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Estado de Minas AN�LISE

Bolsonaro tem mais chance que Trump de p�r elei��o em xeque, diz especialista em extrema-direita

Para Benjamin Teitelbaum, que estuda movimentos nacionalistas contempor�neos e escreveu livro sobre Steve Bannon e Olavo de Carvalho, ambiente atual no Brasil e caracter�sticas hist�ricas tornam contesta��o do sistema eleitoral por Bolsonaro uma amea�a real � democracia.


07/08/2021 07:07 - atualizado 07/08/2021 20:07

Para Benjamin Teitelbaum, especialista em movimentos nacionalistas contemporâneos, ambiente atual no Brasil e características históricas tornam contestação do sistema eleitoral por Bolsonaro uma ameaça real à democracia(foto: Reuters)
Para Benjamin Teitelbaum, especialista em movimentos nacionalistas contempor�neos, ambiente atual no Brasil e caracter�sticas hist�ricas tornam contesta��o do sistema eleitoral por Bolsonaro uma amea�a real � democracia (foto: Reuters)


O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) parece seguir a cartilha de Donald Trump ao mobilizar esfor�os para desacreditar o sistema eleitoral, mas, na vis�o do professor de Rela��es Internacionais Benjamin Teitelbaum, o brasileiro tem mais chances de sucesso do que o ex-presidente americano.

Professor da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, Teitelbaum � autor do livro Guerra pela Eternidade (Unicamp, 2020), sobre a corrente de pensamento que inspirou Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump, e Olavo de Carvalho, o guru do bolsonarismo radicado no Estado americano da Virg�nia.

Em entrevista � BBC News Brasil, Teitelbaum disse considerar Bolsonaro uma amea�a mais concreta � democracia que Trump. Para ele, o presidente brasileiro parece ter uma estrat�gia mais elaborada, semeando um ano antes da elei��o a ideia de que as urnas eletr�nicas poderiam ser fraudadas.

Quando Trump se viu diante da iminente derrota na elei��o de 2019, ele come�ou a fazer, sem provas, acusa��es de fraudes e erros na contagem dos votos. O sistema de vota��o americano � em papel. Em 2018, Bolsonaro j� lan�ava d�vidas sobre a seguran�a do sistema brasileiro, que � eletr�nico. Mas, neste ano, refor�ou os ataques �s urnas eletr�nicas, incentivando protestos e sugerindo que, se o sistema n�o for mudado, pode n�o haver elei��o no ano que vem.

"Acho que os dois (Bolsonaro e Trump) tinham o objetivo de criar oportunidades de manobra diante de um eventual resultado eleitoral desfavor�vel. Mas, no caso de Trump, sinto que ele estava improvisando, n�o tinha um plano claro", disse. "No caso de Bolsonaro, h� uma tentativa mais s�ria e sincera de gerar um clima de desconfian�a na popula��o. O que ele est� fazendo n�o � tentar encontrar uma abertura legal para rejeitar um resultado eleitoral, mas sim criar um ambiente pol�tico, uma abertura pol�tica."

Especialista na extrema-direita e estudioso de movimentos populistas e nacionalistas contempor�neos, Teitelbaum avalia que a ideia de Bolsonaro � preparar terreno e fomentar apoio popular para, em 2022, colocar em xeque o resultado da elei��o se for derrotado.


Benjamin Teitelbaum estudou o pensamento político de Steve Bannon(foto: Arquivo pessoal)
Benjamin Teitelbaum estudou o pensamento pol�tico de Steve Bannon (foto: Arquivo pessoal)

"Acho que ningu�m gosta de dizer que est� dando um golpe, ainda mais algu�m que j� est� no poder. Mas sim. Trata-se de uma forma de criar oportunidades pol�ticas para rejeitar o resultado de uma vota��o", disse � BBC News Brasil.

Segundo o professor americano, tr�s caracter�sticas tornam o Brasil mais suscet�vel que os Estados Unidos � estrat�gia usada por Trump e por Bolsonaro de espalhar, sem provas, a ideia de fraudes nas elei��es: o fato de ser uma democracia mais recente; a postura amb�gua das For�as Armadas; e a exist�ncia de "ambiente" para que autoridades e apoiadores do presidente defendam abertamente regimes e ideias antidemocr�ticas, como o fechamento do Supremo.

"Os Estados Unidos n�o t�m essa hist�ria recente de mobiliza��o dos militares na pol�tica dom�stica. Esse passado recente de ditadura militar pode produzir mais tens�o no caso brasileiro. A resposta pode ser maior vigil�ncia por parte dos brasileiros ou, pelo contr�rio, maior receptividade a uma interven��o militar", disse Teitelbaum.

A BBC News Brasil entrou em contato com a assessoria de imprensa do Pal�cio do Planalto para comentar as declara��es de Teitelbaum, que n�o respondeu at� a publica��o desta reportagem.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil - Que semelhan�as ou diferen�as existem entre a contesta��o de Trump ao resultado da elei��o presidencial dos Estados Unidos e os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral do Brasil?

Benjamin Teitelbaum - 
� primeira vista, parece ser uma situa��o an�loga, em que voc� tem um l�der estruturando o palco, plantando a semente da d�vida sobre uma elei��o que parece cada vez mais desfavor�vel para ele, se levarmos em considera��o as pesquisas de opini�o. Trump certamente estava na mesma situa��o. No entanto, o que mais me chama a aten��o s�o as diferen�as entre as duas situa��es. No caso do Brasil, estamos lidando com uma democracia mais jovem e, ao mesmo tempo, com um processo eleitoral que � melhor que o dos Estados Unidos. Voc� tem mais pessoas votando e voc� conta os votos muito mais rapidamente. Ent�o, h� marcadores democr�ticos que apontam o Brasil como um caso menos problem�tico quanto ao risco de fraude eleitoral.


Ent�o, temos uma democracia mais jovem, um robusto padr�o de participa��o democr�tica e temos um l�der que tem falado sobre golpes e tomada de poder por militares h� muito tempo e que transformou em h�bito celebrar a ditadura militar e lan�ar d�vidas ao processo eleitoral. Donald Trump, quando ele come�ou a semear d�vidas sobre o processo democr�tico, n�o era como se isso fosse uma parte da sua persona por d�cadas, como foi para Bolsonaro. Ent�o, h� uma diferen�a na aura de seriedade e intencionalidade no caso de Bolsonaro, que n�o se tinha com Trump.


Bolsonaro tem fomentado manifestações de rua a favor do voto impresso e divulgado vídeos falsos sobre fraudes nas eleições(foto: EPA)
Bolsonaro tem fomentado manifesta��es de rua a favor do voto impresso e divulgado v�deos falsos sobre fraudes nas elei��es (foto: EPA)

BBC News Brasil - O objetivo final de Trump e Bolsonaro era o mesmo em lan�ar d�vidas sobre o processo eleitoral?

Teitelbaum - 
Acho que os dois tinham o objetivo de criar oportunidades de manobra diante de um eventual resultado eleitoral desfavor�vel. Essa � uma forma gentil de dizer que eles estavam criando espa�o para rejeitar o resultado eleitoral. Mas eu sinto que, no caso de Trump, ele estava improvisando. N�o me parece que ele tivesse um plano ou vis�o claros de como as coisas ficariam se ele tivesse conseguido ampla desconfian�a no resultado eleitoral. Ele conseguiu em parte isso na invas�o do Capit�lio, em 6 de janeiro. Mas, por mais dram�tico que tenha sido esse epis�dio, ele foi um caminho sem volta para Trump. Ele n�o tinha plano, ele n�o tinha uma estrat�gia legal para fazer isso (se manter no poder).

No caso de Bolsonaro, os anos de elogios dele ao golpe militar e o fato de a democracia brasileira ser relativamente jovem d�o um significado diferente para a estrat�gia de semear d�vidas sobre o processo eleitoral. H� uma seriedade maior nisso. Me parece que � algo mais pensado da parte de Bolsonaro. E � mais plaus�vel pensar que um l�der brasileiro encontre uma maneira de, numa democracia relativamente jovem, rejeitar o resultado eleitoral.

BBC News Brasil - Ent�o, na sua avalia��o, seria plaus�vel pensar que Bolsonaro est� preparando terreno para se opor ao resultado eleitoral ano que vem, promovendo algum tipo de golpe? Ou esse seria um termo forte demais?

Teitelbaum - 
Ele est� tornando isso mais prov�vel. Acho que ningu�m gosta de dizer que est� cometendo um golpe, ainda mais algu�m que j� est� no poder. Por isso que o termo parece estranho. Mas sim. Trata-se de uma forma de criar oportunidades pol�ticas para rejeitar o resultado de uma vota��o.


Nos EUA, clima de desconfiança em relação à eleição, fomentado por Trump, instigou invasão do Capitólio, mas houve forte reação das instituições depois disso e crítica contundente das Forças Armadas ao episódio(foto: Reuters)
Nos EUA, clima de desconfian�a em rela��o � elei��o, fomentado por Trump, instigou invas�o do Capit�lio, mas houve forte rea��o das institui��es depois disso e cr�tica contundente das For�as Armadas ao epis�dio (foto: Reuters)

BBC News Brasil - Falta mais de um ano para a elei��o presidencial no Brasil. Quais os poss�veis motivos para iniciar com anteced�ncia essa mobiliza��o contra o processo eleitoral eletr�nico?

Teitelbaum - 
Isso mostra que, no caso de Bolsonaro, h� uma tentativa mais s�ria e sincera de gerar um clima de desconfian�a na popula��o. O que ele est� fazendo n�o � tentar encontrar uma abertura legal para rejeitar um resultado eleitoral negativo, mas sim criar um ambiente pol�tico, uma abertura pol�tica.

Se voc� tem uma por��o grande da popula��o que n�o ratifica a legitimidade de um processo democr�tico, isso � um problema. Voc� pode alcan�ar um ponto em que n�o importa que eles estejam errados. Democracia exige confian�a por parte da popula��o. Se 40% da popula��o rejeitar a legitimidade de um governo ou de uma elei��o, isso cria oportunidades para o perdedor da elei��o manobrar e recobrar o poder. N�o sei exatamente como ele faria isso, mas trata-se de uma forma de criar oportunidades pol�ticas.

BBC News Brasil - Com rela��o aos eleitores americanos e brasileiros, h� diferen�as no clima ou no discurso dos apoiadores de Bolsonaro que tornariam mais prov�vel um desfecho favor�vel ao presidente brasileiro que o obtido por Trump?

Teitelbaum -
 Uma coisa interessante nos Estados Unidos � que, mesmo quando a elei��o estava sendo contestada, os pr�prios adeptos dessa ideia diziam que estavam fazendo isso para garantir a democracia, o voto justo. N�o queriam dispensar a democracia. No caso de Bolsonaro, ele n�o defende o valor democracia ao criticar o modelo atual de democracia moderna. Ele diz, 'queremos uma vota��o h�brida, com voto em papel e eletr�nico'. Esse n�o � o problema em si.

Mas temos outras declara��es dele defendendo outras formas de governo ou o regime militar. E isso mostra que, al�m de n�o estar comprometido com a democracia liberal, ele n�o se sente pressionado a se apresentar como a verdadeira vers�o da democracia liberal, mas como uma alternativa � democracia liberal.

BBC News Brasil - Mas nos Estados Unidos, n�o havia por parte de adeptos de Trump e do pr�prio presidente rejei��o a valores democr�ticos

Teitelbaum - 
Com certeza havia algum tolo que dizia que houve fraude na elei��o e que os militares deveriam atuar para corrigir isso. E Trump pode at� ter flertado com a ideia, mas essa n�o era, de maneira alguma, parte representativa da conversa. O discurso prevalente era: 'Achamos que essa vota��o foi incorreta e queremos uma nova vota��o'. Eles se vendiam como pessoas lutando pela integridade e legitimidade da democracia. Se queremos dar a eles o benef�cio da d�vida, pelo menos, eles se sentiam pressionados a se afirmar como defensores da democracia.

BBC News Brasil - Isso quer dizer que a democracia brasileira est� mais sob amea�a com as atitudes do presidente Bolsonaro que a democracia americana esteve sob Trump, quando houve contesta��o das elei��es?

Teitelbaum - 
Sim. Isso tem a ver com consenso. Olavo de Carvalho mesmo escreveu que democracia � sobre administrar discord�ncias, � sobre ter uma s�rie de consentimentos de base. Quando essa funda��o come�a a ruir, o fato de n�o vermos isso acontecer nos Estados Unidos… O fato de n�o vermos ruir um comprometimento ideol�gico com a democracia ou uma democracia republicana cair, isso era tranquilizador. Mas esse n�o � o caso no Brasil.

O legado e comprometimento com a democracia � mais recente no Brasil e menos sedimentado. Falamos de hegemonia quando uma ideia � entendida como senso comum, como estando para al�m de prefer�ncias pol�ticas. Em muitas democracias modernas, a democracia goza dessa hegemonia, n�o questionamos a validade dela, mesmo se odiamos o governo atual. Se isso come�a a se tornar condicional, se dizemos que gostamos da democracia apenas nessa ou naquela circunst�ncia, entramos em terreno diferente.

BBC News Brasil - De que maneiras Trump pode ter influenciado ou inspirado Bolsonaro, mesmo n�o tendo sido bem-sucedido em contestar a elei��o americana?

Teitelbaum - 
Uma conclus�o pode ser a de que Trump n�o pressionou o suficiente, n�o se preparou o suficiente ou n�o preparou terreno a tempo para que a contesta��o da elei��o fosse bem-sucedida. Portanto, eu preciso come�ar agora (a semear d�vidas sobre o sistema eleitoral) e pressionar mais fortemente.

BBC News Brasil - Que diferen�as h� na resposta das For�as Armadas americanas e do Brasil �s ambi��es de Trump e de Bolsonaro?

Teitelbaum - 
Os Estados Unidos n�o t�m essa hist�ria recente de interven��o e participa��o dos militares na pol�tica dom�stica. A conclus�o n�o � que os Estados Unidos sejam imunes a isso. Talvez sejamos menos vigilantes. Mas, pelo menos, isso n�o est� em pauta, n�o h� conversas sobre possibilidades de interven��o militar na pol�tica. Pelo menos, n�o num n�vel nacional. Portanto, essa hist�ria recente de ditadura militar pode produzir mais tens�o no caso brasileiro. A resposta pode ser maior vigil�ncia por parte dos brasileiros e institui��es ou, pelo contr�rio, maior receptividade a uma interven��o militar.


Para Teitelbaum, se o sistema democrático deixar de ser consenso, isso pode abrir caminho para que Bosonaro tenha sucesso em contestar eventual derrota eleitoral(foto: EPA)
Para Teitelbaum, se o sistema democr�tico deixar de ser consenso, isso pode abrir caminho para que Bosonaro tenha sucesso em contestar eventual derrota eleitoral (foto: EPA)

BBC News Brasil - Quais os poss�veis resultados dessa estrat�gia de Bolsonaro?

Teitelbaum - 
Vamos supor que Lula ven�a. Se uma fatia consider�vel da popula��o n�o aceitar o resultado, n�o acreditar que ele foi leg�timo, eu n�o sei o que isso significa hoje. Podemos olhar para o passado. Em outras democracias jovens, isso gerou conflito militar, insurg�ncia civil, movimentos separatistas… Mas pode tamb�m gerar um cen�rio completamente novo. N�o � poss�vel prever o que acontecer� se uma fatia consider�vel da popula��o decidir que democracia n�o funciona para eles, e acho que esse vai ser o resultado (no Brasil).

BBC News Brasil - A candidatura de Lula e a polariza��o entre o petista e Bolsonaro alimentam essa estrat�gia do presidente?

Teitelbaum - 
Sim, essa � minha opini�o. De certa maneira, com rela��o a esse aspecto especificamente, voc� pode comparar Lula a Hillary Clinton. Voc� tem uma rea��o negativa de parte da sociedade. H� a pessoa perfeita para simbolizar tudo o que essa parcela da popula��o odeia num governo. Lula cumpre bem esse papel. H� atualmente um movimento anti-establishment (antissistema). E Trump e Bolsonaro tiveram sorte de concorrerem contra pessoas que personificavam o establishment, o sistema. N�o tenho certeza se Trump teria ganhado de Bernie Sanders quando se elegeu em 2016, porque Sanders n�o servia t�o bem ao papel de personificar o sistema, um sistema visto como corrupto. Lula � muito popular e parece capaz de vencer Bolsonaro. Mas os ingredientes est�o l� para que Bolsonaro use Lula como essa figura.

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