
Por duas vezes os pap�is lhe foram negados e, quando entregues, o foram de maneira incompleta. Apenas na quarta visita Silva conseguiu todas as informa��es.
Silva se negou a deixar a sala e desistir da disputa. Ap�s proferir uma s�rie de amea�as, Santana fez uma liga��o telef�nica.
Logo em seguida, um policial militar n�o identificado compareceu � sala da prefeitura portando uma arma e exigindo que o engenheiro "sa�sse do jogo" a fim de evitar a necessidade de se "resolver l� embaixo" a quest�o.
A licita��o foi adiada e, quatro dias depois, a EJC Constru��es foi inabilitada para o certame. A Master Rio venceu o contrato de R$ 5,3 milh�es com ind�cios de fraudes, segundo o Minist�rio P�blico do Rio de Janeiro.
Daniela Carneiro
O relato faz parte do depoimento dado por Silva ao MP-RJ, que comp�e o rol de provas de uma den�ncia de 127 p�ginas apresentada ao Tribunal de Justi�a contra o prefeito Wagner dos Santos Carneiro (Uni�o), o Waguinho, principal fiador da nomea��o da esposa, Daniela Carneiro (Uni�o), para o Minist�rio do Turismo.
Waguinho e o deputado estadual M�rcio Canella (Uni�o), ex-vice-prefeito da cidade, e outras 23 pessoas foram denunciados sob acusa��o de peculato, concuss�o, fraude a licita��o e organiza��o criminosa. O tribunal ainda aguarda a resposta dos acusados para analisar se aceita ou n�o a den�ncia.
Procurados, o prefeito e o deputado n�o se pronunciaram. A reportagem n�o conseguiu localizar a defesa de Santana.
A Promotoria afirma que os acusados buscavam aliciar empres�rios para o esquema "por meio de coa��o e viol�ncia pouco vistas na historiografia judici�ria fluminense".
Outro depoimento que comp�em este cen�rio, para o MP-RJ, � do empres�rio Mois�s Boechat, dono de um aterro sanit�rio que tinha contrato com o munic�pio.
Boechat afirmou aos promotores que come�ou a ser abordado por interlocutores de Waguinho e Canella j� na campanha eleitoral de 2016, quando o prefeito foi eleito ao cargo pela primeira vez. A proposta era de arrendar seu aterro por R$ 500 mil. Ele recusou, e a oferta subiu para R$ 1 milh�o, tamb�m rejeitada.
O Minist�rio P�blico afirma que a dupla tinha interesse em assumir o aterro e seus contratos avaliados em mais de R$ 90 milh�es apenas com o poder p�blico.
Ap�s recusar ceder o controle da empresa, Mois�s relatou ter virado alvo de amea�as.
"Diante da recusa do declarante [Mois�s], os interlocutores se mostraram muito irritados, chegando a bater na mesa e afirmaram que partiriam para o plano B, informando ao prefeito. Logo ap�s esta reuni�o, que aconteceu �s 8h e durou cerca de 20 minutos, a sua empresa foi invadida pela Guarda Municipal, utilizando-se de aproximadamente uns 30 ve�culos caracterizados e n�o caracterizados, inclusive por pessoas portando arma de fogo", relatou o empres�rio ao MP-RJ.
Os homens constru�ram uma fossa "de grande dimens�o" que inviabilizou o acesso de caminh�es ao terreno. O aterro passou a ser alvo sucessivo de multas e opera��es com deten��o de funcion�rios.
As amea�as n�o surtiram efeito, Mois�s deixou o aterro fechado por seis anos at� revend�-lo a outra empresa em dezembro do ano passado.
Os relatos que atribuem viol�ncia dos agentes municipais se somam ao hist�rico da cidade, que j� figurou entre as mais violentas do pa�s.
De acordo com dados do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF, grupos criminosos dominam cerca de 35% da cidade, cujo nome � homenagem a Raimundo Teixeira Belfort Roxo, um engenheiro maranhense que realizava servi�os para a corte imperial.
De acordo com investiga��es do Minist�rio P�blico, milicianos ampliaram sua influ�ncia para dentro do poder p�blico municipal.
O ex-presidente da C�mara Municipal, M�rcio Pagniez, o Marcinho Bombeiro, foi preso sob acusa��o liderar uma mil�cia no bairro Andrade Ara�jo. O vereador F�bio Brasil, o Fabinho Varand�o, tamb�m acusado de chefiar uma quadrilha que autua em dez bairros, � atualmente secret�rio municipal de Ci�ncia e Tecnologia.
Os dois participaram, direta ou indiretamente, da campanha da ministra no ano passado para a C�mara dos Deputados.
Daniela Carneiro � alvo de press�o desde que a Folha mostrou o v�nculo que seu grupo pol�tico mant�m h� ao menos quatro anos com a fam�lia de outro miliciano, o ex-PM Juracy Prud�ncio, o Jura.
Ele atuou diretamente na campanha da ministra em 2018, quando j� estava condenado a 26 anos de pris�o por homic�dio e associa��o criminosa, e por meio de sua mulher, Giane Prud�ncio, no ano passado.
Lula
Daniela foi nomeada ministra como uma forma de contemplar a Uni�o Brasil e ampliar a presen�a feminina na montagem do governo.
Tamb�m foi uma retribui��o pelo empenho dela e do marido na campanha do segundo turno em favor do presidente Lula. O casal foi uma das poucas lideran�as a apoiar abertamente o petista na Baixada Fluminense.
Daniela foi reeleita deputada federal como a mais votada no Rio de Janeiro. Como a Folha mostrou em outubro, a campanha dela foi marcada pelo apoio irregular de oficiais da Pol�cia Militar e pelo ambiente hostil e armado contra advers�rios pol�ticos de sua base eleitoral.
O auge desse ambiente de campanha foi um confronto no bairro Roseiral, no qual homens armados, entre eles um seguran�a do prefeito, expulsaram militantes de uma candidata do local.
Os relatos de intimida��es na cidade mais claros foram feitos pela ex-deputada Sula do Carmo (Avante), ex-vice-prefeita da cidade. Ela afirma que sofreu retalia��o desde julho, quando anunciou sua pr�-candidatura, tendo como auge o conflito no Roseiral, na �ltima semana de setembro.
"Apareceram uns trogloditas e foi uma coisa horr�vel. Participo de pol�tica na cidade h� 33 anos e nunca vi uma coisa dessa. Sa�ram mais de 30 homens armados indo para cima das meninas que faziam campanha para mim. Foi uma correria, e uma gr�vida perdeu o beb�", disse a ex-deputada.
Imagens do dia do tumulto mostram homens vestidos de preto e armados andando em grupo agredindo militantes de Sula. Ao fundo, estava um caminh�o de som de Daniela do Waguinho.
Um dos envolvidos na confus�o � o policial militar F�bio Sperendio, assessor de Canella que tamb�m atua como seguran�a do prefeito de Belford Roxo.
A limita��o � campanha de Sula se tornou mais evidente em maio, quando o prefeito desapropriou o galp�o que sempre usou em suas campanhas eleitorais. Houve a tentativa de tomar posse do im�vel na v�spera do evento de lan�amento da candidatura da ex-deputada, em julho.
"O prefeito quer o monop�lio da cidade. Eu evitei fazer pol�tica l� porque ele sempre mandava equipe para perseguir. Ficava mandando recados de que n�o podia entrar l�. Comerciante que colocasse adesivo meu ele mandava fechar", disse a ex-deputada.
A Procuradoria Regional Eleitoral investigou o caso, mas o arquivou ap�s n�o conseguir reunir provas at� o �ltimo dia 16, data limite para ajuizamento de acusa��es eleitorais.