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Estado de Minas ELEI��ES 2022

Quem � Andr� Janones, fen�meno da 'nova pol�tica' que vai apoiar Lula

Em 2018, deputado disse que n�o defenderia o ex-presidente petista; quatro anos depois, desistiu de sua candidatura e anunciou apoio a ele na elei��o de outubro.


04/08/2022 18:51 - atualizado 04/08/2022 18:55


André Janones
Janones foi cobrador de �nibus, cursou Direito e se elegeu deputado federal em 2018 (foto: Cleia Viana/C�mara dos Deputados)

No dia 19 de dezembro de 2018, o ent�o advogado Andr� Janones foi �s redes sociais comemorar sua maior conquista pol�tica at� ent�o: a diploma��o como deputado federal por Minas Gerais. Na postagem, mandou um recado:

"Agora � oficial: Fui diplomado Deputado Federal!

N�o contem comigo pra defender Lula!

N�o contem comigo pra defender Bolsonaro!

Contem comigo pra defender o POVO BRASILEIRO, seja de qualquer sexo, cor ou religi�o! Foi pra isso que Deus e voc�s me confiaram essa miss�o!", dizia a publica��o.


Janones Facebook
Em postagem de 2018, Janones prometia que n�o defenderia Lula ou Bolsonaro (foto: Reprodu��o/Facebook)

Nesta quinta-feira (04/08), Janones anunciou que desistiu da sua candidatura � Presid�ncia da Rep�blica para apoiar o nome do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) a um novo mandato.

Em uma transmiss�o feita por meio de suas redes sociais, Janones anunciou, ao lado de Lula, que desistiu de sua candidatura para apoiar o petista.

Segundo ele, o apoio se deu ap�s Lula se comprometer a "encampar" suas propostas. Entre elas est� a manuten��o do Aux�lio Brasil no valor de R$ 600 para al�m de dezembro deste ano.

"Ele (Lula) est� encampando essa luta [...] junto com a nossa candidatura que nesse momento, a gente retira e unifica a candidatura do deputado Andr� Janones. A partir desse momento, ela est� unificada e ela passa a ser representada pela candidatura do presidente Lula", disse Janones.

Na transmiss�o, Janones elogiou Lula dizendo que o petista teria dedicado sua vida ao combate � pobreza no Brasil.

"Jamais me aliaria com aqueles que usam a fome dos mais pobres, dos mais necessitados como moeda eleitoral em tempos de elei��es, como foi feito pelo atual governo. Mas, sim, com quem dedicou uma vida inteira pro combate � pobreza, pra ajudar os mais necessitados e por isso eu e Lula estamos juntos agora", disse o deputado.

Lula retribuiu os elogios dizendo-se honrado ao ter o apoio de Janones.

"� uma honra pra mim estar junto com um companheiro que foi eleito deputado e colocou o mandato dele � disposi��o de combater a fome nesse pa�s", disse o ex-presidente.

O an�ncio � um momento de inflex�o na relativamente curta carreira pol�tica do deputado. Ele chegou � C�mara Federal como um dos �cones da chamada "nova pol�tica", termo pelo qual ficaram conhecidos nomes que ganharam popularidade ap�s a crise deflagrada pela Opera��o Lava Jato.

Como muitos de seus contempor�neos, Janones ficou conhecido pelos discursos em que chamava pol�ticos de "ladr�es" e "vagabundos" e entoava o slogan "Pra cima deles".

Nos �ltimos meses, por�m, Janones lan�ou sua candidatura � Presid�ncia e passou a moderar o tom de suas declara��es, mantendo cr�ticas aos dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de inten��o de voto (Lula e o presidente Jair Bolsonaro, do PL), mas adotando um discurso mais conciliat�rio.

Em julho, Janones come�ou a sinalizar que poderia apoiar Lula em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, afirmando que estaria "no lado oposto" ao do presidente.

"Eu vou estar ao lado da democracia. Eu vou estar ao lado da defesa das nossas institui��es [...] Logo, eu estarei do lado oposto ao do atual presidente Bolsonaro", disse o deputado em entrevista � Rede Globo.

Semanas depois, ele admitiu a possibilidade de desistir de sua candidatura em favor da de Lula, em entrevista ao portal UOL na segunda-feira (1/08).

Em meio �s dificuldades para subir nas inten��es de voto e diante das investidas do PT, o deputado que prometeu n�o defender Lula agora � visto como uma pe�a importante no xadrez eleitoral que pode levar Lula a um terceiro mandato.

De cobrador a deputado

Andr� Luis Gaspar Janones tem 38 anos de idade. Ele nasceu em Ituiutaba, cidade com aproximadamente 105 mil habitantes a 588 quil�metros de Belo Horizonte. Sua m�e foi empregada dom�stica e seu pai era cadeirante.

Conseguiu estudar Direito em uma faculdade particular gra�as a uma bolsa de estudos para atender fam�lias em situa��o de vulnerabilidade. Para se sustentar, trabalhou como cobrador de �nibus.

Sua vida pol�tica come�ou oficialmente em 2003, quando Janones se filiou ao PT. Ele ficou no partido at� 2012. Em entrevista concedida em julho deste ano ao podcast "O Assunto", da Rede Globo, o deputado explico que o levou a se filiar e a deixar o partido.

"Fui levado ao partido [dos Trabalhadores] pela defesa das minorias, pela defesa dos mais pobres, pela defesa dos trabalhadores, pela defesa de um Estado mais forte para quem realmente precisa do Estado", disse.

"Em algum momento, o PT abandona essas bandeiras [...] e come�a a caminhar junto com os banqueiros [...] nesse momento, h� esse rompimento ideol�gico meu, vamos chamar assim, com o Partido dos Trabalhadores", afirmou.

Depois do PT, Janones se filiou ao PSC (em 2012) e depois ao Avante.

Sua atua��o pol�tica era inicialmente restrita ao interior de Minas Gerais. Como advogado, ele usava suas redes sociais para cobrar o cumprimento de decis�es judiciais obrigado o governou o a prefeitura locais a oferecerem tratamentos m�dicos.

Em 2016, Janones disputou sua primeira elei��o. Ele se candidatou � Prefeitura de Ituiutaba, mas ficou em segundo lugar, com 24% dos votos.

Sua carreira pol�tica decolou dois anos depois. Usando suas redes sociais, ele se transformou em um dos principais porta-vozes da greve dos caminhoneiros, entre maio e junho de 2018. Na �poca, as transmiss�es ao vivo que ele fazia sobre o assunto eram assistidas por milhares de pessoas.

Atualmente, Janones tem mais de 8 milh�es de seguidores no Facebook, 2 milh�es no Instagram, 301 mil no TikTok e 149 mil no Twitter. No Facebook, ele tem mais seguidores que Lula, que tem 4,9 milh�es. Bolsonaro, na outra ponta, tem 14 milh�es.


Andre Janones
Durante campanha para deputado federal, Janones costumava criticar quem classificava como 'pol�tico vagabundo' (foto: Reprodu��o/Facebook)

Impulsionado por essa popularidade, ele disputou as elei��es de 2018 como candidato a deputado federal. Em suas redes sociais, adotou o slogan "Pra cima deles" e um discurso em que prometia "ir pra cima" de "pol�tico vagabundo".

"T� na hora de colocar pol�tico vagabundo pra tremer", disse Janones em uma postagem no Facebook ao anunciar seu primeiro programa pol�tico na TV.

Em entrevista � R�dio Itatiaia em junho deste ano, o deputado explicou que o tom usado no in�cio de sua carreira pol�tica teria sido uma resposta � demora do poder p�blico em cumprir decis�es judiciais nas quais ele atuava.

"Qual foi a maneira que encontrei? Utilizar minhas redes sociais pra cobrar o Estado e o poder p�blico pra cumprir aquela decis�o e a� n�o dava pra usar o politicamente correto e assim, infelizmente era assim que funcionava [...] fazendo o que alguns taxam de sensacionalista, populismo", disse Janones.

A estrat�gia deu certo e ele foi o terceiro deputado federal mais votado de Minas Gerais em 2018, com 178 mil votos.

Mudan�a de tom


Colagem de fotos com Bolsonaro e Lula discursando em palanques de eventos
Andr� Janones vinha adotando um discurso de n�o-alinhamento em rela��o a Bolsonaro e Lula (foto: EPA)

Apesar de adotar uma ret�rica antissistema semelhante � do ent�o candidato � Presid�ncia Jair Bolsonaro, Janones evitou demonstrar apoio tanto o presidente quanto a Lula.

Nos �ltimos meses, quando se lan�ou pr�-candidato � Presid�ncia, Janones refor�ou cr�ticas feitas a ambos.

Sobre o ex-presidente, criticou sua suposta "apologia � ignor�ncia", pelo fato de Lula ressaltar que n�o fez curso superior. Sobre Bolsonaro, Janones comparou a atua��o do governo em rela��o � covid-19 a uma "pol�tica de exterm�nio em massa".

Ao mesmo tempo, passou a adotar um tom mais moderado, projetando-se como uma alternativa � polariza��o.

Para o professor de Ci�ncia Pol�tica da Funda��o Get�lio Vargas em S�o Paulo (FGV-SP) Claudio Couto, a mudan�a no tom seria um sinal de amadurecimento pol�tico.

"Janones tem quase quatro anos de mandato. Muita gente que chega na linha do 'vamos mudar tudo', com o tempo, entende que as coisas n�o s�o bem assim. Esse tempo amadurece. Aquele cara da 'antipol�tica' foi dando lugar a algu�m que faz pol�tica, mais moderado. E tra�ar alian�as � algo inerente � pol�tica", afirmou Couto � BBC News Brasil.

Estrat�gia focada no primeiro turno

Fontes do PT com as quais a BBC News Brasil conversou indicam que a reaproxima��o do partido com Janones come�ou no come�o deste ano, quando o cen�rio eleitoral come�ou a ficar mais bem delineado. A principal interlocutora do partido com o deputado foi a presidente da sigla, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).

As conversas ganharam for�a nas �ltimas semanas at� que, em julho, Janones e Lula se encontraram em um hotel de Bras�lia para conversar sobre a conjuntura pol�tica. Dias depois, o deputado anunciou em suas redes sociais que teria uma nova conversa com Lula sobre as elei��es.

Claudio Couto diz que a busca do apoio de Janones por Lula faz parte da estrat�gia do partido de tentar encerrar a disputa no primeiro turno. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha mais recente, Lula teria 52% das inten��es de votos v�lidos (exclu�dos brancos e nulos), o que decidiria a elei��o sem segundo turno.

Entretanto, a pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o que indica que a disputa poderia, sim, ir para a segunda etapa, algo que os petistas querem evitar.

Ainda de acordo o Datafolha, Janones teria 1% das inten��es de voto e 37% dos seus eleitores afirmaram que poderiam votar em Lula.

"Do ponto de vista num�rico, estamos falando de poucos votos, mas num cen�rio em que o que est� em jogo � ganhar no primeiro turno, o apoio de Janones faz sentido. Se voc� concentra a disputa entre dois candidatos (Lula e Bolsonaro), voc� aumenta as chances de as elei��es acabarem mais cedo", diz Couto.

Para o diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria, Felipe Nunes, o apoio de Janones teria um efeito simb�lico.

"Janones � o s�mbolo de uma nova gera��o de pol�ticos forjados na popularidade digital. Mais do que seus votos, Lula est� em busca de uma narrativa de frente ampla contra Bolsonaro. Algo que possa sugerir para a sociedade uma elei��o plebiscit�ria. O apoio de Janones � simb�lico. Mesmo n�o trazendo votos, d� sustenta��o a uma boa narrativa", disse Nunes.

O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que o an�ncio de Janones poderia ter um outro efeito: o de estimular outras candidaturas a apoiar Lula. Nas �ltimas semanas, o PT vem tentando convencer o presidente do Uni�o Brasil, Luciano Bivar, a aderir � campanha de Lula.

Al�m disso, l�deres de parte do MDB defendem que o partido deveria se aliar ao petista e desistir da candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS).

"Quanto mais gente se juntar, maior a possibilidade de encerrarmos as elei��es no primeiro turno. A gente espera que esse apoio estimule mais gente a se juntar � candidatura de Lula. Mas n�o temos salto alto. Estamos preparados para disputar a elei��o em um ou dois turnos", disse o parlamentar petista.

Questionado sobre as cr�ticas feitas por Janones a Lula, Costa disse que o momento n�o � de olhar para o passado.

"A gente est� construindo uma alian�a para o futuro. Muita gente que j� elogiou Bolsonaro ou foi contra Lula, hoje est� com a gente", disse.

A BBC News Brasil enviou perguntas � assessoria de imprensa de Andr� Janones, mas, at� o fechamento desta reportagem, nenhuma resposta havia sido enviada.

- Este texto foi publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/brasil-62402524

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