O cientista pol�tico Gl�ucio Ary Dillon Soares morreu, nesta segunda-feira, dia 14, de complica��es decorrentes da covid-19. Tinha 86 anos. Um dos mais importantes pesquisadores sobre a ditadura militar brasileira, ele coordenou o projeto de mem�ria oral da Funda��o Getulio Vargas (FGV) sobre o golpe de 1964, a repress�o e a abertura pol�tica com o Centro de Documenta��o da Funda��o, o CPDoc.
"O que devia ser uma pesquisa qualitativa para ilustrar uma reflex�o sobre autoritarismo militar acabou virando um grande projeto sobre mem�ria militar, o maior que o Pa�s teve at� ent�o e o �nico desse g�nero entre os pa�ses vizinhos que sofreram ditaduras similares. Produzimos e organizamos v�rios livros juntos, escrevemos artigos e formamos pessoas em nossa equipe de trabalho", escreveu, nesta segunda, em uma rede social, a cientista pol�tica Maria Celina D'Araujo, ao lado do antrop�logo Celso Castro, ambos colegas de Soares.
Filho de um contador e de uma professora, Soares fez carreira em universidades fora do Brasil, lecionando em Harvard, na Ucla e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), na University of Florida, nos EUA, e na Universidad Aut�noma de Mexico. Foi quando estava na Florida que procurou, no in�cio dos anos 1990, a professora Maria Celina, ent�o na FGV. "Queria fazer um projeto de pesquisa sobre a ditadura militar e tinha a ideia de conversar com os militares que exerceram o poder, entender a ditadura por dentro, suas contradi��es e sua unidade formal para entrar e sair do regime em ordem unida. Tinha conseguido um pequeno financiamento nos Estados Unidos e come�amos a preparar nossos planos que mudaram muito com o andar do trabalho", contou Maria Celina, referindo-se ao amigo.
Dillon Soares e seus companheiros criaram o maior banco de dados com depoimentos de militares do Pa�s, uma refer�ncia para os estudos sobre essa parte da burocracia estatal decisiva para a compreens�o da Rep�blica. Trata-se de fonte �nica sobre o regime; s� mais de uma d�cada depois, a Biblioteca do Ex�rcito tentou seguIr o exemplo, mas sem o mesmo cuidado acad�mico. "Era uma voz sempre presente a dizer que t�nhamos que testar tudo antes de afirmar ou concluir. Rigor absoluto com a metodologia", escreveu Maria Celina.
Depois do projeto sobre os militares, Dillon Soares dedicou-se a pesquisas sobre a viol�ncia no Brasil. "Agregou-se ao grupo de ativistas que fizeram a bem-sucedida campanha contra mortes no tr�nsito em Bras�lia, dedicou-se ao estudo da viol�ncia interpessoal e policial no Brasil e pesquisou muito a esse respeito", disse ainda Maria Celina.
O professor havia conclu�do recentemente, com sucesso, o tratamento para um c�ncer. "Mesmo com a aridez do mundo acad�mico, tornou-se um militante da plenitude da vida de uma maneira intimista, sens�vel: falando de dor, de esperan�a e de f�. Mais uma pessoa idosa, produtiva, com sa�de, que mesmo vacinada, foi acometida pela covid.", completou Maria Celina.
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