
Mas ela pr�pria admite que o desafio ser� maior que o enfrentado quando foi ministra pela primeira vez, no primeiro mandato de Lula.
Naquela ocasi�o, Marina Silva implementou um programa ambicioso de controle do desmatamento. Mesmo assim, foram necess�rios dois anos para come�ar a ver resultados.
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Em 2003 e 2004, os dois primeiros anos de governo Lula, as �reas destru�das de floresta continuaram a crescer. Mas de 2005 em diante a queda foi ancentuada. Em oito anos de governo, o desmatamento caiu 67%.
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Marina Silva deu entrevista � BBC News Brasil em novembro duante a COP27, a confer�ncia das Na��es Unidas sobre mudan�as clim�ticas. Na �poca, ainda n�o havia sido confirmada para o Minist�rio do Meio Ambiente, mas j� falava e era tratada como ministra por representantes estrangeiros presentes � confer�ncia.
"A sociedade sabe que agora a prioridade � combater sem tr�gua o desmatamento criminoso para que se alcance o desmatamento zero", disse. "N�o � algo que seja f�cil, porque hoje n�s temos uma situa��o incomparavelmente mais grave do que t�nhamos em 2003, mas temos uma vantagem. N�s j� temos uma experi�ncia que deu certo", disse na ocasi�o � BBC News Brasil.
Na entrevista, ela indica quais ser�o as prioridades do governo Lula na �rea ambiental e garante que o petista "mudou" de seus primeiros mandatos para hoje. Passou a considerar, segundo ela, o combate ao desmatamento uma "prioridade".
Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 a 2008. Deixou o minist�rio dois anos antes do fim do segundo mandato de Lula ap�s desentendimentos com ministros de outras pastas, que a acusavam de travar projetos de desenvolvimento, como o Programa de Acelera��o do Crescimento, na �poca gerido por Dilma Rousseff. Sem receber apoio de Lula diante de press�es para flexibilizar regras ambientais, pediu demiss�o.
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"O presidente Lula mudou. Naquela �poca, o combate �s atividades ilegais e a pol�tica ambiental eram diretrizes s� do minist�rio (do Meio Ambiente). Agora, o pr�prio presidente assumiu como sendo de todo o governo", afirmou. "Foi ele que disse que a pol�tica ambiental vai ser transversal. Foi ele que disse que o clima est� no mais alto n�vel de prioridade e que queremos chegar ao desmatamento zero."
Veja os principais trechos da entrevista feita durante a COP27, em Sharm El Sheikh:
BBC News Brasil - O Brasil alcan�ou taxa de desmatamento recorde nos �ltimos anos e um aumento nas emiss�es de gases do efeito estufa. A senhora acredita que � poss�vel reverter essa tend�ncia ainda em 2023, no primeiro ano do governo Lula?
Marina Silva - N�s temos uma diferen�a na abordagem do que vinha sendo feito no governo Bolsonaro, que foi o desmonte das pol�ticas p�blicas de modo geral, mas particularmente na �rea ambiental. Tivemos corte de or�amento, intimida��o das equipes [de fiscaliza��o], substitui��o de t�cnicos por policiais e a expectativa de mudar a lei para favorecer criminosos.
Tudo isso muda agora, com uma expectativa de que a sociedade saiba que a prioridade � combater sem tr�gua o desmatamento criminoso, para que se alcance o desmatamento zero. O Brasil vai recuperar as pol�ticas que j� deram certo e atualiz�-las, para que a gente consiga o resultado necess�rio para reverter esse quadro atual. N�o � algo f�cil, porque hoje n�s temos uma situa��o incomparavelmente mais grave do que t�nhamos em 2003. Mas temos uma vantagem: a experi�ncia do que deu certo. Sabemos o que fazer e como fazer.

Agora � uma quest�o de articular essas pol�ticas para conseguir uma resposta efetiva. Com certeza fica dif�cil voc� dizer o n�mero percentual [de queda do desmatamento]. Eu mesma, quando fui ministra do Meio Ambiente e fizemos o planejamento, estabeleci metas inferiores �quilo que n�s realmente alcan�amos. Ent�o eu prefiro seguir pelo caminho sabendo que n�o h� mais tempo a perder e que a resposta precisa ter a urg�ncia que a gravidade do problema exige. O Brasil tem o compromisso do desmatamento zero at� 2030 e � esse o objetivo que vamos perseguir.
BBC News Brasil - A senhora falou em resgatar e atualizar pol�ticas na �rea ambiental. Mas o que foi feito a partir de 2003, no primeiro governo Lula, que pode ser copiado agora e o que precisa ser modificado para alcan�ar essa meta de desmatamento zero?
Silva - Quando eu e o presidente Lula fizemos nosso reencontro para a composi��o pol�tica e program�tica — do ponto de vista pessoal, n�s nunca rompemos — divulgamos um documento no qual ele se compromete com a sociedade brasileira. Nesse documento, est� estabelecido o que ser� feito para resgatar a agenda ambiental perdida. O Plano de Preven��o de Controle do Desmatamento � algo a ser resgatado, mas agregando novos instrumentos e novas medidas, como, por exemplo, na �rea de ordenamento territorial e destina��o de �reas florestadas.
Precisamos pensar como destino as terras ind�genas e as unidades de conserva��o e uso sustent�vel. Isso � uma medida que j� estava estabelecida l� atr�s, mas que agora virou uma prioridade de alto n�vel. Tamb�m precisamos atualizar uma a��o mais integrada com os Estados. O plano surge como a��o do Governo Federal, mas, para ser realmente integrado, precisa da a��o dos outros entes federativos.

Mas o Governo Federal n�o vai esperar pelos Estados e precisa come�ar a fazer o trabalho. Ou seja, a concep��o do plano que t�nhamos continua atual, com o ordenamento territorial e fundi�rio, o combate �s pr�ticas ilegais e o desenvolvimento sustent�vel. Mas isso agora est� combinado com a economia e a infraestrutura. Tamb�m precisamos transitar para uma agricultura de baixo carbono. Todos esses fatores s�o instrumentos novos que far�o a diferen�a. At� porque n�o basta tirar e proibir o que n�o pode. � preciso colocar alguma coisa no lugar, para melhorar a vida das pessoas, gerar emprego e renda, possibilitar investimentos.
O que � muito interessante de ver � que todos os parceiros do Brasil est�o �vidos para voltar a cooperar. Nas conversas que tive com Alemanha, Reino Unido, Canad�, Noruega, enfim, todos os parceiros t�m sinalizado e entendido que o Brasil � o pa�s que pode mudar o paradigma, porque re�ne as melhores condi��es para fazer isso. E as pessoas querem ver o Brasil liderando pelo exemplo.
BBC News Brasil - Quando a senhora foi ministra do Meio Ambiente, colocou em a��o o projeto que foi capaz de reduzir o desmatamento em mais de 60% at� o fim do governo Lula. Mas a senhora deixou o minist�rio, segundo o que se falava na �poca, por press�es de outras pastas, que reclamavam que o minist�rio do Meio Ambiente retardava projetos de desenvolvimento. O que faz a senhora acreditar que o pr�ximo governo Lula ser� diferente?
Silva - O mundo mudou. Aqueles que n�o s�o negacionistas mudaram tamb�m. Se n�s pararmos para pensar em termos pol�ticos, voc� imaginaria uma frente ampla com o PSDB apoiando o Lula? Ningu�m imaginaria isso. Em situa��es extremas, as pessoas que t�m compromisso com aquilo que existe de mais importante para a vida, para os direitos humanos e para a prote��o do meio ambiente s�o capazes de produzir mudan�as.

E o presidente Lula mudou. Naquela �poca, as diretrizes de controle e participa��o social, o combate �s atividades ilegais, a pol�tica ambiental, eram diretrizes s� do Minist�rio do Meio Ambiente. Agora, o pr�prio presidente assumiu que essas inst�ncias ser�o de todo o governo. Lula disse que a pol�tica ambiental vai ser transversal. Ele afirmou que o clima est� no mais alto n�vel de prioridade e queremos chegar ao desmatamento zero.
O que queremos fazer � uma reindustrializa��o j� em acordo com os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris. Queremos tamb�m transitar para a agricultura de baixo carbono.
E Lula disse isso tudo no discurso de vit�ria. Naquele momento, ele poderia escolher qualquer coisa para falar, mas escolheu exatamente aquilo que � mais importante para o Brasil nesse momento. Ele falou de democracia, de combate � desigualdade, de enfrentamento da mudan�a clim�tica e de alcan�ar o desmatamento zero, respeitando as popula��es tradicionais e criando um novo ciclo de prosperidade.
BBC News Brasil - Al�m da redu��o da taxa de desmatamento, outras marcas do governo Lula foram as grandes obras de hidrel�tricas e a explora��o de petr�leo no Pr�-Sal. O que a senhora acredita que deva mudar a respeito dessas �reas a partir de 2023?
Silva - Eu acredito que o pr�prio presidente Lula j� sinalizou o que vai mudar e eu n�o posso falar isso por ele. Mas posso dizer aquilo que ele j� declarou. Em Manaus, ele disse que agora n�s temos alternativas para produ��o de energia, como as usinas e�licas, a biomassa e a energia solar.
Elas j� t�m um custo mais barato do que a pr�pria energia que vem das hidrel�tricas. Esses grandes empreendimentos podem ser substitu�dos pela gera��o de energia limpa, renov�vel, segura e com boa distribui��o. Elas, inclusive, ganham em efici�ncia, pois o custo [da energia obtida pelas hidrel�tricas] � caro e h� uma perda de 25% ao longo do processo de transmiss�o por longa dist�ncia.
Quando voc� trabalha com parques e�licos, de energia solar ou de biomassa, voc� tira o potencial m�ximo daquela localidade. Ent�o essas alternativas v�m em socorro do objetivo de uma Amaz�nia preservada. E tamb�m ajudam a fazer com que o Brasil n�o apenas lidere o processo de preserva��o das florestas na Am�rica Latina, mas no mundo todo, especialmente na �sia e na �frica.
N�s vemos o presidente Lula muito imbu�do de um esfor�o para ajudar a Rep�blica Democr�tica do Congo, a Indon�sia e outros pa�ses com megaflorestas. Essa a��o vai ser importante, pela lideran�a do Brasil.
Queremos coopera��o t�cnico-cient�fica, investimentos para a bioeconomia e para a infraestrutura. O Brasil pode ser o grande produtor de hidrog�nio verde. Mas obviamente que n�o faremos isso com a mesma chantagem do que � feito agora, com a ideia de que s� vamos proteger a floresta se nos pagarem.
O Brasil reduziu em 83% o desmatamento com recursos pr�prios e, por isso, recebeu um b�nus da Noruega e da Alemanha. E agora n�s queremos ampliar o Fundo Amaz�nia. Eu conversei ontem com o Reino Unido, com a Alemanha, com o Canad�, com a Noruega, e v�rios agentes querem cooperar com o Brasil. Essas lideran�as j� se comprometeram a fazer mais investimentos na Amaz�nia e sinalizaram interesse em aumentar a coopera��o do Brasil. Elas t�m a clareza da import�ncia estrat�gica do nosso pa�s, tanto na cria��o de um novo modelo de desenvolvimento com a preserva��o das florestas, quanto no fortalecimento da democracia.
Somos o maior pa�s da Am�rica Latina e temos um papel importante no terreno da geopol�tica. O mundo tem consci�ncia disso e sabe que n�s vivemos uma crise econ�mica, social e pol�tica e est� muito solid�rio em ajudar nesses quatro anos. N�s vemos as respostas do ponto de vista social, econ�mico, ambiental e pol�tico, para estabilizar a nossa democracia.
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- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64111646
