Fundada em 22 de janeiro de 1932, a seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), a maior do Pa�s, nunca teve uma mulher na presid�ncia da entidade, mas, pela primeira vez, tem duas advogadas disputando a elei��o. As criminalistas Dora Cavalcanti, de 50 anos, e Patr�cia Vanzolini, de 49, concorrem em chapas de oposi��o � atual gest�o do advogado c�vel Caio Augusto Silva dos Santos, 46 anos, candidato � reelei��o.
A abertura da inscri��o das chapas ser� amanh�. Est�o aptos a votar 278.852 advogados e advogadas em um universo de 406.000 inscritos. Desse total, 50,3% s�o mulheres, segundo dados da OAB.
Uma resolu��o do Conselho Federal da entidade estabeleceu paridade de g�nero e pol�tica de cotas raciais a partir das elei��es deste ano, marcadas para novembro. S� estar�o aptas a participar, portanto, as chapas com, no m�nimo, 50% de mulheres e 30% de negros. "Vejo com naturalidade a disputa com duas mulheres. Faz parte do momento que estamos vivenciando. Nossa gest�o n�o foi masculina e j� � inclusiva", disse o atual presidente da OAB-SP.
Natural de Bauru, onde mant�m seu escrit�rio, Caio Augusto liderou, em 2018, um movimento entre os advogados "de base" que usavam a cor amarela como s�mbolo. Ele nega, por�m, que tenha votado em Jair Bolsonaro para presidente.
J� suas advers�rias s�o paulistanas. Dora Cavalcanti tem escrit�rio na rua Oscar Freire e formou-se na USP, onde atuou no movimento estudantil. Patr�cia Vanzolini, que nasceu durante o ex�lio dos pais, em Santiago, no Chile, e veio com 1 ano para S�o Paulo, tem escrit�rio na Avenida Paulista, � professora do Mackenzie e formou-se na PUC-SP.
At� a quinta-feira passada, Patr�cia era apontada como candidata a vice na chapa que seria "em tese" encabe�ada pelo advogado Leonardo Sica, mas a cabe�a de chapa foi anunciada em uma live que pegou muita gente de surpresa. "Sempre consideramos essa possibilidade, mas havia uma tend�ncia machista de acharem que o candidato era ele", disse a advogada.
Diante do novo modelo de representatividade na categoria, era de se esperar que o debate sobre o machismo estrutural na advocacia ganhasse corpo. "Est� na hora de conter o machismo e o racismo estrutural. Basta olhar a galeria de retratos da OAB. Na �ltima elei��o, nenhuma mulher foi eleita presidente em nenhuma seccional", disse Dora. Sua candidata a vice � a advogada Lazara Carvalho, negra e especialista em atendimento a mulheres v�timas de viol�ncia dom�stica.
Entre os advers�rios, Dora � quem atua nos casos de maior repercuss�o nacional, e enfrentou o juiz S�rgio Moro na Lava Jato quando esteve na defesa da Odebrecht. A advogada, que foi s�cia do ex-ministro da Justi�a M�rcio Thomaz Bastos e presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, faz as cr�ticas mais contundentes � opera��o deflagrada em Curitiba.
"Todos embarcaram nessa ilus�o que os excessos da Lava Jato e as 10 medidas contra corrup��o significaram um avan�o. Mas ficou claro que os fins jamais justificam os meios. Hoje, o Pa�s e os julgamentos do STF refletem isso", afirmou. Quando questionada se � uma advogada "antilavajatista", no entanto, ela rejeita o r�tulo. "N�o quero esse carimbo. Vai aparecer que sou pr�-corrup��o. Sou uma cr�tica da ruptura com o sistema constitucional que redundou em excessos da Opera��o Lava Jato".
Com tons diferentes, os demais candidatos concordam sobre esse tema. "Houve abusos da Lava Jato e o Judici�rio reconheceu isso. Mas o Minist�rio P�blico merece nosso respeito. Um grupo de promotores n�o pode pretender ser maior que a pr�pria promotoria", disse Caio Augusto. "A Lava Jato extrapolou em muitos pontos e criou uma cultura jur�dica de autoritarismo penal muito perniciosa e que se espraiou", afirmou Patr�cia.
O trio de candidatos � cuidadoso, mas diverge ao tratar sobre uma pauta que hoje divide a OAB nacionalmente: o impeachment de Bolsonaro. A entidade, que esteve na linha de frente do Fora Collor ao Fora Dilma, recebeu um parecer jur�dico robusto indicando crimes de responsabilidade contra o atual chefe do Executivo, mas interditou o debate e se absteve de ir �s ruas.
"O impeachment � um debate que n�o est� maduro no contexto da Ordem", afirmou Caio Augusto, que recebe apoios de advogados mais conservadores do interior. Dora criticou o sil�ncio da Ordem em n�o engajar a classe no tema. "Entendo que as viola��es cometidas pelo presidente configuram crime de responsabilidade, mas � uma opini�o pessoal. E, sim, a Ordem tem de encampar o impeachment", disse ela.
"O processo de impeachment embute um cavalo de Troia parlamentarista, o que � muito ruim. � um instituto muito delicado que causa muito dano. Tenho muitos problemas com o instituto do impeachment", afirmou Patr�cia.
As duas candidatas criticam o sistema de vota��o adotado pela OAB-SP, que ser� presencial. A avalia��o � de que isso favorece o candidato da situa��o, pois abre caminho para as absten��es. O presidente disse que as regras s�o federalizadas e nunca existiu uma autoriza��o para fazer a elei��o em um modelo diferente daquela que est� prevista no estatuto da advocacia.
Azar�o
Com uma campanha mais modesta e sem o mesmo volume de apoio que o s advers�rios, o advogado Alfredo Scaff Filho, de 51 anos, tenta montar uma chapa para "correr por fora" na elei��o da OAB-SP. Delegado da Pol�cia Civil entre 1996 e 1999, ele atua hoje na �rea p�blica. Com um perfil mais conservador que os concorrentes, Scaff � cr�tico do que chama de "estado pol�tico partid�rio" da OAB local e nacional.
Sobre o impeachment de Bolsonaro, disse que n�o � "nem contra, nem a favor", e considera que a Lava Jato "foi um grande procedimento que deve ser aplaudido", mas aponta erros da opera��o: "O que n�o pode � ter pirotecnia. Infelizmente houve uma cascata de erros no conjunto da obra".
O quinto candidato � presid�ncia da OAB-SP, o criminalista M�rio Oliveira Filho, n�o respondeu � reportagem. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
POL�TICA