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Estado de Minas POL�TICA

�Apoio a ditaduras revela esquerda anacr�nica�


21/11/2021 17:08

O historiador Alberto Aggio diz que parte do PT mant�m a defesa da ideia da revolu��o em vez de se comprometer com a democracia. Essa op��o, que se op�e � modernidade e n�o reconhece a necessidade das institui��es do liberalismo pol�tico, explica por que setores do partido apoiam ditaduras como a de Daniel Ortega, na Nicar�gua, ou de Nicol�s Maduro, na Venezuela. Ele aponta o papel amb�guo de Luiz In�cio Lula da Silva. Professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em hist�ria da Am�rica Latina, Aggio � autor de Um Lugar no Mundo: Estudos de Hist�ria Pol�tica latino-americana.

Como a esquerda deveria se posicionar diante das manifesta��es em Cuba?

Se � verdade que a esquerda que apoia Cuba acredita na soberania dos cubanos sobre o territ�rio e o Estado, fica evidente que o comando do Estado cubano faz com que o povo n�o tenha liberdade e soberania sobre esse Estado. A repress�o que se estabelece permanentemente em Cuba � um atestado de que, na ilha, os cubanos n�o t�m soberania. H� uma permanente usurpa��o da soberania. Cuba n�o tem representa��o democr�tica, a sociedade n�o se representa democraticamente no Estado.

Na semana passada, um dirigente do PT divulgou nota de apoio � elei��o de Daniel Ortega, na Nicar�gua O que leva setores do partido a apoiar ditaduras na Nicar�gua e na Venezuela?

O apoio a ditaduras parte de uma esquerda anacr�nica e passadista que ainda est� dentro do paradigma da revolu��o. Sabe que a revolu��o n�o tem mais a perspectiva da guerrilha, da luta armada, tipo Marighella e Che Guevara, mas quer manter a perspectiva de emerg�ncia de massas na pol�tica, com um programa cada vez mais radicalizado para acentuar contradi��es na expectativa de chegar a situa��es pr�-revolucion�rias.

H� dificuldade afetiva de setores da esquerda em criticar Cuba e Ortega?

Acredito que existe. Todo elemento de mito da esquerda provoca esse tipo de rela��o de afeto, que � um sentimento de defesa, quase se materializando na ideia de que tomar um caminho cr�tico seria uma trai��o � revolu��o, ou que seria fazer o jogo dos exploradores, dos opressores e da direita.

Qual o papel de Lula na forma de o PT tratar Cuba e Venezuela e se relacionar com a democracia?

O papel do Lula � fazer a ponte com esse passado do paradigma da revolu��o sem assumi-lo. Lula negocia com os protagonistas desse paradigma. Ele faz a ponte com a heran�a dessa esquerda, que est� no PT, nos ex-integrantes da luta armada e na igreja da teologia da liberta��o. Lula expressa o sindicalismo de resultados que negocia com esse campo. Ele nunca quis ser afiliado � social-democracia europeia, tanto � que o partido afiliado � Internacional Socialista era o PDT.

Lula manteria essa ambiguidade ao viajar � Europa e se encontrar com l�deres da social-democracia comprometida com a globaliza��o e com o liberalismo pol�tico, como Olaf Scholz?

Mas ele n�o fala nada nesse sentido (da social-democracia). O que ele fala � o que essa social-democracia quer ouvir, que ele aqui � o protagonista da luta contra as elites, contra as oligarquias, o atraso, a viol�ncia e a queima da Amaz�nia. Alguns temas se vinculam � social-democracia de l�, mas ele tem de ser um protagonista contra a injusti�a que existe nos pa�ses subdesenvolvidos e, como a Europa n�o far� mais a revolu��o e n�o se apoia mais um personagem que venha do atraso, a social-democracia europeia preza muito bem protagonistas como Lula, que s�o, na vis�o dela, a express�o da luta contra a mis�ria e a pobreza fora da Europa. Lula mant�m essa ambiguidade. Ele n�o assume nem o discurso do paradigma da revolu��o nem a identifica��o com a social-democracia.

Para superar o risco autorit�rio � necess�rio o abandono da ideia de revolu��o?

Isso de sa�da, como cimento de uma nova cultura pol�tica. Abandonar o paradigma da revolu��o e se instalar definitivamente no paradigma da democracia. O tema democr�tico exige aten��o, dedica��o e um di�logo de diversos atores, pois o tempo da democracia � de m�ltiplas dimens�es do presente. N�o � o tempo agudo da revolu��o, do antes e depois. Produzir consenso � necess�rio na democracia. Sabemos que nossa democracia est� em um ponto de mal-estar. A sociedade julga que as coisas n�o est�o boas, com altos sal�rios e gente em excesso no Estado brasileiro. � extraordin�rio o n�mero de pessoas no Brasil que vive da pol�tica. � necess�rio pensar uma reforma pol�tica saneadora da nossa democracia? � evidente. A sociedade precisa ver que a democracia muda a vida num contexto de paz e n�o de exacerba��o de contradi��es.



As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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