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Estado de Minas AP�S ELEI��ES

Mais ausente que 'pato manco': a reclus�o de Bolsonaro ap�s derrota para Lula

Presidente praticamente n�o saiu do Pal�cio do Alvorada e interrompeu lives semanais


26/11/2022 07:50 - atualizado 26/11/2022 07:55


Bolsonaro no Palácio do Alvorada
Bolsonaro no Pal�cio do Alvorada, em 1� de Novembro: em fala curta, n�o reconheceu vit�ria de Lula (foto: Reuters)

Em quatro semanas ap�s fracassar em sua tentativa de reelei��o, o presidente Jair Bolsonaro (PL) pouco apareceu em p�blico ou em suas redes sociais.

De 31 de outubro, dia seguinte � vit�ria de Luiz In�cio Lula da Silva (PT), at� a manh� desta sexta-feira (25/11), o presidente havia feito apenas dois pronunciamentos, que somaram menos de cinco minutos, e ido tr�s vezes ao Pal�cio do Planalto, que � o seu local oficial de trabalho.

No s�bado (26/11), deve sair de Bras�lia pela primeira vez. H� expectativa de que participe da cerim�nia de forma��o dos aspirantes da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ).

A postura mais reclusa contrasta com o estilo nada discreto de governar que marcou seu mandato.

Nos �ltimos quatro anos, o Brasil acompanhou diariamente declara��es e apari��es, seja na porta do Pal�cio do Alvorada, sua resid�ncia oficial, em motociatas pelo pa�s ou em lives nas redes sociais.

No entanto, at� mesmo a tradicional transmiss�o ao vivo que fazia toda quinta-feira de noite foi interrompida em novembro.

Alguns cr�ticos t�m desconfiado do sil�ncio. Acusam Bolsonaro de tentar costurar nos bastidores uma esp�cie de conspira��o para tentar anular a elei��o.

Essas cr�ticas ganharam f�lego quando Bolsonaro apresentou na ter�a-feira (22/11), junto com seu partido, o PL, um pedido para invalidar 59% dos votos do segundo turno.

A rea��o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por�m, foi dura. O presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes, aplicou uma multa de R$ 22,9 milh�es ao PL e aos outros dois partidos que integraram a coliga��o que apoiou a tentativa de reelei��o, Republicanos e PP.

Na avalia��o de Moraes, n�o foram apresentados ind�cios suficientes de irregularidades que justifiquem o pedido para anular os votos.

'Pato manco'

Pato manco � a tradu��o para lame duck, express�o usada nos Estados Unidos para se referir ao presidente em final de mandato — ou seja, um mandat�rio que ainda est� no cargo, mas com seu poder e prest�gio esvaziados.

Por causa desse esvaziamento de for�a pol�tica, � natural que o o governo de um presidente em final de mandato perca ritmo, explica a cientista pol�tica Beatriz Rey, pesquisadora visitante da Universidade Johns Hopkins, em Washington.

Ela considera, por�m, que a ociosidade de Bolsonaro nas �ltimas semanas � anormal e ainda pior que o comportamento do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tamb�m n�o reconheceu a derrota em 2020 para o atual presidente americano, Joe Biden.

Na sua avalia��o, a aus�ncia de Bolsonaro est� relacionado a um inconformismo com a derrota e a dificuldade em reconhecer publicamente a vit�ria de Lula.

At� o momento, o presidente n�o parabenizou o advers�rio pela elei��o, postura que � praxe em regimes democr�ticos.

"O que essa reclus�o mostra � que realmente ele n�o � digno do cargo que ocupa. Porque ocupar a Presid�ncia da Rep�blica significa respeitar a institui��o da Presid�ncia da Rep�blica. Essa reclus�o dele � um desrespeito, na minha vis�o", afirma Rey.

Para al�m do cen�rio pol�tico adverso, Bolsonaro foi diagnosticado com erisipela, uma infec��o bacteriana nas pernas, logo ap�s a elei��o, segundo relatos da imprensa brasileira.

O diagn�stico n�o foi confirmado oficialmente pelo Pal�cio do Planalto, mas, de acordo com seu vice, o general Hamilton Mour�o, a doen�a o impedia de vestir cal�as e seria o motivo de o presidente ter passado quase 20 dias sem sair do Pal�cio do Alvorada, sua resid�ncia.

No dia 16 de novembro, por exemplo, Mour�o assumiu a tarefa de receber cartas credenciais de embaixadores estrangeiros no Brasil, protocolo que costuma ser realizado pelo presidente.

Dois dias depois, o general Braga Netto, que concorreu neste elei��o a vice na chapa de Bolsonaro, disse a apoiadores que o presidente estaria bem, recebendo visitas no Alvorada.

Seja pelo abatimento p�s-derrota ou por quest�es de sa�de, o fato � que Bolsonaro teve, em m�dia, menos de duas horas de compromissos oficiais por dia �til desde 31 de outubro. � o que mostra levantamento a partir de sua agenda p�blica.

E todos esses compromissos foram reuni�es fechadas com integrantes do governo ou aliados pol�ticos, quase sempre no Alvorada.

O presidente esteve apenas tr�s vezes no Pal�cio do Planalto, primeiro em uma reuni�o com Paulo Guedes em 31 de outubro. Depois, no dia 3 de novembro, quando se encontrou brevemente com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, fora da agenda oficial. E voltou s� no dia 23, quando sua agenda registrou apenas um encontro com seu ex-ministro e agora senador eleito, Rog�rio Marinho.

Fora isso, fez duas apari��es p�blicas no dia primeiro de novembro. Primeiro, para um pronunciamento de cerca de dois minutos, em que n�o mencionou diretamente Lula nem reconheceu a derrota. E, depois, em um encontro com ministros do Supremo Tribunal Federal na sede da Corte.


Protesto contra a eleição de Lula em Anápolis, Goiás, no feriado de 2 de novembro
Protesto contra a elei��o de Lula em An�polis, Goi�s, no feriado de 2 de novembro (foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

No curto pronunciamento, Bolsonaro legitimou protestos que bloqueavam estradas pelo pa�s ao dizer que aqueles movimentos populares eram "fruto de indigna��o e sentimento de injusti�a, de como se deu o processo eleitoral".

Esses atos, por�m, t�m vi�s antidemocr�tico, pois os manifestantes costumam pedir interven��o militar contra o resultado das elei��es.

Por outro lado, Bolsonaro repudiou em sua fala pr�ticas como "invas�o de propriedade, destrui��o de patrim�nio e cerceamento do direito de ir e vir".

No dia seguinte, 2 de novembro, fez outro r�pido pronunciamento nas redes sociais, com teor semelhante.

Disse que entendia os manifestantes, que tamb�m estava triste, afirmou que os protestos eram leg�timos, mas pediu a libera��o das estradas para n�o afetar a economia e o direito de ir e vir da popula��o. Mais uma vez, n�o reconheceu a vit�ria de Lula nem repudiou a contesta��o do resultado eleitoral.

Nesse per�odo de reclus�o, o presidente faltou, inclusive, a dois grandes encontros internacionais: a C�pula do Clima realizada pela ONU no Egito, da qual Lula participou com destaque. E tamb�m deixou de ir � Indon�sia para a C�pula do G20, reuni�o das maiores economias do mundo.

N�o � de hoje, por�m, que Bolsonaro � criticado por ter uma agenda pouco carregada de compromissos oficiais.

Um levantamento liderado por Dalson Figueiredo, professor de Ci�ncia Pol�tica da Universidade Federal de Pernambuco, divulgado em abril, mostrou que, desde sua posse at� fevereiro deste ano, o presidente havia trabalhado, em m�dia 4,8 horas por dia �til, considerando os compromissos p�blicos divulgados em sua agenda.

Isso n�o inclu�a lives nas redes sociais nem compromissos de campanha, que n�o havia come�ado naquela �poca.

No passado, live at� do hospital

Bolsonaro n�o reduziu apenas os compromissos p�blicos. Se em outras ocasi�es em que teve quest�es de sa�de, o presidente fez transmiss�es ao vivo de dentro do hospital, dessa vez sua presen�a nas redes sociais, vista como um trunfo pol�tico, tamb�m despencou.

O presidente interrompeu, por exemplo, o h�bito de realizar uma live todas as quintas-feiras � noite, momento em que comentava medidas do governo e temas da semana, al�m de atacar advers�rios.

Cr�tico do papel da imprensa, ele usava essa transmiss�o como um canal direto de comunica��o com seus apoiadores, sem precisar responder perguntas de jornalistas sobre temas inc�modos.

At� a manh� de 25 de outubro, foram apenas tr�s mensagens compartilhadas no feed do Twitter, duas no do Instagram e quatro no do Facebook, redes que o presidente costumava atualizar quase todos os dias.

Desde a derrota, Bolsonaro tem priorizado outros canais, como o Tik Tok, em que vem compartilhando basicamente v�deos com imagens suas em fundo musical.

Apesar de n�o haver qualquer fala do presidente, apoiadores tentam desvendar nas imagens poss�veis mensagens subliminares. Em um desses v�deos, por exemplo, em que Bolsonaro aparece abra�ado com pessoas fantasiadas de Power Rangers, personagens de um programa infantil, uma pessoa sugere que isso representaria o apoio dos "super-her�is das For�as Armadas".

%uD83D%uDEA8AGORA: V�deo novo no perfil do Presidente Bolsonaro. Algu�m decifra? pic.twitter.com/LI8VZ1dD34

— Jouberth Souza %uD83C%uDDE7%uD83C%uDDF7 (@Jouberth19) November 22, 2022

J� no Telegram, desde 7 de novembro ele tem feito atualiza��es di�rias, com mensagens focadas em divulgar feitos do seu governo. O mesmo na sua conta no Linkedin, rede voltada para o mercado de trabalho. L�, atualiza��es frequentes tamb�m destacam a��es da sua gest�o.

Sua presen�a mais forte no Linkedin at� provocou piadas de que estaria procurando um novo emprego. Seu futuro, por�m, j� estaria acertado com a dire��o do PL, seu partido.

Segundo not�cias da imprensa brasileira, Bolsonaro ter� um cargo remunerado na sigla, que bancar� com recursos do fundo partid�rio tamb�m o aluguel de uma casa e de um escrit�rio para ele em Bras�lia. O valor do sal�rio n�o foi divulgado.

Sua renda deve ser complementada com duas aposentadorias que Bolsonaro tem direito a acumular e somam R$ 42 mil.

Uma ele j� recebe, de quase R$ 12 mil, como capit�o reformado do Ex�rcito. A outra, de cerca de R$ 30 mil, Bolsonaro tem direito pelos quase trinta anos que atuou como deputado federal. Ele j� disse que pretende solicitar essa aposentadoria quando deixar a Presid�ncia.

Tentativa de anular urnas

A reclus�o, para alguns aliados, seria "estrat�gica", para organizar a oposi��o ao futuro governo Lula, ao mesmo tempo que tenta reverter a derrota, repetindo os argumentos de que as urnas eletr�nicas n�o seriam seguras - apesar de a lisura das elei��es ter sido confirmada por entidades como o Tribunal de Contas da Uni�o, a Ordem dos Advogados do Brasil e observadores internacionais, como a Organiza��o dos Estados Americanos.

Na �ltima semana, o PL, partido de Bolsonaro, ingressou com uma a��o no Tribunal Superior Eleitoral pedindo a invalida��o de 59% dos votos do segundo turno das elei��es.

O principal problema detectado pela consultoria contratada pelo partido foi o fato de que as urnas de modelos anteriores a 2020 n�o gerariam arquivos de log que permitam saber, pelo nome do arquivo, a qual urna ele se refere.

"Arquivo log" � um arquivo de texto que cont�m uma esp�cie de "biografia" da urna. Ele informa, por exemplo, dados sobre quantas vezes ela foi ligada, desligada e em que momento os programas foram inseridos. Esse arquivo � considerado importante porque qualquer tentativa de acesso irregular � urna ficaria registrada nele.

Segundo a peti��o do PL, as urnas fabricadas antes de 2020 n�o estariam gerando arquivos log com um nome individualizado e, por isso, n�o seria poss�vel relacionar um arquivo log espec�fico a uma determinada urna.

No entanto, especialistas em seguran�a eleitoral ouvidos pela BBC News Brasil, dizem que o relat�rio do PL � falho. Segundo eles, bastaria abrir os arquivos de log para encontrar outras informa��es precisas que tamb�m permitem identificar a qual urna ele pertence. Al�m disso, afirmam que a quest�o apontada no relat�rio n�o significa que houve qualquer adultera��o ou erro de contagem de votos.

"� como se, em vez de cada urna diferente dizer seu nome no arquivo de log, todas elas dissessem o nome 'Enzo'. Por�m, elas ainda assim dizem seu RG e CPF, que permitem a sua identifica��o", explica Marcos Simpl�cio, professor de Engenharia de Computa��o da Escola Polit�cnica da Universidade de S�o Paulo (USP). Ele � pesquisador nas �reas de cyberseguran�a e criptografia, e vice-coordenador do conv�nio USP-TSE que analisa a seguran�a do sistema de vota��o brasileiro.

Esses especialistas tamb�m criticaram o PL por ter focado seu pedido apenas na vota��o do segundo turno, sendo que as mesmas urnas foram usadas no primeiro turno das elei��es, quando 99 deputados federais do pr�prio partido foram eleitos, formando a futura maior bancada da C�mara.


Moraes falando e olhando para a lateral durante evento
Em decis�o desta quarta-feira (23/11), Moraes afirmou que coliga��o de Bolsonaro demonstrou 'm�-f� [...] em seu esdr�xulo e il�cito pedido' (foto: Reuters)

O ministro Alexandre de Moraes, inclusive, reagiu ao pedido do PL dizendo que a a��o s� teria validade se abrangesse tamb�m o primeiro turno. O partido, por�m, manteve a solicita��o apenas para o segundo turno.

Com isso, o presidente do TSE multou o PL e os outros dois partidos da coliga��o que apoiou a reelei��o de Bolsonaro — o PP e o Republicanos — em R$ 22,9 milh�es e suspendeu o fundo partid�rio das tr�s legendas.

A justificativa � que teria havido litig�ncia de m�-f� no pedido do PL, ou seja, a Justi�a teria sido acionada de forma irrespons�vel pelo partido.

� bastante improv�vel que o pedido do PL invalide o resultado das elei��es de 30 de outubro, ent�o talvez voc� esteja se perguntando qual � o c�lculo do partido ao questionar as urnas.

Apesar do fracasso na tentativa de reverter o resultado eleitoral, a a��o do PL pode servir de combust�vel para manter os apoiadores mais fi�is de Bolsonaro engajados.

Para cr�ticos do presidente, essa seria a principal finalidade da iniciativa: manteria uma base de apoio mobilizada, seja para liderar a oposi��o a Lula, seja manter seu poder de barganha pol�tico, algo que pode ser �til tanto em em poss�veis batalhas futuras na Justi�a.

Atualmente, h� quatro inqu�ritos autorizados pelo STF em que o presidente � investigado por suspeitas de diferentes crimes. Bolsonaro tamb�m enfrenta as acusa��es de crimes feitas pela CPI da Covid, que est�o em apura��o pela PGR.

No entanto, a partir do momento em que deixar a Presid�ncia da Rep�blica, Bolsonaro passa a responder por todas essas suspeitas na Justi�a Comum. Ou seja, a Pol�cia Federal pode continuar as investiga��es sem autoriza��o do Supremo, as apura��es que est�o sendo feitas pela PGR passam para a compet�ncia de inst�ncias inferiores do Minist�rio P�blico e os processos no TSE passam para o TRE da regi�o onde houve a suspeita.

Se o Minist�rio P�blico decidir fazer uma den�ncia contra Bolsonaro, ele ser� julgado por um juiz de primeira inst�ncia.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63762494


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