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Estado de Minas IGREJA EVANG�LICA

Universal pressiona, mas mant�m pragmatismo e apoio a Bolsonaro ap�s conflito em Angola

As chances de a Igreja Universal abandonar Bolsonaro e se aliar a Lula s�o vistas com ceticismo, ao menos nesse momento, nos meios pol�ticos.


24/05/2021 08:13 - atualizado 24/05/2021 08:51

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), liderada pelo bispo Edir Macedo, deu sinais na �ltima semana de que poderia romper com o presidente Jair Bolsonaro em protesto contra a��es do Minist�rio das Rela��es Exteriores, que n�o teria dado apoio � institui��o em um conflito com o governo de Angola e religiosos locais.

Membros da Universal fizeram cr�ticas p�blicas ao comportamento do Itamaraty, mas esse gesto foi visto por parlamentares no Congresso como uma "cortina de fuma�a". Seria "um jogo de p�quer", apenas uma forma de press�o, na avalia��o de pol�ticos e religiosos ouvidos pela BBC News Brasil.

Edir Macedo quis demonstrar a sua contrariedade com Bolsonaro no epis�dio, mas nem por isso romperia definitivamente com o presidente de uma hora para outra. Tampouco se aliaria nesse momento � candidatura do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) ao Planalto, em 2022, como se especulou nos �ltimos dias.

O te�logo protestante F�bio Py, professor do programa de p�s-gradua��o em Pol�ticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense, afirma existir conversas entre membros da Universal e do PT, mas envolvendo os escal�es inferiores da igreja e do partido.

Avalia, por�m que o descolamento do poder, por ora, est� totalmente fora dos planos de Macedo. At� por envolver fatores importantes, como as receitas de publicidade da TV Record, a emissora do bispo. "Temos milh�es de reais para o financiamento direto de campanhas de propaganda para a Record no governo Bolsonaro, via Secom (Secretaria de Comunica��o) . Como ela recebe por isso, n�o vai abdicar dessas verbas. N�o vai sair de uma forma t�o expl�cita do governo agora", aponta o te�logo.

As amea�as de um poss�vel rompimento entre Macedo e Bolsonaro t�m como pano de fundo os problemas enfrentados pela Universal em Angola desde o final de 2019, quando mais de 300 bispos e pastores locais se rebelaram contra a dire��o brasileira da igreja.

Esses religiosos divulgaram um manifesto com den�ncias graves contra os dirigentes brasileiros da institui��o, como lavagem de dinheiro, expatria��o de capitais, sonega��o, racismo e imposi��o de vasectomia aos pastores. Em junho do ano passado, o bispos e pastores tomaram o controle dos templos da Universal.

A partir da�, as decis�es de autoridades angolanas foram sempre favor�veis aos religiosos locais. Macedo buscou o apoio de Bolsonaro, mas considerou que seu pedido n�o foi atendido de maneira adequada.

No �ltimo dia 7 de maio, o Servi�o de Investiga��o Criminal de Angola acusou quatro l�deres da IURD - entre eles o ex-homem forte da TV Record no Brasil, Honorilton Gon�alves -, por lavagem de dinheiro e associa��o criminosa.


Igreja Universal do Reino de Deus iniciou suas operações em Angola em 1992 e tem mais de 230 templos no país(foto: Divulgação/IURD)
Igreja Universal do Reino de Deus iniciou suas opera��es em Angola em 1992 e tem mais de 230 templos no pa�s (foto: Divulga��o/IURD)

As den�ncias foram encaminhadas � Justi�a e, em breve, os quatro representantes da igreja dever�o ser julgados. A Universal no Brasil nega todas as den�ncias e diz estar sendo v�tima de persegui��o por parte do governo e da Justi�a angolana. Afirma ainda que os religiosos rebeldes do pa�s africano seriam "ex-bispos e ex-pastores afastados por den�ncias de desvios e irregularidades".

O governo de Angola tamb�m suspendeu as atividades da TV Record no pa�s e decidiu n�o renovar mais os vistos de mission�rios brasileiros - entre eles bispos, pastores e obreiros -, que n�o aceitaram a nova dire��o da igreja.

Sem o v�nculo com a denomina��o, esses religiosos decidiram permanecer ilegalmente no pa�s e acabaram deportados. At� a ter�a-feira (19/05), 30 deles haviam retornado ao Brasil. Segundo a Universal, o total deve chegar a 100. Os primeiros pastores a voltar foram recebidos no aeroporto de Guarulhos como her�is pelo bispo Edir Macedo.

Diante de c�meras da TV Record, esses religiosos afirmaram ter passado fome e frio e nem sequer terem sido autorizados a recolher seus pertences em casa, antes de entrar no avi�o para a viagem.

A Record fez cr�ticas duras ao governo Bolsonaro em seus telejornais. Disse que o Minist�rio das Rela��es Exteriores tratou o assunto com descaso. "O governo brasileiro, que deveria proteger os brasileiros em Angola, falhou nessa miss�o. Foi omisso e n�o atuou de forma ativa para evitar a deporta��o", prosseguiu.

Tamb�m presente na recep��o aos deportados no aeroporto de Guarulhos, o bispo Renato Cardoso, genro de Edir Macedo e hoje o n�mero dois na hierarquia da Universal, foi al�m: "O que mais no indigna n�o � o que est� hoje em Angola, mas a aus�ncia de autoridades brasileiras para interceder pelos pastores brasileiros em um pa�s estrangeiro. At� quando o governo brasileiro vai ficar calado e passivo diante dessa situa��o?", questionou Cardoso.

"Esse � o protesto do povo crist�o, do povo evang�lico, que apoiou este governo, que faz parte da base deste governo e agora recebe em troca esta omiss�o. � muito triste. � decepcionante para o povo crist�o do Brasil", reclamou Cardoso.

A Frente Parlamentar Evang�lica no Congresso endossou as reclama��es da Universal em reuni�o no Itamaraty, no dia 17. Os deputados evang�licos exigiram do Minist�rio das Rela��es Exteriores um posicionamento formal em favor da igreja de Macedo. No dia seguinte, em um encontro com Bolsonaro no Pal�cio do Planalto, pediram ao presidente um maior di�logo com os congressistas ligados �s igrejas neopentecostais, que ajudaram a eleg�-lo.

Bolsonaro chegou a enviar uma carta ao seu colega de Angola, Jo�o Louren�o, solicitando "prote��o" aos brasileiros da Universal em Angola. O embaixador do Brasil no pa�s africano, Rafael Vidal, passou a acompanhar o caso de perto.

O governo brasileiro tem deixado claro que n�o pode interferir em decis�es de outro pa�s. A avalia��o nos bastidores � que Bolsonaro, estrategicamente, decidiu manter certa dist�ncia do conflito em virtude de a Procuradoria Geral de Angola ter conclu�do que h� ind�cios de crimes e formalizado as den�ncias contra a dire��o brasileira da igreja.

Edir Macedo foi um dos principais apoiadores de Bolsonaro na reta final da campanha de 2018. Colocou, inclusive, a Record � disposi��o do candidato. Mas at� �s v�speras do primeiro turno, o candidato de Macedo � presid�ncia era o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Ao concluir que o tucano n�o deslancharia, migrou para a campanha do ex-capit�o.

Apesar da insatisfa��o moment�nea, a c�pula da Universal pesar� na balan�a os pr�s e os contras de um rompimento com o governo. Essa alian�a, afinal, al�m de cargos no governo e das verbas para a Record, garante benef�cios em decis�es do Congresso, por exemplo, sobre temas importantes como a anistia de d�vidas de igrejas com a Receita Federal.


A Universal é liderada pelo bispo brasileiro Edir Macedo e está presente hoje em mais de 95 países(foto: Alan Santos/PR)
A Universal � liderada pelo bispo brasileiro Edir Macedo e est� presente hoje em mais de 95 pa�ses (foto: Alan Santos/PR)

As denomina��es religiosas j� s�o isentas de impostos. Mas v�rias igrejas conseguiram a anistia de d�vidas milion�rias oriundas de multas da Receita devido a artif�cios utilizados, por exemplo, para o n�o pagamento de taxas, ao transferirem recursos para os seus dirigentes.

Em mar�o, parlamentares se posicionaram contra um veto do pr�prio Bolsonaro para anular essas d�vidas. O presidente havia vetado parcialmente o projeto, mas orientou os parlamentares de sua base a rejeitarem o seu pr�prio veto.

As chances de a Igreja Universal abandonar Bolsonaro e se aliar a Lula s�o vistas com ceticismo, ao menos nesse momento, nos meios pol�ticos. No passado, a Igreja Universal demonizava o PT. Seus bispos e pastores chamavam o dirigente petista de "satan�s".

Depois, a Universal mudou o discurso. Ajudou Lula, em 2002, ao viabilizar a candidatura do empres�rio Jos� Alencar (j� falecido), como seu vice, por meio do PL, partido que abrigava os bispos e pastores da Universal. Alencar depois foi candidato � reelei��o j� pelo PRB, o atual Republicanos, o partido da igreja.

"Eles (da Universal) n�o d�o cavalo de pau. T�m muitos interesses hoje no governo", avalia o deputado paulista Paulo Teixeira, secret�rio-geral do PT e vice-l�der do partido na C�mara

"� um fato muito recente essas cr�ticas. N�o h�, por exemplo, nenhuma diverg�ncia explicitada em vota��es que comprove um rompimento. Seria um salto muito grande, essa mudan�a repentina", diz Teixeira, ligado a grupos "progressistas" da Igreja Cat�lica.

Ele lembra tamb�m que colegas seus do Republicanos, o partido ligado � Universal, n�o deram qualquer sinal de poss�veis mudan�as em seus posicionamentos no Congresso.

O ex-deputado e ex-presidente do PT Jos� Geno�no confirmou que Lula tem conversado com evang�licos em busca de apoio, e buscado uma aproxima��o com grupos neopentecostais. Mas esses encontros, segundo ele, t�m sido realizados com representantes das bases dessas igrejas.

"N�o � com os l�deres, com as c�pulas. Essa f�rmula j� ficou provada que n�o d� certo", avaliou. "Entendo que nossa experi�ncia e rela��o com os evang�licos n�o foi boa, por ter se dado com as c�pulas. No debate sobre direitos humanos, uni�o civil e interrup��o da gravidez, ficamos na retranca, na defensiva. E t�nhamos de discutir, por exemplo, o preconceito contra as comunidades LGBT."

Na vis�o do te�logo F�bio Py, a Universal � hoje a institui��o religiosa mais pragm�tica do pa�s. Para a igreja de Edir Macedo, "n�o importa quem vai assumir o poder, mas sim que ela esteja junto construindo alian�as e as condi��es para se manter � frente do governo", diz Py.

O importante, acentua, "� que ela esteja junto construindo a governan�a". Na avalia��o de Py, nada impedir� que no futuro Macedo volte a se reaproximar do PT, caso Bolsonaro desande de vez e Lula tenha chances reais de vit�ria. O pragmatismo extremo, assim, n�o deixaria Macedo, mais uma vez, longe do poder.

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