
"No pr�ximo dia 7, vamos todos �s 15h estarmos presentes em Copacabana quando vamos dar um grito muito forte dizendo a quem pertence essa na��o e que o que queremos � transpar�ncia e liberdade". A frase em tom de convoca��o foi dita pelo presidente e candidato � reelei��o Jair Bolsonaro (PL) h� pouco mais de duas semanas a uma plateia repleta de apoiadores no Rio de Janeiro.
Tradicionalmente, os presidentes da Rep�blica celebram o feriado da Independ�ncia do Brasil em uma parada militar realizada na Esplanada dos Minist�rios, em Bras�lia. Neste ano, por�m, Bolsonaro inovou. O presidente vem mobilizando sua milit�ncia para tomar as ruas do bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, em um ato que, segundo especialistas, poder� ser o ponto alto de sua campanha � reelei��o at� agora.
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Mas por que Copacabana? Cientistas pol�ticos e pessoas pr�ximas ao comando da campanha do presidente apontam tr�s fatores como os respons�veis pela celebra��o do 7 de setembro em uma das praias mais famosas do mundo: expectativa de apoio popular, imagens a�reas impactantes nacional e internacionalmente e suporte das For�as Armadas.
Mas eles tamb�m apontam alguns riscos: que os atos acabem afastando de Bolsonaro os eleitores indecisos — caso as manifesta��es sejam percebidas como ataques �s institui��es (como aconteceu no ano passado) ou caso ocorram epis�dios de viol�ncia.

Parada militar e ato pol�tico
O ato em alus�o ao feriado de 7 de setembro em Copacabana acontece em meio � disputa do primeiro turno das elei��es presidenciais. Bolsonaro vem aparecendo em segundo lugar nas principais pesquisas de inten��o de voto, atr�s do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT). Apesar disso, a maior parte delas mostra que o presidente vem reduzindo a diferen�a que tinha em rela��o ao petista.De acordo com a pesquisa do Instituto Datafolha mais recente, Lula tem 47% dos votos e Bolsonaro aparece com 32%, uma diferen�a de 15 pontos percentuais. Apesar disso, a pesquisa mostra que, em rela��o a maio, Bolsonaro vem reduzindo a dist�ncia para o petista. Naquele m�s, a diferen�a era de 21 pontos.
E � nesse cen�rio de aparente subida em suas inten��es de voto que o ato em Copacabana vai ocorrer.
"Vai ser o maior ato da campanha dele at� agora. Considerando as convoca��es e a mobiliza��o da sua milit�ncia, n�o acredito que ser� algo pequeno o que ir� ocorrer em Copacabana", afirma a cientista pol�tica Viviane Gon�alves, professora do Departamento de Ci�ncia Pol�tica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Expectativa de apoio
Integrantes da equipe de campanha de Bolsonaro com quem a BBC News Brasil conversou nos �ltimos dias enfatizaram que a expectativa de apoio popular maci�o em Copacabana foi um dos fatores que levaram � escolha da �rea para o ato. Eles citam a grande concentra��o de aposentados e militares reformados que vivem no bairro, um p�blico majoritariamente bolsonarista.
Para a doutora em Ci�ncia Pol�tica pela PUC de S�o Paulo Deysi Cioccari, a escolha de Copacabana como palco desse ato foi estrat�gica.
"Nesse bairro, Bolsonaro tem um apoio muito maior. � uma regi�o do Rio que � concentradamente bolsonarista", explicou a especialista.
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Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), Bolsonaro teve 61,43% dos votos na zona eleitoral que compreende o bairro de Copacabana contra 38,57% do ent�o candidato petista Fernando Haddad.
Viviane Gon�alves aponta que Copacabana tamb�m remonta a mem�ria das manifesta��es em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, e as demonstra��es de apoio a Bolsonaro esde 2018.
"O bairro evoca essa mem�ria de pontos altos do antipetismo e do bolsonarismo", explicou a professora.
Impacto nacional e internacional
Outro elemento citado pelas especialistas e pela equipe de campanha de Bolsonaro � o potencial impacto que uma manifesta��o em Copacabana pode gerar na compara��o com outros locais do Brasil como a Esplanada dos Minist�rios, em Bras�lia, ou a Avenida Paulista, em S�o Paulo. A ideia, segundo eles, � que o ato sirva como uma demonstra��o de que Bolsonaro tem apoio popular e que essa imagem repercuta dentro e fora do pa�s.
"Em Copacabana, at� pela geografia, com ruas mais estreitas, � mais f�cil voc� dar a impress�o de que uma manifesta��o est� lotada. Em Bras�lia, cheia de espa�os amplos, � muito mais dif�cil", disse Viviane Gon�alves.
Segundo ela, com as ruas de Copacabana lotadas, a campanha dever� fazer imagens a�reas e divulg�-las no material de campanha do candidato.
Para Deysi Cioccari, as imagens de ruas lotadas em Copacabana ser�o usadas para fortalecer a narrativa da campanha de Bolsonaro.
"N�o se trata tanto de quantos votos ele vai conseguir ganhar, mas de refor�ar essa narrativa (de apoio popular), especialmente nas redes sociais, onde Bolsonaro se mostra mais eficiente do que seu advers�rio", afirmou a especialista.
Nos bastidores da campanha de Bolsonaro, o poss�vel impacto internacional tamb�m esteve presente no c�lculo que definiu Copacabana como o grande palco do 7 de setembro de Bolsonaro.
A tese � de que Copacabana � um dos pontos tur�sticos mais conhecidos do Brasil em todo o mundo. A imagem das ruas do bairro lotadas em apoio a Bolsonaro teria, segundo a campanha, mais impacto internacional do que se o ato fosse na Avenida Paulista ou em qualquer outro ponto do pa�s. Essa demonstra��o de apoio poderia, segundo integrantes da campanha, diminuir as resist�ncias que alguns pa�ses v�m demonstrando em rela��o a Bolsonaro nos �ltimos meses.
Tanto Viviane quanto Deysi ponderam, contudo, que o sucesso do ato vai depender de um fator importante: a forma como a manifesta��o se desenrolar.
No ato de 7 de setembro do ano passado, Bolsonaro fez cr�ticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que foram interpretadas como amea�as ao Judici�rio. Neste ano, integrantes da campanha do presidente avaliam que esse tipo de discurso afasta eleitores indecisos, essenciais para que Bolsonaro seja reeleito.

"Se houver vandalismo ou outro tipo de viol�ncia, isso pode acabar afastando o eleitor indeciso que o Bolsonaro tanto est� procurando", afirmou Viviane Gon�alves.
"Caso seja um ato ordeiro, pac�fico e efetivamente lotado, isso pode ter um impacto positivo importante para ele (Bolsonaro), especialmente em uma campanha t�o curta como a que temos hoje em dia", afirmou Deysi Cioccari.

Apoio militar garantido
O terceiro ponto elencado como determinante para a escolha de foi a disponibilidade das For�as Armadas em organizar eventos na cidade durante o 7 de setembro.
Em nota enviada � BBC News Brasil, o Minist�rio da Defesa disse que, no Rio de Janeiro, haver� uma parada naval com desfile de navios militares na orla da cidade, um show da Esquadrilha da Fuma�a, salto de paraquedistas, apresenta��o de bandas militares e execu��o de salva de tiros.
Um dos roteiros previstos da parada naval � que ela comece na Ba�a de Guanabara e se passe pela Praia de Copacabana. Tradicionalmente, essa parada era realizada no per�odo da manh�, mas a expectativa � de que ela ocorra � tarde, coincidindo com o evento convocado por Bolsonaro.
Em princ�pio, o desfile de ve�culos blindados que estava previsto para ser realizado no Centro do Rio n�o dever� acontecer e tamb�m n�o dever� ser transferido para Copacabana.
A BBC News Brasil perguntou sobre os custos da mobiliza��o militar no Rio de Janeiro em raz�o do 7 de setembro, mas a pasta n�o respondeu.
Al�m dos eventos no Rio, o minist�rio disse que ser�o realizados atos nas demais capitais do pa�s e nas cidades de Aparecida de Goi�nia (GO) e Paracatu (MG).
Para Viviane Gon�alves, a presen�a dos militares nos festejos em Copacabana refor�a a vincula��o da imagem de Bolsonaro com as For�as Armadas.
"A participa��o dos militares era esperada porque isso faz parte da imagem que ele propaga. Tanto � assim que uma das m�sicas de sua campanha cita o fato de ele ter sido capit�o do Ex�rcito. A ida dos militares refor�a esse v�nculo forte entre a imagem dele e dos militares. Ser� uma demonstra��o de for�a", explica a especialista.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62747326
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