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Estado de Minas FUTURO

Marina Silva no governo Lula: os planos da futura ministra do Meio Ambiente

Marina Silva disse que desafio de alcan�ar desmatamento zero na Amaz�nia ser� 'muito dif�cil' e que quadro atual � 'muito mais grave'


30/12/2022 09:30 - atualizado 30/12/2022 09:30

Marina Silva
Marina Silva foi confirmada como futura ministra do Meio Ambiente do pr�ximo governo Lula. Segundo ela, Lula 'mudou' e agora considera preserva��o da Amaz�nia uma das suas principais prioridades (foto: CARLA CARNIEL/Reuters)
Confirmada pelo presidente Luiz In�cio Lula da Silva para assumir o Minist�rio do Meio Ambiente no pr�ximo governo, a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) tem como principal meta alcan�ar desmatamento l�quido zero tanto na floresta Amaz�nica quanto em "todos os demais biomas do Brasil" at� 2030.

Mas ela pr�pria admite que o desafio ser� maior que o enfrentado quando foi ministra pela primeira vez, no primeiro mandato de Lula.

Naquela ocasi�o, Marina Silva implementou um programa ambicioso de controle do desmatamento. Mesmo assim, foram necess�rios dois anos para come�ar a ver resultados.

Leia tamb�m:  Pauta-bomba n�o ser� votada agora, afirma Marina Silva.

Em 2003 e 2004, os dois primeiros anos de governo Lula, as �reas destru�das de floresta continuaram a crescer. Mas de 2005 em diante a queda foi ancentuada. Em oito anos de governo, o desmatamento caiu 67%.

Marina Silva deu entrevista � BBC News Brasil em novembro duante a COP27, a confer�ncia das Na��es Unidas sobre mudan�as clim�ticas. Na �poca, ainda n�o havia sido confirmada para o Minist�rio do Meio Ambiente, mas j� falava e era tratada como ministra por representantes estrangeiros presentes � confer�ncia.

"A sociedade sabe que agora a prioridade � combater sem tr�gua o desmatamento criminoso para que se alcance o desmatamento zero", disse. "N�o � algo que seja f�cil, porque hoje n�s temos uma situa��o incomparavelmente mais grave do que t�nhamos em 2003, mas temos uma vantagem. N�s j� temos uma experi�ncia que deu certo", disse na ocasi�o � BBC News Brasil.

Na entrevista, ela indica quais ser�o as prioridades do governo Lula na �rea ambiental e garante que o petista "mudou" de seus primeiros mandatos para hoje. Passou a considerar, segundo ela, o combate ao desmatamento uma "prioridade".

Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 a 2008. Deixou o minist�rio dois anos antes do fim do segundo mandato de Lula ap�s desentendimentos com ministros de outras pastas, que a acusavam de travar projetos de desenvolvimento, como o Programa de Acelera��o do Crescimento, na �poca gerido por Dilma Rousseff. Sem receber apoio de Lula diante de press�es para flexibilizar regras ambientais, pediu demiss�o.

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"O presidente Lula mudou. Naquela �poca, o combate �s atividades ilegais e a pol�tica ambiental eram diretrizes s� do minist�rio (do Meio Ambiente). Agora, o pr�prio presidente assumiu como sendo de todo o governo", afirmou. "Foi ele que disse que a pol�tica ambiental vai ser transversal. Foi ele que disse que o clima est� no mais alto n�vel de prioridade e que queremos chegar ao desmatamento zero."

Veja os principais trechos da entrevista feita durante a COP27, em Sharm El Sheikh:

BBC News Brasil - O Brasil alcan�ou taxa de desmatamento recorde nos �ltimos anos e um aumento nas emiss�es de gases do efeito estufa. A senhora acredita que � poss�vel reverter essa tend�ncia ainda em 2023, no primeiro ano do governo Lula?

Marina Silva - N�s temos uma diferen�a na abordagem do que vinha sendo feito no governo Bolsonaro, que foi o desmonte das pol�ticas p�blicas de modo geral, mas particularmente na �rea ambiental. Tivemos corte de or�amento, intimida��o das equipes [de fiscaliza��o], substitui��o de t�cnicos por policiais e a expectativa de mudar a lei para favorecer criminosos.

Tudo isso muda agora, com uma expectativa de que a sociedade saiba que a prioridade � combater sem tr�gua o desmatamento criminoso, para que se alcance o desmatamento zero. O Brasil vai recuperar as pol�ticas que j� deram certo e atualiz�-las, para que a gente consiga o resultado necess�rio para reverter esse quadro atual. N�o � algo f�cil, porque hoje n�s temos uma situa��o incomparavelmente mais grave do que t�nhamos em 2003. Mas temos uma vantagem: a experi�ncia do que deu certo. Sabemos o que fazer e como fazer.


ave sobrevoa queimada em Apuí, Amazonas, setembro de 2021
Em situa��es extremas, as pessoas que t�m compromisso com aquilo que existe de mais importante para a vida, para os direitos humanos e para a prote��o do meio ambiente s�o capazes de produzir mudan�as' (foto: REUTERS/Bruno Kelly)

Agora � uma quest�o de articular essas pol�ticas para conseguir uma resposta efetiva. Com certeza fica dif�cil voc� dizer o n�mero percentual [de queda do desmatamento]. Eu mesma, quando fui ministra do Meio Ambiente e fizemos o planejamento, estabeleci metas inferiores �quilo que n�s realmente alcan�amos. Ent�o eu prefiro seguir pelo caminho sabendo que n�o h� mais tempo a perder e que a resposta precisa ter a urg�ncia que a gravidade do problema exige. O Brasil tem o compromisso do desmatamento zero at� 2030 e � esse o objetivo que vamos perseguir.

BBC News Brasil - A senhora falou em resgatar e atualizar pol�ticas na �rea ambiental. Mas o que foi feito a partir de 2003, no primeiro governo Lula, que pode ser copiado agora e o que precisa ser modificado para alcan�ar essa meta de desmatamento zero?

Silva - Quando eu e o presidente Lula fizemos nosso reencontro para a composi��o pol�tica e program�tica — do ponto de vista pessoal, n�s nunca rompemos — divulgamos um documento no qual ele se compromete com a sociedade brasileira. Nesse documento, est� estabelecido o que ser� feito para resgatar a agenda ambiental perdida. O Plano de Preven��o de Controle do Desmatamento � algo a ser resgatado, mas agregando novos instrumentos e novas medidas, como, por exemplo, na �rea de ordenamento territorial e destina��o de �reas florestadas.

Precisamos pensar como destino as terras ind�genas e as unidades de conserva��o e uso sustent�vel. Isso � uma medida que j� estava estabelecida l� atr�s, mas que agora virou uma prioridade de alto n�vel. Tamb�m precisamos atualizar uma a��o mais integrada com os Estados. O plano surge como a��o do Governo Federal, mas, para ser realmente integrado, precisa da a��o dos outros entes federativos.


Marina Silva na COP27
Marina Silva disse � BBC News Brasil que 'Lula mudou' e que no pr�ximo governo meio ambiente ter� 'mais alta prioridade' (foto: Getty Images)

Mas o Governo Federal n�o vai esperar pelos Estados e precisa come�ar a fazer o trabalho. Ou seja, a concep��o do plano que t�nhamos continua atual, com o ordenamento territorial e fundi�rio, o combate �s pr�ticas ilegais e o desenvolvimento sustent�vel. Mas isso agora est� combinado com a economia e a infraestrutura. Tamb�m precisamos transitar para uma agricultura de baixo carbono. Todos esses fatores s�o instrumentos novos que far�o a diferen�a. At� porque n�o basta tirar e proibir o que n�o pode. � preciso colocar alguma coisa no lugar, para melhorar a vida das pessoas, gerar emprego e renda, possibilitar investimentos.

O que � muito interessante de ver � que todos os parceiros do Brasil est�o �vidos para voltar a cooperar. Nas conversas que tive com Alemanha, Reino Unido, Canad�, Noruega, enfim, todos os parceiros t�m sinalizado e entendido que o Brasil � o pa�s que pode mudar o paradigma, porque re�ne as melhores condi��es para fazer isso. E as pessoas querem ver o Brasil liderando pelo exemplo.

BBC News Brasil - Quando a senhora foi ministra do Meio Ambiente, colocou em a��o o projeto que foi capaz de reduzir o desmatamento em mais de 60% at� o fim do governo Lula. Mas a senhora deixou o minist�rio, segundo o que se falava na �poca, por press�es de outras pastas, que reclamavam que o minist�rio do Meio Ambiente retardava projetos de desenvolvimento. O que faz a senhora acreditar que o pr�ximo governo Lula ser� diferente?

Silva - O mundo mudou. Aqueles que n�o s�o negacionistas mudaram tamb�m. Se n�s pararmos para pensar em termos pol�ticos, voc� imaginaria uma frente ampla com o PSDB apoiando o Lula? Ningu�m imaginaria isso. Em situa��es extremas, as pessoas que t�m compromisso com aquilo que existe de mais importante para a vida, para os direitos humanos e para a prote��o do meio ambiente s�o capazes de produzir mudan�as.


Vista do Lago do Aleixo, mostra que o rio Amazonas está em níveis mínimos de água por causa de uma seca
Vista do Lago do Aleixo, perto de Manaus, em foto de 25 de outubro de 2022, mostra que o rio Amazonas est� em n�veis m�nimos de �gua por causa de uma seca (foto: Raphael Alves/EPA-EFE/REX/Shutterstock)

E o presidente Lula mudou. Naquela �poca, as diretrizes de controle e participa��o social, o combate �s atividades ilegais, a pol�tica ambiental, eram diretrizes s� do Minist�rio do Meio Ambiente. Agora, o pr�prio presidente assumiu que essas inst�ncias ser�o de todo o governo. Lula disse que a pol�tica ambiental vai ser transversal. Ele afirmou que o clima est� no mais alto n�vel de prioridade e queremos chegar ao desmatamento zero.

O que queremos fazer � uma reindustrializa��o j� em acordo com os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris. Queremos tamb�m transitar para a agricultura de baixo carbono.

E Lula disse isso tudo no discurso de vit�ria. Naquele momento, ele poderia escolher qualquer coisa para falar, mas escolheu exatamente aquilo que � mais importante para o Brasil nesse momento. Ele falou de democracia, de combate � desigualdade, de enfrentamento da mudan�a clim�tica e de alcan�ar o desmatamento zero, respeitando as popula��es tradicionais e criando um novo ciclo de prosperidade.

BBC News Brasil - Al�m da redu��o da taxa de desmatamento, outras marcas do governo Lula foram as grandes obras de hidrel�tricas e a explora��o de petr�leo no Pr�-Sal. O que a senhora acredita que deva mudar a respeito dessas �reas a partir de 2023?

Silva - Eu acredito que o pr�prio presidente Lula j� sinalizou o que vai mudar e eu n�o posso falar isso por ele. Mas posso dizer aquilo que ele j� declarou. Em Manaus, ele disse que agora n�s temos alternativas para produ��o de energia, como as usinas e�licas, a biomassa e a energia solar.

Elas j� t�m um custo mais barato do que a pr�pria energia que vem das hidrel�tricas. Esses grandes empreendimentos podem ser substitu�dos pela gera��o de energia limpa, renov�vel, segura e com boa distribui��o. Elas, inclusive, ganham em efici�ncia, pois o custo [da energia obtida pelas hidrel�tricas] � caro e h� uma perda de 25% ao longo do processo de transmiss�o por longa dist�ncia.

Quando voc� trabalha com parques e�licos, de energia solar ou de biomassa, voc� tira o potencial m�ximo daquela localidade. Ent�o essas alternativas v�m em socorro do objetivo de uma Amaz�nia preservada. E tamb�m ajudam a fazer com que o Brasil n�o apenas lidere o processo de preserva��o das florestas na Am�rica Latina, mas no mundo todo, especialmente na �sia e na �frica.

N�s vemos o presidente Lula muito imbu�do de um esfor�o para ajudar a Rep�blica Democr�tica do Congo, a Indon�sia e outros pa�ses com megaflorestas. Essa a��o vai ser importante, pela lideran�a do Brasil.

Queremos coopera��o t�cnico-cient�fica, investimentos para a bioeconomia e para a infraestrutura. O Brasil pode ser o grande produtor de hidrog�nio verde. Mas obviamente que n�o faremos isso com a mesma chantagem do que � feito agora, com a ideia de que s� vamos proteger a floresta se nos pagarem.

O Brasil reduziu em 83% o desmatamento com recursos pr�prios e, por isso, recebeu um b�nus da Noruega e da Alemanha. E agora n�s queremos ampliar o Fundo Amaz�nia. Eu conversei ontem com o Reino Unido, com a Alemanha, com o Canad�, com a Noruega, e v�rios agentes querem cooperar com o Brasil. Essas lideran�as j� se comprometeram a fazer mais investimentos na Amaz�nia e sinalizaram interesse em aumentar a coopera��o do Brasil. Elas t�m a clareza da import�ncia estrat�gica do nosso pa�s, tanto na cria��o de um novo modelo de desenvolvimento com a preserva��o das florestas, quanto no fortalecimento da democracia.

Somos o maior pa�s da Am�rica Latina e temos um papel importante no terreno da geopol�tica. O mundo tem consci�ncia disso e sabe que n�s vivemos uma crise econ�mica, social e pol�tica e est� muito solid�rio em ajudar nesses quatro anos. N�s vemos as respostas do ponto de vista social, econ�mico, ambiental e pol�tico, para estabilizar a nossa democracia.

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- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64111646


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