CPI: familiares relatam a dor da perda entre as 600 mil v�timas da COVID-19

“ Hoje n�o � dia de falar, hoje � dia de ouvir” , disse o senador Renan Calheiros, relator da Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da COVID, que escutou, nesta segunda-feira (18/10), familiares de v�timas da COVID-19 e demais pessoas afetadas pela pandemia, convocadas a comparecer ao Senado para relatar a luta contra a doen�a. A sess�o, que foi foco dos olhares brasileiros, emocionou quem acompanhava os relatos dos representantes daqueles que perderam uma (ou mais) das 600 mil v�timas do v�rus no Brasil.

 

Estiveram na CPI da COVID a enfermeira Mayra Pires Lima; Katia Shirlene Castilho dos Santos, que perdeu parentes para a doen�a; o paciente de COVID Arquivaldo Bites Le�o Leite; Ant�nio Carlos Costa, fundador da ONG Rio Paz; M�rcio Ant�nio do Nascimento Silva, que perdeu o filho em decorr�ncia da COVID; Giovanna Gomes Mendes da Silva, que perdeu a m�e e ter� a guarda da irm� de 10 anos; e Rosane Maria dos Santos Brand�o, que ficou vi�va.

Primeiro a falar, Ant�nio Carlos Costa, fundador e presidente da ONG Rio de Paz, respons�vel por diversas manifesta��es e atos para homenagear as v�timas da COVID, abriu os depoimentos culpando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelas v�timas do COVID. 

Perdoe-me fazer um desabafo rid�culo para nossa democracia, rid�culo. Incompet�ncia, descaso e irresponsabilidade fizeram com que o Brasil se tornasse o segundo pa�s do mundo em n�meros absolutos de mortos pela pandemia e o s�timo em n�meros absolutos de mortos

Ant�nio Carlos Costa, fundador e presidente da ONG Rio de Paz

 

De acordo com Ant�nio Carlos, em  raz�o “das sandices do governo federal”, ele sentiu a necessidade de ir �s ruas, a fim de pedir a Bolsonaro que trate a popula��o “com respeito e com dignidade".

"O que vimos foi a ant�tese do que se esperava de um presidente da Rep�blica. Jamais o vimos derramar l�grimas de compaix�o ou expressar enorme pesar pelo povo brasileiro", afirma Ant�nio.

“At� pastel o cara comia sem m�scara para mostrar que � o 'super-homem'", interrompeu o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

A segunda depoente foi Mayra Pires, irm� de v�tima da COVID e enfermeira do estado de Manaus, onde milhares morreram com falta de ar.  Ela come�ou seu relato contando que perdeu muitos colegas por conta da depress�o. “A cidade inteira de Manaus estava doente”, disse.

 

 

Ela tamb�m citou a press�o que era trabalhar em ambientes, muitas vezes, insalubres, sem equipamentos de seguran�a e condi��es ideais. “N�s vimos nas redes sociais as pessoas agradecendo os enfermeiros", iniciou. "N�s n�o precisamos de tapinhas nas costas, precisamos de valoriza��o", complementou.

Chamar os enfermeiros de her�i � f�cil, quero ver � nos valorizar

Mayra Pires Lima, enfermeira em Manaus

A irm� de Mayra deixou quatro filhos. "Muitas vezes eu assumia a assist�ncia de sa�de da minha irm� porque n�s t�nhamos cinco t�cnicos de enfermagem para cuidar de 80 pacientes graves", relatou Mayra aos senadores. "S� em Manaus n�s temos mais de 80 �rf�os da COVID. S� na minha fam�lia s�o quatro", disse a enfermeira. "O que est� se fazendo por essas crian�as e por essas fam�lias?", perguntou.

A terceira depoente a falar foi Giovanna Gomes: com apenas 19 anos, j� tem a guarda da irm� mais nova, de 10 anos. Elas perderam os pais para a COVID-19. “N�o perdemos nossos pais, perdemos uma vida de alegria”, disse.

“Eu e meus pais e minha irm� �ramos unidos, quem conhece a gente sabe. Onde a gente estava, est�vamos juntos. Ent�o quando meus pais faleceram, a gente perdeu as pessoas que a gente mais amava. Eu vi que eu precisava da minha irm� e ela precisava de mim. Eu me apoiei nela e ela em mim. Ent�o… eu pensei que n�o poderia mais ficar sem ela e ela sem mim”, disse emocionada.

 

 

O depoimento de Giovana foi marcado por uma situa��o inusitada. � de costume que as sess�es do Senado sejam traduzidas para a L�ngua dos Sinais, para inclus�o de surdos e mudos. Acontece que, quando Giovana falava, o tradutor de seu depoimento se emocionou e precisou ser trocado por outro colega. A imagem viralizou nas redes sociais e emocionou aqueles que assistiam � CPI no momento.

 

Em seguida do relato da jovem, quem teve a palavra foi K�tia Shirlene, representante da Regi�o Sudeste. Ela perdeu a m�e e o pai em decorr�ncia da COVID-19. K�tia passou 1 ano sem ver os pais e, faltando 1 semana para o pai dela se vacinar, em mar�o deste ano, ele foi internado.

 

 

A m�e de K�tia, uma idosa de 71 anos, foi tratada com o chamado "kit COVID"  ap�s ser atendida por teleconsulta da Prevent Senior. "N�o fizeram nenhum exame e acabaram mandando o kit COVID", disse. "Como voc� vai falar para uma idosa de 71 anos que confia no conv�nio, que aquele rem�dio que o m�dico mandou para ela, para cuidar dela, n�o estaria fazendo nada?", perguntou ela sobre o tratamento sem efic�cia. 

 

Em seguida, a CPI escutou Arquivaldo Leite, que teve COVID-19. Ele est� em tratamento com graves sequelas ap�s ter contra�do o v�rus.

Arquivaldo perdeu v�rios membros da fam�lia. Primeiro, dois de seus primos faleceram. Depois, um tio, um irm�o e dois sobrinhos. 

 

A vacina nunca vinha

Arquivaldo Bites Le�o Leite, paciente que sofreu por COVID

 

 

Durante seu depoimento, ele acusou Bolsonaro de ser respons�vel por "genoc�dio premeditado" e lamentou que o chefe do Executivo tenha causado aglomera��es e desestimulado o uso de m�scaras.

 

Arquivaldo sofre com as sequelas da COVID, e por isso precisa de um aux�lio de um andador. "Estou aqui hoje porque tive a oportunidade de tomar a vacina, enquanto meu irm�o e outras 600 mil pessoas n�o tiveram", disse.

 

A pr�xima depoente a falar na CPI foi Rosane Maria dos Santos Brand�o, que ficou vi�va. De acordo com ela, seu marido, o “Bola”, teve sua vida ceifada por uma pol�tica “genocida”. 

 

 

 

“Meu esposo, Jo�o Alberto dos Santos Pedroso, conhecido como Bola, foi mais uma v�tima da COVID. Eu costumo dizer que ele foi assassinado. Os primeiros sintomas, o Bola teve no dia 11 de abril; foi hospitalizado no dia 16, e esse foi o �ltimo dia em que eu vi o meu companheiro de 21 anos de vida juntos. Ele morreu no dia 26 de abril”, disse.

 

Com um dos depoimentos mais emocionantes da CPI, M�rcio Ant�nio, que perdeu o filho, deixou a sess�o no Senado em sil�ncio ap�s contar sua hist�ria. Ele foi convidado a participar da audi�ncia ap�s ficar conhecido por recolocar cruzes que foram derrubadas durante manifesta��o na praia de Copacabana em homenagem �s v�timas da pandemia.

“Tr�s dias depois de enterrar meu filho, eu ouvi aquela fat�dica frase: ‘E da�?’. Isso me gerou muita raiva, muito �dio, me fez muito mal”, disse.

Eu quero que algu�m me fa�a entender por que lutar contra a m�scara, contra a vacina? Eu quero entender. Eu daria tudo para que meu filho tivesse essa chance. Daria tudo para que meu filho tivesse se vacinado

M�rcio Ant�nio do Nascimento Silva, que perdeu o filho em decorr�ncia da COVID

 

 

 

A sess�o foi finalizada com uma homenagem �s v�timas por COVID. O Senado aprovou, na ter�a-feira (5/10), o Projeto de Resolu��o do Senado (PRS) 46, de 2021, que cria o Memorial em Homenagem �s V�timas da COVID no Brasil. 

 

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O projeto � da autoria do relator da Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da COVID, senador Renan Calheiros (MDB-AL), e foi exibido em um tel�o no fim da sess�o.