Ades�o ao �bolsonarismo radical� cresce nas PMs

�s v�speras das manifesta��es do 7 de Setembro convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro, pesquisa feita pelo F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica mostra que a ades�o �s teses mais extremistas do bolsonarismo aumentou 29% nas Pol�cias Militares, comparando o comportamento dos policiais em redes sociais neste ano com o que foi observado em 2020. A pesquisa constatou que o crescimento foi maior entre oficiais do que entre os pra�as.

H� uma semana, o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB), afastou o coronel Aleksander Lacerda do comando no interior do Estado ap�s o oficial cham�-lo de "cepa indiana" e ofender ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e outros pol�ticos, al�m de convocar publicamente os amigos para os atos do Dia da Independ�ncia. Tudo por meio de sua conta no Facebook.

Para se ter uma ideia do tamanho do fen�meno detectado pela pesquisa, basta comparar os n�meros envolvendo a PM com os da popula��o em geral. Ao todo, 27% dos PMs do Pa�s interagiram em redes sociais em 2021, compartilhando, comentando ou curtindo publica��es de p�ginas do que a pesquisa chama de "bolsonarismo radical", que pertencem a grupos ou pessoas declaradamente f�s ou militantes do presidente - e que atuam "independentemente do jogo pol�tico ou das institui��es".

Na popula��o em geral esse n�mero ficou em 17%. "N�o estamos falando de manifesta��es c�vicas, mas da defesa da pris�o de ministros do Supremo, do fechamento do Congresso e de outras pautas ilegais", disse ao Estad�o o soci�logo e diretor-presidente do F�rum, Renato S�rgio de Lima.

Os dados da pesquisa foram coletados com base em informa��es de profissionais das pol�cias no Portal da Transpar�ncia do governo federal e dos Estados. Depois, os pesquisadores selecionaram uma amostra desses profissionais que fosse representativa dos efetivos das corpora��es e analisaram 651 usu�rios no Facebook e Instagram com cargos em institui��es policiais. O n�vel de confian�a da pesquisa � de 95% e a margem de erro � de 3%.

O levantamento mostra tamb�m que a influ�ncia bolsonarista est� concentrada nas corpora��es militares. � relativamente baixa a ades�o aos ambientes de apoio ao presidente da Rep�blica na Pol�cia Civil (13% em 2021 ante 9% em 2020) e na Pol�cia Federal - 17% neste ano em compara��o aos 13% em 2020.

Por outro lado, a pesquisa constatou que 23% do oficialato da PM participou de ambientes radicalizados do bolsonarismo em 2021. Esse n�mero era de 17% em 2020 - um crescimento de 35%. Outros 21% dos oficiais interagiram com p�ginas consideradas de "pol�ticos de direita, que est�o dentro da institucionalidade do jogo pol�tico partid�rio". � o que a pesquisa descreve como "bolsonarismo org�nico". Somando-se os dois tipos - extremados e org�nicos -, 44% dos oficiais da ativa interagiram com ambientes bolsonaristas.

Entre os pra�as - soldados a subtenentes - a presen�a em ambientes radicais do bolsonarismo saltou de 25% para 30% e, no chamado bolsonarismo org�nico, esse n�mero passou de 16% para 21%, ante o registrado em 2020. Pelos dados atualizados, portanto, na base das corpora��es 51% dos pra�as demonstram apre�o �s teses bolsonaristas e 49% n�o interagem com o movimento.

'Minoria barulhenta'

"Levando em considera��o oficiais e pra�as, a maioria - 52% - n�o est� interagindo. Mas a minoria barulhenta tenta cooptar o restante. Isso � reflexo do crescimento de 29% da presen�a de PMs nesses ambientes radicais. � preciso alertar para os riscos, pois h� pol�ticos que exploram sem pudor essa fissura que se abre em busca de palanque para reelei��o", afirmou Lima.

Para o diretor do F�rum, � preciso ter em conta que a intera��o de policiais militares com ambientes radicalizados do bolsonarismo se insere no contexto das manifesta��es do dia 7, nas quais parte do bolsonarismo quer defender o impeachment de ministros do Supremo, o fechamento do Congresso e a instala��o de uma ditadura. Para tanto, esperam a presen�a maci�a de militares da ativa e da reserva nos com�cios que ser�o feitos pelo presidente S�o Paulo e em Bras�lia.

A exemplo do que foi mostrado pela pesquisa, a Pol�cia Militar de S�o Paulo est� dividida. A bancada de deputados estaduais e federais eleita em 2018 busca convocar os policiais da reserva e da ativa para o ato na Avenida Paulista, em S�o Paulo. Mas o entendimento da maioria dos coron�is da corpora��o e do Minist�rio P�blico � de que a presen�a de policiais na manifesta��o de car�ter pol�tico-partid�rio n�o � permitida pelo regulamento disciplinar.

Organizadores da manifesta��o creditaram a presen�a de PMs na Avenida Paulista - ainda que desarmados e sem farda - a uma esp�cie de rep�dio ao afastamento do coronel Aleksander. O problema � que a decis�o de afastar o coronel foi assinada pelo comandante-geral, coronel Fernando Alencar, o que agravaria ainda mais a transgress�o disciplinar dos que se dirigirem � manifesta��o. Os que defendem a ida ao ato alegam que os PMs t�m direito � liberdade de express�o garantida pela Constitui��o.

"Querem ter o b�nus de ser militar e o de ser civil ao mesmo tempo", disse Lima. Uma cr�tica destacada por ele e por outros especialistas ouvidos pela reportagem, os policiais que adotam teses bolsonaristas querem ser tratados como militares diante da Reforma da Previd�ncia, mas desejam ser civis quando devem obedecer o disposto pelo regulamento disciplinar.

Na tarde de quarta-feira, o tenente-coronel da reserva Paulo Ribeiro, de 58 anos, que trabalhou na Corregedoria da PM, gravou um v�deo alertando aos policiais que a presen�a no ato pode configurar n�o s� transgress�o disciplinar, mas tamb�m crime militar. Ribeiro disse ao Estad�o que a convoca��o de PMs da ativa para o dia 7 de Setembro "esbarra em dois pontos: o aspecto legal e a capacidade de entendimento dos nossos policiais militares". Para ele, "o bolsonarismo na PM � um le�o desdentado e sem garras". "Faz muito barulho sem a menor possibilidade de causar danos." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.