O policial militar Luiz Paulo Dominguetti Pereira afirmou � CPI da Covid que o deputado Luis Miranda (DEM-DF) tentou negociar a compra de vacinas contra a covid-19 com a empresa Davati Medical Supply. A negocia��o � investigada pela comiss�o ap�s Dominguetti ter dito, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que recebeu um pedido de propina do ex-diretor de Log�stica do Minist�rio da Sa�de Roberto Ferreira Dias, exonerado do cargo nesta quarta-feira, 30. Presente na sess�o ap�s ser citado, Miranda contestou a vers�o.
"O Christiano (Alberto Carvalho, representante da Davati) me relatava que volta e meia tinha parlamentares, n�o sei quem, o procurando, e quem mais o incomodava era o deputado Lu�s Miranda, o mais insistente com a compra, negocia��o de vacinas", disse o policial.
Para comprovar a negocia��o, Dominguetti apresentou � CPI um �udio em que Miranda afirma ter um "potencial comprador e com potencial de pagamento instant�neo". Em um dos trechos, na vers�o do policial, o deputado diz que as negocia��es anteriores frustradas haviam desgastado "seu irm�o", o que seria uma refer�ncia a Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe do setor de importa��o do Minist�rio da Sa�de que denunciou suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.
No �udio, por�m, a express�o "meu irm�o" utilizada por Miranda soa como uma g�ria que o deputado repete v�rias vezes ao longo da conversa. Na mensagem tamb�m n�o h� men��o a qual produto estava sendo negociado, nem para quem.
"Eu n�o vou mais perder tempo com esse comprador, porque desgastou muito, meu irm�o, nos �ltimos 60 dias. � muita conversa fiada no mercado e a� eu nem me sinto confort�vel", diz o deputado na mensagem.
A grava��o, de acordo com Dominguetti, n�o foi enviada a ele, mas ao representante oficial da Davati no Brasil, Christiano Alberto Carvalho. O policial disse que recebeu o �udio ap�s o depoimento de Luis Miranda na CPI semana passada.
O �udio provocou controv�rsia na CPI. Os senadores suspeitaram da tentativa de colocar Miranda, que denunciou irregularidades no processo de aquisi��o de vacinas no Minist�rio da Sa�de, como algu�m que tamb�m teria intermediado negocia��es. "N�o venha achar que aqui todo mundo � ot�rio, nem pateta. Veja bem qual � seu papel aqui. Do nada surge um �udio do deputado Luis Miranda. Chap�u de ot�rio � marreta, irm�o", afirmou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-BA).
Tamb�m chamou a aten��o dos parlamentares da CPI o fato de o senador Fl�vio Bolsonaro (Patriota-RJ), que n�o integra a comiss�o, sair em defesa do policial que denunciou corrup��o no governo. Em resposta a Aziz, Fl�vio disse que "o �udio � importante". Ao que o presidente da comiss�o reiterou que Miranda foi convocado para falar de novo � CPI e completou: "Se o deputado Lu�s Miranda est� envolvido com maracutaia, pegou pernada, isso � problema dele, n�o � nosso".
Deputado contesta vers�o
Ap�s ser citado, Miranda foi at� a sala onde a CPI ouve Dominguetti e teve de ser contido por colegas e pela Pol�cia Legislativa do Senado. Em entrevista a jornalistas logo em seguida, disse que o policial mentiu. Segundo o deputado, a mensagem tratava de aquisi��o de luvas, e n�o de vacinas, e foi enviada em outubro de 2020. "Trata de fornecimento de luvas entre uma empresa privada e a minha empresa privada", disse Miranda. "A inten��o � clara desde o princ�pio, � descredibilizar as testemunhas que de fato trouxeram evid�ncia que existe corrup��o dentro do Minist�rio da Sa�de."
Ele foi levado a uma sala reservada para conversar com alguns membros da CPI. O vice-presidente da comiss�o, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), determinou a reten��o do celular de Dominguetti para per�cia pela Pol�cia do Senado, ap�s um pedido do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da investiga��o.
Como revelou ontem o Estad�o, a Davati, empresa que Dominguetti afirmou representar, chegou ao governo por meio de um oficial da reserva do Ex�rcito que integra a chamada "Abin paralela", grupo de informantes que Bolsonaro afirma manter para n�o depender dos �rg�os oficiais de informa��o. O coronel Roberto Criscuoli disse � reportagem ter sido respons�vel por fazer a ponte entre a Davati Medical Supply e o Minist�rio da Sa�de. A empresa nega que o policial seja seu representante.
Em e-mail � reportagem, por�m, o respons�vel pela Davati nos Estados Unidos, Herman C�rdenas, admitiu que o nome de Dominguetti foi inclu�do em comunica��es com o governo brasileiro sobre oferta de vacinas da AstraZeneca apresentada pela companhia. O nome de Dominguetti foi inclu�do "a pedido", de acordo com C�rdenas, sem explicar quem teria feito a solicita��o.
"Inclu�mos o nome do Sr. Dominguetti no FCO (oferta) que apresentamos ao governo brasileiro porque nos pediram e presumimos que ele fosse representante deles", afirmou C�rdenas, por e-mail.
"A hist�ria tem focinho de estelionato, rabo de estelionato, p� de estelionato. Ser� que � estelionato? Vamos descobrir, mas chama aten��o a repeti��o do procedimento do governo cheio de amadorismo, privil�gio �s rela��es de amizade e aos velhos esquemas. Manter o foco � essencial", afirmou Alessandro Vieira (Cidadania-SE), suplente na CPI.
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