Com a mexida no primeiro escal�o promovida nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro atinge a marca de 23 mudan�as na equipe em dois anos e tr�s meses de governo. Foram 17 demiss�es de ministros e seis remanejamentos. Agora, ex-auxiliares j� enxergam um "padr�o" nas dispensas: Bolsonaro � avesso a reformas ministeriais planejadas, n�o admite ser contrariado de jeito nenhum e tem por h�bito deixar um auxiliar "fritando" at� a press�o nas redes sociais se tornar insustent�vel.
Em 27 meses de governo, Bolsonaro j� fez mais trocas do que seus antecessores Dilma Rousseff (PT), Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em igual per�odo de seus respectivos mandatos. No mesmo intervalo, por exemplo, Dilma substituiu 22 ministros; Lula fez 13 mudan�as e Fernando Henrique, 8.
O caso mais simb�lico do estilo Bolsonaro de demitir foi protagonizado pelo ex-titular da Defesa Fernando Azevedo e Silva. O general foi removido do minist�rio em uma reuni�o de menos de cinco minutos com o presidente, na tarde de segunda-feira, no Pal�cio do Planalto.
"Preciso do seu cargo", disse Bolsonaro a Azevedo. Horas depois, ele tamb�m ordenou a troca dos comandantes do Ex�rcito, da Marinha e da Aeron�utica, consumada no dia seguinte. Em transmiss�o ao vivo pelas redes sociais, anteontem, o presidente afirmou que n�o falaria sobre a raz�o da troca na c�pula das For�as Armadas. "S� n�s sabemos o motivo. E morreu aqui", comentou ele, negando que esteja atr�s de alinhamento pol�tico.
Naquela segunda-feira, o presidente n�o s� dispensou Azevedo como fez outras cinco mudan�as. Expoente da ala ideol�gica, o chanceler Ernesto Ara�jo foi substitu�do pelo embaixador Carlos Aberto Franco Fran�a ap�s passar meses sob forte tiroteio, na esteira da desastrada condu��o da pol�tica externa, que dificultou a compra de vacinas em pa�ses como China, �ndia e Estados Unidos.
Bolsonaro tamb�m contemplou o Centr�o e p�s a deputada Fl�via Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo. Mas s� fez isso ap�s receber um ultimato do presidente da C�mara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que falou at� na possibilidade de o Congresso aplicar "rem�dios amargos", alguns deles "fatais".
Nessa dan�a das cadeiras, o general Luiz Eduardo Ramos, que ocupava a pasta, foi para a Casa Civil. Entrou na vaga do general Braga Netto, transferido para a Defesa. O presidente demitiu o chefe da Advocacia-Geral da Uni�o, Jos� Levi, porque ele se recusou a assinar uma a��o que o Executivo apresentou no Supremo Tribunal Federal contra toques de recolher determinados pelos governos da Bahia, do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul. Apesar das pondera��es de que a a��o n�o seria aceita, Bolsonaro n�o apenas n�o ouviu o ministro da AGU como depois o mandou embora.
Dona de temperamento explosivo, Dilma tamb�m n�o aceitava opini�es contr�rias. No primeiro ano de governo, em 2011, ela fez uma faxina que derrubou v�rios ministros de partidos do Centr�o, indicados por Lula. A ent�o presidente queria se contrapor ao padrinho pol�tico. "N�o se faz ranking de demiss�es. Isso n�o � Roma antiga", protestou ela, irritada com not�cias sobre as dispensas em s�rie.
Lula, por sua vez, n�o gostava de demitir amigos e s� o fazia depois de muita press�o. Foi assim com o ent�o ministro da Fazenda, Ant�nio Palocci - que se envolveu no esc�ndalo da quebra de sigilo banc�rio do caseiro Francenildo Costa, revelado pelo Estad�o - e com o ent�o titular das Cidades, Ol�vio Dutra, ambos do PT. Em 2005, na hora de dispensar Ol�vio, seu amigo de tr�s d�cadas, para entregar o cargo ao PP em troca de apoio na C�mara, Lula at� chorou.
Quando implicava, por�m, deixava o ministro em "banho maria", sem conversa, at� se irritar de vez. Em 2004, por exemplo, ele demitiu por telefone o ent�o ministro da Educa��o, Cristovam Buarque, que estava em f�rias em Portugal. "Quero ministro para apresentar resultado, n�o para ficar com tese acad�mica", esbravejou.
No governo Bolsonaro, o ent�o ministro da Sa�de Eduardo Pazuello foi desautorizado em p�blico. Em outubro, o presidente mandou que Pazuello cancelasse a compra de 46 milh�es de doses da Coronavac, chamada por ele de "vacina chinesa do Doria", numa refer�ncia ao governador Jo�o Doria, seu advers�rio pol�tico.
Para o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido da Secretaria de Governo ap�s se indispor com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o o h�bito do presidente de chamar a aten��o de auxiliares diante dos holofotes faz parte de um "problema comportamental". "Se voc� quer substituir um ministro, � s� conversar. N�o precisa ficar um m�s em �show� p�blico", disse Santos Cruz. "� preciso honestidade, e n�o esse sistema a� em que entra sempre uma mil�cia digital interferindo, no qual tudo vira esc�ndalo".
Ex-juiz da Lava Jato, S�rgio Moro pediu para sair do comando da Justi�a em abril do ano passado, ap�s meses levando "bola nas costas", como definiram seus aliados, e acusou Bolsonaro de interferir na Pol�cia Federal. Luiz Henrique Mandetta, por sua vez, preferiu ser demitido da Sa�de.
Mandetta disse ter percebido que sua sa�da era iminente quando veio a p�blico uma conversa entre o ministro da Secretaria-Geral Onyx Lorenzoni, ent�o na Cidadania, e o deputado Osmar Terra (MDB-RS), na qual os dois falavam sobre a demiss�o dele.
Naquele dia, Mandetta disse ter convidado Bolsonaro para acompanhar uma de suas entrevistas coletivas sobre covid-19. O presidente recusou, alegando que iria a uma padaria comer um sonho. Mandetta descobriu depois que era a mesma padaria, ao lado de sua casa, onde ele havia estado dias antes. "A� eu pensei: ser� que esses caras est�o me monitorando?", contou. Dias depois, Mandetta caiu. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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