Aten��o senhor (a) editor (a): mat�ria exclusiva publicada no Portal do Estad�o em 21/5/2021
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O Minist�rio do Desenvolvimento Regional priorizou, em 2020, a destina��o de verbas ao Rio Grande do Norte, base pol�tica do ministro Rog�rio Marinho. No ano em que Marinho assumiu o atual cargo, o governo federal assinou contratos para enviar um total de R$ 1,2 bilh�o ao Estado, que passou a ser o primeiro no ranking da pasta. O dinheiro ser� aplicado em obras de porte, como a constru��o de adutoras e parques e�licos, na compra de tratores agr�colas, constru��o de galp�es, cisternas e asfaltamento de ruas e estradas.
Ao assumir a pasta em fevereiro do ano passado, Rog�rio Marinho aumentou em 223% os repasses ao seu Estado, em rela��o a 2019. Os valores incluem verbas de fontes distintas, como os fundos de desenvolvimento e or�amento da Uni�o, inclusive emendas parlamentares, e est�o sendo aplicadas de formas variadas, como contratos de repasses, termos de execu��o descentralizada, conv�nios e empr�stimos.
No primeiro ano da gest�o de Marinho, o investimento do minist�rio no Rio Grande do Norte superou a soma do que receberam os vizinhos Cear� (R$ 650 milh�es) e Para�ba (R$ 315 milh�es). Considerando todos os Estados e o Distrito Federal, Sergipe, tamb�m no Nordeste, foi o que levou a menor parcela: R$ 28 milh�es.
Questionado sobre o volume de recursos destinado a sua base eleitoral, o ministro disse que "n�o houve favorecimento do Rio Grande do Norte em detrimento dos demais Estados". O minist�rio tamb�m ponderou que uma parcela dos recursos (R$ 695 milh�es do governo federal) faz parte de seis contratos de financiamento a empresas privadas para instala��o de parques e�licos, por meio da Superintend�ncia de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Rog�rio Marinho comanda um feudo do Centr�o, mobilizado pelo Pal�cio do Planalto para atender demandas de parlamentares do bloco. O segundo Estado que mais recebeu recursos do Desenvolvimento Regional em contratos referentes ao ano passado foi o Piau� (R$ 863 milh�es), do senador Ciro Nogueira (Progressistas), um dos parlamentares aliados do presidente Jair Bolsonaro. S�o Paulo vem na terceira posi��o (R$ 800 milh�es).
Ao mesmo tempo que tocou verbas tradicionais, Marinho atuou tamb�m na distribui��o do dinheiro do or�amento secreto, revelado pelo Estad�o, uma outra fonte de recursos do governo. O "tratora�o", como o caso ficou conhecido, foi um esquema criado pelo governo Bolsonaro, em 2020, para atender deputados e senadores com indica��o de recursos das emendas de relator-geral (chamadas de RP9) em troca de apoio no Congresso. As mudan�as na emenda que possibilitaram a enxurrada de R$ 3 bilh�es em verbas s� da pasta do Desenvolvimento Regional foram gestadas, em acordo com o Congresso, no Planalto, pelo ent�o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, hoje na Casa Civil.
Nos repasses gerais do Minist�rio do Desenvolvimento Regional ao Rio Grande do Norte, R$ 905 milh�es j� foram empenhados, mas apenas R$ 190 milh�es, efetivamente executados. Os dados s�o divulgados pelo pr�prio minist�rio, no painel "carteira de investimentos", e dizem respeito apenas a verbas do governo federal. Se consideradas as contrapartidas de munic�pios, o volume de investimentos sobe para R$ 1,5 bilh�o. Neste ano, at� agora s� houve contratos assinados com Distrito Federal, S�o Paulo, Sergipe e Goi�s, conforme os dados do painel.
Loteamento
A pasta do "tratora�o" teve os cargos loteados entre apadrinhados do DEM, PL, Republicanos e Progressistas, al�m de um setor do PSDB sintonizado ao Pal�cio do Planalto. O ministro � um dos principais "inauguradores de obras" de Bolsonaro e roda Estados, especialmente do Nordeste, reduto do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva.
Originado pela jun��o dos antigos minist�rios das Cidades e da Integra��o Nacional, a pasta comandada por Rog�rio Marinho conta com cinco grandes secretarias. A maior delas, a da Mobilidade e Desenvolvimento Regional Urbano, a chamada "Secretaria do Tratora�o", atrai deputados e senadores pela compra de tratores para as prefeituras, revelada pelo Estad�o.
O chefe � o advogado pernambucano Tiago Pontes Queiroz, acostumado aos meandros burocr�ticos do governo, indicado por deputados do Republicanos, entre os quais S�lvio Costa Filho (PE). Antes, Queiroz tamb�m exercia cargo apadrinhado politicamente na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que opera o metr� em Recife (PE), e � vinculada ao minist�rio. Abaixo dele, despacham tr�s diretores, um ligado ao pr�prio Marinho e outros dois ligados a parlamentares influentes no Centr�o, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, e o deputado Wellington Roberto (PB), l�der da bancada do Partido Liberal, homem de confian�a do ex-deputado mensaleiro Valdemar Costa Neto.
De todos, a escolha mais pessoal de Marinho foi o secret�rio de Seguran�a H�drica, o engenheiro S�rgio Luiz Costa, indicado ao ministro pelo presidente da Codevasf, Marcelo Moreira. Costa antes estava na mesma autarquia, e era ligado ao senador tucano Roberto Rocha (MA), um bolsonarista. Marinho tem especial interesse nas obras h�dricas para o semi�rido nordestino, segundo pessoas pr�ximas. J� o secret�rio de Saneamento � o economista tucano Pedro Ronald Maranh�o Braga Borges, indicado pelo senador Roberto Rocha (PSDB-MA), que chegou a pedir a abertura de uma CPI para apurar o or�amento secreto.
Elei��es
Al�m de Marinho, o Rio Grande do Norte � reduto pol�tico do ministro das Comunica��es, Fabio Faria (PSD), deputado licenciado e filho do ex-governador Robinson Faria. Atualmente � governado pela ex-senadora F�tima Bezerra (PT), aliada do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. Circula nos bastidores da pol�tica potiguar, a alian�a de direita, patrocinada por Bolsonaro, seria formada por Marinho como candidato a governador e Fabio Faria a senador. O pai dele, ex-governador Robinson Faria, candidato a deputado federal. Por�m, Marinho ainda n�o revela seus planos. Ele tem dito, publicamente, que seu futuro pol�tico est� amarrado ao de Bolsonaro e que decidir� sua candidatura em di�logo direto com o presidente.
O atual ministro do Desenvolvimento Regional pediu desfilia��o do PSDB desde que decidiu ingressar no governo Bolsonaro, em 2019, como secret�rio de Previd�ncia e Trabalho do ministro da Economia, Paulo Guedes, hoje seu desafeto. Ele ainda tem familiares na legenda. E foi um dos que apoiaram a filia��o do prefeito de Natal, �lvaro Dias, que estava no MDB, em 2020. Queridinho de empres�rios industriais, Marinho � frequentemente chamado por Guedes de "desleal" e "fura-teto", dado o �mpeto por investimentos em grandes obras e a defesa de que o Estado lidere a retomada econ�mica, estimulando gastos em infraestrutura.
Marinho assumiu no governo Michel Temer uma tarefa que poucos parlamentares topariam: relatar a reforma trabalhista, pauta impopular, que foi aprovada e lhe custou a impopularidade �s v�speras da elei��o de 2018. Marinho ainda chegou a propor outra, igualmente controversa, a reforma dos planos de sa�de. O pre�o chegou. Ele n�o obteve votos suficientes para se reeleger deputado federal. Em 2012, ele n�o se elegeu prefeito de Natal, na �nica disputa de cargo majorit�rio que tentou. Por isso, aliados avaliam que ele ainda vai testar sua viabilidade eleitoral, sem aceitar a press�o de Faria - convertido ao bolsonarismo, o ministro das Comunica��es deixar� o PSD para se filiar ao Progressistas.
POL�TICA