
Do Val, em um vaiv�m de vers�es, relata que teve uma reuni�o com o ent�o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) no fim do ano passado no qual foi discutido um compl� golpista para reverter o resultado das elei��es vencidas por Luiz In�cio Lula da Silva (PT) em outubro.
O senador tentou mudar de vers�o, isentando Bolsonaro de iniciativa do esquema, que seria ideia de Silveira, preso por ordem do Supremo na quinta (2).
A trama incluiria fomentar as concentra��es golpistas em frente a quart�is e a grava��o ilegal de alguma inconfid�ncia do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
"Vamos esperar o resultado das investiga��es, mas essas pessoas [Do Val e Silveira] se comunicaram", afirmou Gilmar, citando os �udios e prints de mensagens divulgados pela revista Veja.
"O que [o epis�dio] mostra � que a gente estava sendo governado por uma gente do por�o. Esse � um dado da realidade. Pessoas da mil�cia do Rio de Janeiro, com contato na pol�tica internacional, isso � o que resulta quando vemos a nominata desses personagens", disse.
Gilmar falou antes e durante uma confer�ncia sobre pol�tica e economia do Lide, grupo empresarial fundado pelo ex-governador paulista Jo�o Doria, em Lisboa.
Para o ministro, "as institui��es foram o alvo predileto das vivandeiras alvora�adas", parafraseando a famosa cita��o do ditador Humberto Castello Branco de 1964, aludindo aos pol�ticos que incitavam agita��o nos quart�is.
Ele criticou a elite pol�tica na era do bolsonarismo, que alimentava "zumbis consumidores de desinforma��o". "Espero que as investiga��es identifiquem quem estava no topo dessa pir�mide e qual lucro auferiam, pol�tica ou economicamente", disse.
A cr�tica aberta ao "�thos" bolsonarista foi completada com uma cr�tica ao ex-chanceler Ernesto Ara�jo. "Nunca mais voltemos a ser um p�ria internacional, objetivo vocalizado por um certo expoente de uma certa doutrina", afirmou.
O ministro disse, contudo, estar otimista. "Apesar de a extens�o do dano ser grande, seu conserto � poss�vel. O Brasil tem a capacidade singela de se reinventar", afirmou. Ele discorreu acerca da necessidade de haver "regras do jogo est�veis", apesar do risco dos "impulsos ditatoriais".
Por fim, fez uma mesura ao governo Lula, dizendo que "o Brasil voltou ao cen�rio internacional".
Diferentemente do evento anterior do Lide, em novembro em Nova York, n�o foram registrados ainda protestos de bolsonaristas contra a presen�a de ministros do Supremo no encontro --tamb�m est� na capital portuguesa Ricardo Lewandowski, enquanto Moraes e Lu�s Roberto Barroso ir�o participar de forma remota.
O decano do Supremo tamb�m disse, em uma entrevista ao jornal portugu�s Expresso publicada nesta sexta, que Bolsonaro flertou com a ideia de um golpe militar.
"N�o creio que tenha sido cogitado [um golpe das For�as Armadas]. Embora seja muito prov�vel que o entorno do ex-presidente, e o pr�prio, tenham flertado com a ideia", afirmou ao jornal.
Gilmar descarta, contudo, envolvimento institucional das For�as com intentonas golpistas ou os ataques bolsonaristas �s sedes dos tr�s Poderes em 8 de janeiro.
Em sua interven��o, Barroso afirmou que os anos sob Bolsonaro, a quem n�o nomeou, foram "um per�odo grande de d�ficit de civilidade, de extra��o do que de pior havia nas pessoas", disse.
"Um momento de desprezo � educa��o, uma vis�o de armas em vez de bibliotecas, descr�dito � ci�ncia. Isso culminou no 8 de janeiro", disse.
Para ele, a convuls�o golpista foi "um processo hist�rico, antecedido por ataques �s institui��es, pela politiza��o das For�as Armadas, que incluiu a defesa da volta do voto impresso".
"Imagine o que seriam as se��es eleitorais com contagem manual com essa gente, muitas vezes armada, tumultuando", disse, criticando o "estilo Roberto Jefferson [ex-deputado preso por atirar em policiais] e Daniel Silveira [deputado preso no inqu�rito das fake news]".
Temer defende semipresidencialismo "Quem sabe n�s tiv�ssemos uma revolu��o das rosas no Brasil, ou l�rios, e deixar para tr�s os espinhos", afirmou o ex-presidente Michel Temer (MDB) na abertura da confer�ncia em Lisboa, ap�s falar sobre a Revolu��o dos Cravos de 1974, que enterrou d�cadas de ditadura em Portugal.
Temer voltou a defender o semipresidencialismo como solu��o para as crises pol�ticas no Brasil, citando a altern�ncia de governos em Portugal, que tem um parlamentarismo com presidente mais forte do que o usual chefe de Estado an�dino do sistema.
"Precisamos acabar com os traumas institucionais", diz o ex-vice de Dilma Rousseff (PT) que assumiu ap�s o impeachment da presidente em 2016 e governou at� o fim de 2018, sugerindo que para isso a mudan�a do sistema de governo brasileiro seria necess�ria. "A� poderemos voltar a falar de flores", disse.
"Proponho novo sistema, n�o � para dar golpe no governo, � para 2030", disse Temer, rindo, ao ser questionado sobre isso depois.
Abordado por jornalistas antes do evento, Temer perguntou se Lula "havia falado de golpe de novo", refer�ncia � cr�tica feita a ele pelo presidente, que o chamou de golpista em duas ocasi�es recentes.
Comentando na sess�o de debate a quest�o do semipresidencialismo, Gilmar citou os impedimentos de dois presidentes na hist�ria recente (Dilma e Fernando Collor, este em 1992).
"Quem perde apoio no Congresso, acaba por sofrer o impeachment", disse, defendendo a ideia da ado��o de um primeiro-ministro. O ministro fez uma compara��o jocosa entre a forma��o do minist�rio de 37 pastas de Lula e a "geringon�a", coaliz�o que governou Portugal unindo fac��es diversas da esquerda.
Temer criticou o excesso de partidos no pa�s, dizendo que o ideal de um bipartidarismo aconteceu, ainda que de forma for�ada, "durante o golpe de Estado" de 1964 -brincando com os jornalistas, dizendo que n�o estava "defendendo a revolu��o".
Em sua fala, Lewandowski citou a crise que culminou no ataque golpista de 8 de janeiro em Bras�lia. "O Brasil sobreviveu ao 8 de janeiro, quando as sede dos tr�s Poderes foram invadidas e destru�das. A democracia � resiliente e sobreviveu a esse ataque", disse. "A democracia saiu mais forte."
Ele fez uma defesa da Justi�a Eleitoral. "Todos [os integrantes do TSE] t�m mandato, de dois anos, o que impede a politiza��o", afirmou.
Tamb�m presente � confer�ncia, o ministro Humberto Martins (Superior Tribunal de Justi�a), fez uma defesa da seguran�a jur�dica amparada na palavra final do Supremo. "Os poderes constitu�dos no Brasil funcionam", afirmou.
O jornalista Igor Gielow viaja a convite do Lide