'Fascismo' � brasileira tem abrigo no PTB

Depois do trabalhismo dos anos pr�-1964 e do fisiologismo posterior � redemocratiza��o, o integralismo - vers�o brasileira do fascismo - chegou ao PTB. Fundada em 1945 por Get�lio Vargas, a sigla foi a casa das duas primeiras gera��es trabalhistas, inclusive do presidente Jo�o Goulart, mas est� cada vez mais radicalizado � direita.

Seu presidente, o ex-deputado Roberto Jefferson - condenado e preso por corrup��o no mensal�o -, personifica hoje o bolsonarismo: adotou um discurso armamentista, religioso e anticomunista. Um dos marcos da guinada � direita do partido � a recep��o, em suas fileiras, a grupos declaradamente fascistas. No m�s passado, integrantes da Frente Integralista Brasileira (FIB), entre eles o presidente Mois�s Jos� Lima, filiaram-se ao PTB em S�o Paulo. O grupo afirmou em comunicado que a sigla se converteu numa casa para os integralistas que quiserem disputar elei��es no ano que vem e em 2024.

Fundado em 1932 pelo jornalista Pl�nio Salgado, o integralismo imitava o fascismo italiano, de Benito Mussolini. "Por mais contradit�rio que pare�a a alguns, o fato de (o PTB) ter certa liga��o no passado com Get�lio Vargas, a realidade � que a �nica liga��o � hist�rica: desde sua refunda��o nos anos 80 at� recentemente, o partido seguiu certo pragmatismo que j� era observado no PTB de d�cadas anteriores", disse em seu site a Frente Integralista. "Tendo no �ltimo ano uma revis�o doutrin�ria intensa, assumiram-se como bandeiras estatut�rias a defesa da vida, o patriotismo, a fam�lia tradicional e os valores crist�os."

Autor do livro O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo em parceria com Leandro Pereira Gon�alves, o historiador Odilon Caldeira Neto diz que os grupos neointegralistas sempre buscam aproxima��o com algum partido pol�tico estabelecido. No Brasil essa pr�tica come�ou, afirma, com o antigo Prona, de En�as Carneiro, passou pelo PRTB de Levy Fidelix e agora d� sinais de que tentar� o mesmo com o PTB. "Parece que, nesse sentido, o Roberto Jefferson virou o novo Levy. Foi Levy, na elei��o de 2010, quem ajudou a popularizar certas ideias radicais. Com a emerg�ncia das chamadas novas direitas, ele e o PRTB fizeram um grande esfor�o em prol da sua radicaliza��o", afirmou Neto.

O historiador estima que a FIB n�o tenha mais que algumas centenas de militantes, o que tamb�m � uma caracter�stica de grupos neofascistas de outros pa�ses. Eles n�o tentam ser uma organiza��o de massa - diferentemente do passado, quando protagonizavam desfiles militarizados, uniformizados de verde e com bra�adeiras com o sigma. Preferem se aproximar de grupos mais amplos, que tenham poder. Nos anos 50 e 60, chegaram a se reorganizar no Partido de Representa��o Popular (PRP), sem express�o.

Interlocutor da FIB com a institucionalidade, o advogado Paulo Fernando Melo da Costa, ex-secret�rio especial da ministra Damares Alves (Mulher, Fam�lia e Direitos Humanos), atuou pela soltura dos militantes bolsonaristas Sara Giromini e Oswaldo Eust�quio, acusados de atentar contra a democracia. Foi Costa quem articulou as filia��es de integralistas ao PTB.

Caldeira Neto considera que os valores morais defendidos pelos neointegralistas s�o os mesmos de segmentos maiores do conservadorismo brasileiro, o que os aproxima do bolsonarismo. Mas v�o al�m da defesa um tanto quanto gen�rica da "fam�lia" e cultivam vis�es de Estado inspiradas no fascismo. "Defendem um certo tipo de organiza��o da sociedade: integral, antidemocr�tica, antiparlamentarista; a extin��o dos partidos pol�ticos, o controle da imprensa e assim por diante. Inspiram-se de forma muito afei�oada no modelo de sociedade integral do tempo do fascismo."

Em nota, a FIB nega ser vers�o brasileira do fascismo, ao contr�rio do que dizem historiadores. "Diversas cr�ticas ao fascismo e movimentos diversos foram feitas - durante e inclusive antes mesmo da AIB - por Pl�nio Salgado", diz a nota, assinada por Lucas Carvalho, secret�rio-geral da FIB. A Frente alega o PTB n�o passa a ser necessariamente a casa dos neointegralistas, que est�o espalhados por outras legendas.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.