
O governo federal come�a a pagar nesta ter�a-feira (09/08) a primeira parcela do Aux�lio Brasil com seu novo valor: R$ 600. A estimativa � que pelo menos 20 milh�es de fam�lias em todo o Brasil recebam o benef�cio "turbinado": antes, ele era de R$ 400.
O in�cio do pagamento coincide com a reta final das elei��es presidenciais, fazendo com que observadores e analistas avaliem quais os impactos que isso pode ter no resultado eleitoral.
O aumento de R$ 200 no valor do Aux�lio Brasil foi fruto de intensa articula��o do governo com o Congresso Nacional e classificado por analistas como uma medida eleitoreira. As cr�ticas se fundamentavam no fato de que a medida foi tomada no momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem aparecendo atr�s do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) nas principais pesquisas de inten��o de voto.O governo, no entanto, defendeu a medida como uma forma de dar apoio � popula��o vulner�vel que enfrenta os efeitos do aumento da infla��o dos alimentos e dos combust�veis.
Cr�ticas � parte, pesquisas mais recentes j� apontam uma tend�ncia de alta nas inten��es de voto de Bolsonaro. A d�vida agora �: em que medida o benef�cio de R$ 600 vai afetar a corrida eleitoral?
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Especialistas em pesquisas de inten��o de voto consultados pela BBC News Brasil apontam que o principal efeito do in�cio do Aux�lio Brasil de R$ 600 � que ele dever� levar as elei��es para o segundo turno, contrariando as expectativas de alas do PT que trabalham para que a disputa seja resolvida j� no primeiro turno.
Eles alegam que isso deve acontecer porque o come�o do pagamento dever� melhorar as inten��es de voto de Bolsonaro no segmento do eleitorado que recebe at� dois sal�rios-m�nimos, onde Lula vem apresentando lideran�a e que � um dos que concentra a maior quantidade de votos. Isso diminuiria a dist�ncia entre os dois e reduziria as chances de uma elei��o em apenas um turno, dizem os especialistas.
"A estrat�gia � minar a campanha de Lula no terreno em que ele se sente mais confort�vel: o eleitorado mais pobre", disse o ex-diretor de pesquisa do Datafolha e consultor Alessandro Janoni.
Eles afirmam, no entanto, que esse impacto no eleitorado deve ser limitado e que seria pouco prov�vel que Bolsonaro revertesse a lideran�a de Lula neste segmento considerado estrat�gico do eleitorado.
Aux�lio turbinado acaba em dezembro
A expans�o do Aux�lio Brasil de R$ 400 para R$ 600 foi aprovada pelo Congresso Nacional em julho deste ano por meio de uma emenda constitucional. Ela determinou que o pa�s est� em uma situa��o de emerg�ncia por conta da infla��o dos alimentos e dos combust�veis.
Al�m de ampliar o valor do aux�lio, a medida tamb�m criou benef�cios como um aux�lio a caminhoneiros de R$ 1 mil por m�s — benef�cio igual foi estendido aos taxistas.
A emenda, por�m, estabeleceu que o benef�cio aos motoristas e o Aux�lio-Brasil de R$ 600 s� ser�o pagos at� dezembro deste ano.
A medida se somou � redu��o da carga tribut�ria sobre combust�veis e outros insumos considerados essenciais como eletricidade e telecomunica��es que vinham pressionando para cima a infla��o no pa�s.
Pouco depois de a emenda ser aprovada, as principais pesquisas de inten��o de voto j� come�aram a mostrar uma melhora das inten��es de voto de Bolsonaro.

O Datafolha mostra que, entre junho e julho deste ano, Lula se manteve com 47% de inten��o de votos enquanto Bolsonaro oscilou 1 ponto percentual, saindo de 28% para 29%. A margem de erro da pesquisa � de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Se no cen�rio geral os dados mostram estabilidade, no segmento do eleitorado que ganha at� 2 sal�rios-m�nimos, a mudan�a foi mais sentida. Lula saiu de 56% para 54% das inten��es de voto nesse segmento entre junho e julho. Bolsonaro oscilou de 20% para 23%.
Outra pesquisa indica a mesma tend�ncia. Segundo levantamento divulgado em agosto pela Quaest Consultoria e Pesquisa, Lula saiu de 55% para 52% das inten��es de voto neste segmento entre o final de junho e final de julho. Bolsonaro, por sua vez, saiu de 22% para 25%. A margem de erro da pesquisa � de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Os dados da Quaest mostraram ainda um outro dado. Entre os eleitores entrevistados que disseram ser benefici�rios do Aux�lio Brasil, Lula saiu de 62% das inten��es de voto para 52%, enquanto Bolsonaro saiu de 27% para 29%.
Segundo turno cristalizado
Janoni diz que o in�cio do pagamento do Aux�lio Brasil de R$ 600 dever� impactar positivamente as inten��es de voto de Bolsonaro. Segundo ele, se Bolsonaro souber capitalizar esses ganhos, a elei��o dever� ir para o segundo turno.
"A gente viu que, antes do pagamento, s� com os rumores, j� houve uma melhora no cen�rio de Bolsonaro. Com o pagamento, isso dever crescer um pouco mais. Se ele n�o criar problemas em outros segmentos do eleitorado, isso tende a diminuir a dist�ncia dele em rela��o a Lula e levar a elei��o, definitivamente, para o segundo turno", diz Janoni.
Lideran�as do PT v�m trabalhando para que Lula ven�a a elei��o presidencial j� no primeiro turno, evitando assim um embate ainda mais polarizado com Bolsonaro.
Para que a disputa termine no primeiro turno, um candidato precisa ter mais de 50% dos votos v�lidos, que � a somat�ria dos votos exceto os nulos e brancos.
De acordo com a pesquisa mais recente do Datafolha, Lula tem 52% das inten��es de votos v�lidos. Mas como a margem de erro da pesquisa � de dois pontos percentuais para mais ou para menos, a possibilidade de encerrar a disputa em um turno s� � vista com cautela pelo comando da campanha petista.
O PT tenta evitar passar a imagem de que a campanha estaria "de salto alto" e Lula j� disse que o partido est� preparado para disputar dois turnos.
"Se der certo (a vit�ria no primeiro turno), �timo. Se n�o der no 2 de outubro, vamos para o segundo turno", disse Lula no dia 27 de julho em entrevista ao portal UOL.
Para o cientista pol�tico e professor da Funda��o Get�lio Vargas de S�o Paulo (FGV-SP) Marco Ant�nio Teixeira, o pagamento do aux�lio de R$ 600 � a "cartada definitiva" de Bolsonaro nessas elei��es e dever� consolidar a necessidade de um segundo turno.
"� a cartada definitiva. N�o h� mais prazo para que Bolsonaro comece a crescer. Ou ele come�a a crescer agora, ou sua situa��o ficar� dif�cil. O pagamento ter� impacto, sim, e dever� consolidar uma disputa no segundo turno", explicou o professor.
Ant�nio Lavareda, presidente do conselho cient�fico do Instituto de Pesquisas Sociais, Pol�ticas e Econ�micas (Ipespe), tamb�m diz acreditar que o in�cio do pagamento do aux�lio de R$ 600 diminui as chances de uma elei��o de turno �nico.
"[Essa medida] cristalizar� o apoio a Bolsonaro e, como tal, tornar� mais dif�cil a elei��o ser resolvida no primeiro turno", afirmou Lavareda.
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Impacto limitado
Apesar de concordarem com a possibilidade de que o aux�lio "turbinado" possa levar as elei��es para o segundo turno, os especialistas dizem n�o acreditar que o efeito da medida v� reverter a lideran�a que Lula apresenta no eleitorado mais pobre, segundo as pesquisas de inten��o de voto.
Janoni diz que essa revers�o � improv�vel porque Lula j� ocupa o imagin�rio de parte expressiva desse segmento como algu�m bem-sucedido no combate � fome e � mis�ria.
"Nesse segmento, Lula � o que a publicidade chama de 'top of mind'. � a marca dele e � muito dif�cil reverter isso. N�o basta s� dar dinheiro. Seria preciso um conjunto de pol�ticas p�blicas mais s�lidas e duradouras", avaliou o especialista.
Marco Ant�nio Teixeira, por sua vez, disse que os efeitos desse tipo de pol�tica de transfer�ncia de renda direta s�o ef�meros e podem n�o ser suficientes para sustentar um crescimento consistente de Bolsonaro.
"A gente viu, em 2020, quando o aux�lio emergencial come�ou a ser pago, que houve um pico de popularidade de Bolsonaro. Mas ele, rapidamente, voltou a perder popularidade. A quest�o agora � saber se essa inje��o de popularidade vai durar at� as elei��es", disse o professor.
"� uma sobrevida que est� sendo dada a Bolsonaro para ele chegar no segundo turno. N�o h� elementos que me fa�am crer, agora, que possa haver uma revers�o dessa lideran�a de Lula. A estrat�gia � chegar passar pelo primeiro turno e polarizar com Lula o mais que puder no segundo para tentar tirar a diferen�a", afirmou o professor.
Os especialistas dizem, ainda, que o efeito do aux�lio-caminhoneiro, que tamb�m come�ar� a ser pago agora, e a possibilidade de que benefici�rios do Aux�lio-Brasil possam fazer empr�stimo consignado dever�o ter impactos limitados no eleitorado.
"Os caminhoneiros configuram um segmento estrat�gico para evitar mobiliza��es como as que j� pararam o pa�s, mas em termos eleitorais comp�em um grupo de baixo peso quantitativo. O consignado tem baixo alcance por ser de dif�cil compreens�o e de caracter�sticas muito espec�ficas. Isso dificulta o acesso � maioria dos beneficiados", afirmou Janoni.
Lavareda afirmou que nem mesmo a promessa feita por Bolsonaro de que o benef�cio de R$ 600 poder� ser mantido em 2023 dever� ter os efeitos desejados pela campanha do presidente.
"Por acaso voc� acha que o Lula diria algo diferente disso pro eleitor?", indagou Lavareda. Na semana passada, Lula se comprometeu a avaliar a proposta de manter o valor de R$ 600 ao aux�lio no futuro.
A promessa foi feita ap�s receber o apoio do deputado federal e ex-candidato � Presid�ncia Andr� Janones (Avante-MG). A busca da campanha petita pelo apoio do deputado fez parte da estrat�gia de tentar acabar as elei��es no primeiro turno.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62475613
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