
Dono de um contrato milion�rio de pesquisas para o governo federal, o Instituto Paran� Pesquisas divulgou nessa ter�a-feira (13) um levantamento que aponta empate t�cnico entre Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Numericamente, o petista fica � frente do presidente, com 39,6% a 36,5%, por�m a margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos faz com que Bolsonaro contabilize entre 34,3% e 38,7%, enquanto Lula oscila de 37,4% a 41,8%.
Com pequenas diferen�as, esse resultado se repete desde maio, enquanto institutos como Datafolha, Ipec e Quaest, apontaram lideran�a de Lula no per�odo.
Desde o in�cio da disputa presidencial, o Paran� Pesquisas realizou 38 sondagens de inten��o de voto com resultados menos negativos para Bolsonaro do que de institutos tradicionais.
Em mar�o, foi assinado um contrato de R$ 1,6 milh�o entre o Paran� Pesquisas e o governo federal para fazer sondagens sobre pol�ticas p�blicas. A vig�ncia � de um ano.
� reportagem Murilo Hidalgo, um dos donos do instituto, afirmou nunca ter disputado uma concorr�ncia p�blica e que essa decis�o fez parte de um planejamento estrat�gico da empresa.
"Temos confian�a no trabalho que realizamos e a margem de acerto do instituto pode ser verificada em pesquisas realizadas em outras elei��es", disse Hidalgo em respostas a questionamentos enviados por email.
Ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a empresa declarou ter financiado ela pr�pria 17 de suas pesquisas eleitorais para a Presid�ncia da Rep�blica at� o in�cio de setembro -46% do total-, uma postura que gera desconfian�a no setor.
"� estranho que um instituto que vive de vender pesquisas financie demais seu trabalho", disse Duilio Novaes, presidente da Abep (Associa��o Brasileira de Empresas de Pesquisa).
Para Novaes, essa � uma situa��o que possibilita a oculta��o de eventual contratante, abrindo caminho para o caixa dois, proibido pela legisla��o eleitoral.
De acordo com a Abep, 37% das pesquisas eleitorais registradas no TSE entre janeiro e junho deste ano foram supostamente financiadas por recursos dos pr�prios institutos.
A entidade avalia que a pr�tica d� margem a sondagens falsas que inflariam o desempenho de determinados candidatos com o intuito de induzir eleitores a apoiar aquele postulante.
A Abep entregou o levantamento no fim de agosto para o MPF (Minist�rio P�blico Federal) e o TSE. O MPF j� vinha investigando casos isolados de empresas que praticam o autofinanciamento.
De acordo com os dados, a quantidade de pesquisas financiadas pelos pr�prios institutos teve um ritmo de crescimento maior -de 5 para 54, de janeiro a junho- do que as contratadas, que passaram de 18 para 96 no mesmo per�odo.
A atua��o mais relevante do Instituto Paran� Pesquisas com levantamos pr�prios, no entanto, s� se verificou a partir de julho, segundo os dados do TSE.
O Datafolha � um instituto independente de pesquisa de opini�o que pertence ao Grupo Folha e atua com pesquisa eleitoral e levantamentos estat�sticos para o mercado.
Os crit�rios t�cnicos das pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Paran� tamb�m j� vinham despertando suspeitas da Abep e seus associados -a reportagem conversou com alguns deles, sob a condi��o de anonimato.
Em 2017, a entidade questionou uma das pesquisas do instituto, que mostrou o suposto apoio da maioria dos brasileiros a uma interven��o militar.
Sob risco de expuls�o, segundo a Abep, o Instituto Paran� Pesquisas preferiu se retirar da associa��o a se defender. "Dois meses depois, publicaram uma explica��o sobre os nossos questionamentos na p�gina deles na internet", disse Novaes.
Para o referido levantamento, o instituto paranaense disse ter ouvido entrevistados de forma online, projetando os resultados para a popula��o nacional.
"Por essa metodologia, eles teriam de possuir uma base digital de dados de toda a popula��o brasileira, algo que nem as maiores empresas do pa�s possuem", afirma o presidente da Abep.
Dono do Paran� Pesquisas, Murilo Hidalgo recentemente publicou uma foto ao lado de Bolsonaro em uma rede social.
Em 2020, Hidalgo e outros empres�rios e pol�ticos foram denunciados � Justi�a pelo MPF por um suposto esquema de lavagem de dinheiro. Ele foi acusado de forjar contratos de pesquisa, no valor de R$ 750 mil. O dinheiro teria ido parar nas m�os do ex-senador Paulo Bauer (PSDB-SC). Ambos negam.
A investiga��o foi feita no �mbito da Opera��o Lava Jato, com base na dela��o premiada de Nelson Mello, ex-diretor da Hypermarcas.
CONTRATO COM O GOVERNO
Em mar�o deste ano, a Secretaria de Comunica��o Social da Presid�ncia da Rep�blica, hoje vinculada ao Minist�rio das Comunica��es, assinou um contrato de R$ 1,6 milh�o com a empresa de Hidalgo.
O objetivo, segundo o contrato, � a realiza��o de "pesquisas de opini�o p�blica" sobre quest�es ligadas a pol�ticas p�blicas e � reputa��o do governo.
A licita��o foi questionada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) no TCU (Tribunal de Contas da Uni�o). Randolfe integra a coordena��o da campanha de Lula.
A �rea t�cnica da corte recomendou o cancelamento do preg�o eletr�nico que levou � vit�ria do Instituto Paran�, pois entendeu que o contrato p�blico, atualmente em vigor, poderia ser usado para ajudar o presidente em sua campanha.
O ministro Walton Rodrigues, por�m, divergiu dos auditores, afirmando que o objeto do contrato n�o tinha rela��o com as elei��es. Mesmo assim, Walton, que foi o relator do caso, registrou sua estranheza na realiza��o de "pesquisas de opini�o" sobre o governo em per�odo de campanha. O plen�rio, por fim, autorizou a contrata��o.
"O presidente suspendeu a execu��o de pesquisas de opini�o p�blica durante todo o seu mandato at� agora (...), mas pretende retom�-las justamente no ano eleitoral do final de seu mandato", escreveu o ministro em seu voto.
EMPRES�RIO DIZ QUE RELA��O COM BOLSONARO � INSTITUCIONAL
Por email � reportagem, Murilo Hidalgo disse que atua h� 32 anos no mercado e que sua rela��o com Bolsonaro � "meramente institucional".
O empres�rio tamb�m disse manter contato com "os demais pol�ticos de outras correntes." Afirmou que a metodologia de suas pesquisas � p�blica e detalhada no ato do registro no TSE. Segundo o empres�rio, o financiamento de pesquisas pr�prias "n�o � algo exclusivo do instituto."
"Faz parte da estrat�gia de marketing da empresa. Vale lembrar que nas �ltimas elei��es municipais, o Ibope [hoje Ipec] e outras empresas utilizaram-se da mesma estrat�gia e n�o temos conhecimento de que essas empresas foram tamb�m questionadas."
Sobre o contrato assinado em mar�o com a Secretaria de Comunica��o da Presid�ncia da Rep�blica, Hidalgo informou ser esta a primeira vez que trabalha para um �rg�o p�blico e disse que os servi�os ainda n�o foram prestados.
O instituto afirma ainda ter respondido aos questionamentos da Abep, mas achou melhor "se desvincular, pois n�o houve retorno sobre outras demandas."
Hidalgo tamb�m afirmou que a den�ncia do MPF "n�o � ver�dica". O empres�rio disse n�o ter sido ouvido pela Justi�a nesse caso.
O secret�rio de Comunica��o Social, coronel Andr� de Sousa Costa, disse � reportagem que o governo precisava dessas pesquisas para a melhor aloca��o de recursos publicit�rios.
"Eu preciso saber a avalia��o dos brasileiros sobre as pol�ticas p�blicas do governo para decidir quais os melhores canais de veicula��o de propaganda ou de esclarecimentos sobre as a��es e medidas que s�o tomadas", disse.
O secret�rio negou qualquer intuito de uso pol�tico ou eleitoral do instituto. "A Secom definir� as perguntas [relativas ao contrato] e n�o haver� nada de cunho eleitoral".