
Mandetta deixa registrado na correspond�ncia que as orienta��es e recomenda��es do Minist�rio de Sa�de, pasta que comandava � �poca, embora embasadas em especialistas e autoridades da sa�de, n�o foram seguidas nem receberam apoio do governo.
Com esse documento, o ex-ministro da Sa�de dribla a tentativa do governo Bolsonaro, de coloc�-lo na posi��o de “c�mplice” ou co-part�cipe da estrat�gia inicial de condu��o da pandemia.
Ao mesmo tempo, Mandetta formaliza um fato amplamente conhecido, mas agora comprovado sob o crivo de uma comiss�o parlamentar de inqu�rito: Bolsonaro foi orientado em rela��o �s medidas adequadas ao enfrentamento da COVID-19, mas decidiu fazer o contr�rio.
Este � um fato que abra�a a acusa��o que paira sobre o governo Bolsonaro: adotou deliberadamente e com dolo a tese da imunidade de rebanho.
Casos n�o faltam e foram despejados por senadores da oposi��o: estimulou aglomera��es; recorreu ao Supremo Tribunal Federal para tentar suspender a��es de prefeitos e governadores no enfrentamento da doen�a; lan�ou a popula��o contra estes, porque adotaram medidas restritivas.
A oposi��o quer demonstrar que Bolsonaro incentivou as pessoas a se expor ao v�rus, sob a falsa seguran�a de que disporiam de uma esp�cie de “kit milagroso” – o chamado tratamento precoce, � base de cloroquina.
Sobre esta, um cap�tulo � parte. Mandetta reiterou o que j� havia abordado em seu livro: foi-lhe apresentada, em reuni�o no Pal�cio do Planalto, uma proposta de decreto presidencial para alterar a bula da hidroxicloroquina a fim de que o medicamento pudesse ser receitado para tratar a COVID-19.
Mandetta voltou a afirmar que Bolsonaro mantinha um assessoramento paralelo sobre a pandemia. Embora n�o tenha detalhado em seu depoimento na CPI, em entrevista ao Estado de Minas, em 6 de mar�o de 2021, Mandetta se estendeu sobre esse tema.
Segundo ele, a mesma ideologia de grupos internacionais que patrocinam mundo afora a reemerg�ncia do neonazismo e de outros grupos de extrema direita – que prop�em a ruptura da ordem democr�tica institucional e o desmanche do multilateralismo – fundamenta parte do governo de Jair Bolsonaro.
“O Brasil, hoje, � administrado pela internet e por pessoas que n�o fazem parte do governo. O Brasil est� sendo administrado pelo algoritmo”, afirmou ele ao EM.
No enfrentamento da COVID-19 n�o foi diferente.
N�o menos grave, as afirma��es de Mandetta que demonstram que foi um posicionamento ideol�gico, e n�o focado no combate ao novo coronav�rus, que norteou o comportamento do presidente da Rep�blica.
Segundo Mandetta, o comportamento do ex-ministro das Rela��es Exteriores Ernesto Ara�jo e dos tr�s filhos mais velhos do presidente dificultaram as negocia��es de insumos com a China, dos quais o Brasil era dependente.
O governo Bolsonaro est� preocupado. Por ora, conseguiu adiar o depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello, que alegou ter tido contato com pessoas contaminadas pela COVID-19.
Tenta, como pode mobilizar sua base minorit�ria na CPI, que n�o trouxe argumentos novos para al�m dos velhos fatos alternativos que frequentam as redes sociais bolsonaristas.
Procura tamb�m colar a pecha de “CPI pol�tica”, para desqualificar um desfecho, que antev�, n�o lhe ser� favor�vel.
Um grupo de estrategistas, entre os quais o ministro das Comunica��es, F�bio Faria, municia senadores com perguntas. Uma delas, inadvertidamente, foi enviada por este a Mandetta, que fez quest�o de pontuar o fato, quando o mesmo questionamento lhe foi feito pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI).
A CPI mostrou a que veio: vai investigar as a��es e omiss�es no enfrentamento ao coronav�rus, constituindo um ponto de inflex�o em narrativas que justificam o macabro marcador das mortes por COVID-19 no Brasil – que, at� 1º de julho, segundo proje��es do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de Washington, ter� ceifado a vida de 501.505 brasileiros no melhor dos cen�rios, 571.176 mil no pior deles.
Mandetta teve um longo dia – come�ou a depor no meio da manh� de ter�a-feira e somente terminou no in�cio da noite. Mas, pelo que afirmou o ex-ministro, o governo Bolsonaro ter� longas semanas pela frente.