele estava implementando", afirmou o ex-governador � Comiss�o da Verdade, em 2013. "Eles queriam um regime mais forte e violento", completou na �poca, acrescentando que as mortes faziam parte de uma estrat�gia para tirar o presidente do poder.
Ainda � frente do governo paulista, Egydio tentou, sem sucesso, fazer com que o prefeito da capital paulista, Olavo Set�bal, fosse escolhido como seu sucessor em S�o Paulo. Promoveu, em 1978, uma pesquisa plebiscit�ria com todos os prefeitos arenistas do Estado em que cada um enviou um telegrama ao presidente, general Jo�o Batista Figueiredo, com o nome do candidato de sua prefer�ncia.
O mais cotado foi Murilo Macedo, ent�o secret�rio da Fazenda, seguido de Rafael Baldacci Filho, Laudo Natel, Ant�nio Delfim Neto, Set�bal, Manuel Ferreira Filho (vice-governador), Ademar de Barros Filho, Jorge Maluly Neto e, finalmente, Paulo Salim Maluf, ex-prefeito de S�o Paulo. Em seguida, Set�bal, Baldacci, Macedo e Delfim Netto assinaram um documento no qual atribu�am a Paulo Egydio poder de decis�o na quest�o sucess�ria. Figueiredo, ent�o, alertou para a possibilidade de interven��o federal no processo sucess�rio paulista, em caso de cis�o dentro da Arena. No fim das contas, em 1979, Paulo Egydio transmitiu o cargo a Paulo Maluf, escolhido como candidato pelos pol�ticos da Arena paulista, de quem depois virou cr�tico.
Liberal
No fim do mandato como governador, o paulista chegou a defender a legaliza��o do Partido Comunista e o fim do ex�lio do secret�rio-geral da agremia��o, Lu�s Carlos Prestes. Depois, j� fora do cargo, passou a dar sucessivas declara��es de cunho liberal, como no caso da defesa da proposta de "anistia ampla, geral e irrestrita" defendida pelo partido de oposi��o � ditadura, o MDB.
Poucos anos depois do retorno do pluripartidarismo no Brasil, Egydio se filiou ao Partido Popular (de Tancredo Neves), do qual foi terceiro-vice-presidente da comiss�o executiva regional. Saiu, no entanto, antes de a sigla ser incorporada ao ent�o PMDB. Teve uma passagem pelo Partido Democr�tico Social (PDS) antes de finalmente ingressar, em 1884, no PMDB a pedido de Tancredo, candidato da Alian�a Democr�tica. Participou ativamente das articula��es pela candidatura do pol�tico mineiro.
Em meados da d�cada de 1980, abandonou a pol�tica partid�ria, para a qual s� voltaria em 2006, com a filia��o ao PSDB. A partir de ent�o, foi para o setor privado, chegando a ser presidente do Banco Finasa S.A. e do Itaucorp S.A., do grupo Ita�. Tamb�m foi conselheiro da C�mara de Com�rcio Brasil-Su��a.
Paulo Egydio teve sete filhos do seu casamento com Bras�lia (Lila) Byington, filha do industrial paulista Alberto Byington, s�cio da mineradora americana Alcoa, que ele mesmo chegou a presidir entre 1962 e 1964.
Uma d�cada antes, havia trabalhado no departamento de engenharia da Byington & Companhia, de propriedade da fam�lia de Lila.
Paulo Egydio j� estava no governo quando a Arena, o partido da ditadura, foi criado. A agremia��o passou a existir s� em 4 de abril de 1966, tr�s meses depois de o paulista, um engenheiro por forma��o, assumir o Minist�rio da Ind�stria e do Com�rcio (MIC) no governo do presidente Humberto Castelo Branco. O Ato Institucional n.� 2, que extinguiu os partidos pol�ticos e instaurou o bipartidarismo, havia sido publicado no fim do ano anterior.
No MIC, ajudou a sustentar a pol�tica do ministro do Planejamento, Roberto Campos, uma das linhas mestras da linha econ�mica adotada pelo regime criado para combater a infla��o.
O ex-governador nasceu em S�o Paulo, cursou ensino b�sico em Santos, e foi com sua fam�lia para o Rio de Janeiro, onde realizou seus estudos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), formando-se em Engenharia em 1951.
A not�cia do falecimento foi transmitida pelo governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB). A causa da morte n�o foi informada.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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