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Bolsonaro volta ao Brasil: fatores que ajudaram ex-presidente a retornar

Bolsonaro deixou o Brasil no dia 30 de dezembro, antes do fim de seu mandato presidencial. Ele n�o participou da cerim�nia de passagem da faixa presidencial


30/03/2023 06:55 - atualizado 29/03/2023 21:47

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Durante sua estadia nos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de encontros conservadores, conversou com apoiadores e participou a abertura de uma lanchonete em Orlando (foto: EVARISTO SA / AFP)
Ap�s quase quatro meses vivendo nos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem sua chegada prevista ao Brasil na manh� desta quinta-feira (30/03).
Ele deve desembarcar no Aeroporto Internacional de Bras�lia e h� a expectativa de que participe de uma carreata pela cidade.

O retorno de Bolsonaro era esperado h� meses, desde que deixou o pa�s sem passar a faixa presidencial para seu sucessor, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro deixou o Brasil no dia 30 de dezembro, dois dias antes do fim de seu mandato presidencial. Ele perdeu as elei��es para Lula em uma disputa apertada no segundo turno.

Em um avi�o da For�a A�rea Brasileira (FAB), ele embarcou com assessores e a ent�o primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para a Fl�rida. Inicialmente, ele ficou na casa do lutador de artes marciais Jos� Aldo.

Desde ent�o, ele tem participado de eventos conservadores nos Estados Unidos e, de l�, vem criticando os primeiros passos do governo Lula.

Foi de l� que ele postou um v�deo, depois apagado, em que questionava a vit�ria da Lula nas urnas. O v�deo foi postado tr�s dias depois da invas�o da sede dos Tr�s Poderes, em Bras�lia, no dia 8 de janeiro - o ato levou � pris�o de centenas de apoiadores bolsonaristas.

Tamb�m foi de l� que ele se defendeu das acusa��es feitas por integrantes do governo Lula de que sua gest�o teria sido respons�vel pela crise humanit�ria do povo ind�gena Yanomami.

Joias


E tamb�m era dos Estados Unidos que ele vinha se defendendo das suspeitas de que teria usado a estrutura da Presid�ncia para reaver joias apreendidas pela Receita Federal e que lhe haviam sido dadas de presente por autoridades da Ar�bia Saudita avaliadas em R$ 16 milh�es.

Ele nega qualquer irregularidade em rela��o ao caso, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Aliados do presidente, no entanto, avaliam que o retorno de Bolsonaro neste momento n�o acontece totalmente por acaso.

Parlamentares e fontes que pediram para n�o se identificar apontam que o c�lculo de Bolsonaro para o seu retorno ao Brasil atendeu a pelo menos quatro principais motivos.

Confira, abaixo, os quatro principais fatores que influenciaram no c�lculo de Bolsonaro para retornar ao Brasil.


Desgaste pol�tico de Lula

Uma fonte ouvida pela reportagem que acompanha de perto o retorno de Bolsonaro ao pa�s avalia que a volta do ex-presidente tem como pano de fundo uma percep��o de que, por v�rios fatores, Lula est� em um momento de desgaste pol�tico acentuado e at�pico para um mandat�rio que acabou de assumir a presid�ncia.

Os epis�dios que melhor traduziriam esse desgaste aconteceram na semana passada. O primeiro foi durante uma entrevista de Lula ao portal 247 em que ele usou um palavr�o para se referir ao que pensava sobre o ex-juiz e agora senador Sergio Moro durante o per�odo em que esteve preso na carceragem da Pol�cia Federal no Paran�.

Em seguida, ap�s a Pol�cia Federal deflagrar uma opera��o contra membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) que teriam planejado matar Moro e outras autoridades, Lula disse, disse, em uma entrevista, que acreditava que o plano seria uma "arma��o" de Moro.

"Eu acho que � mais uma arma��o do Moro. Quero ser cauteloso, � vis�vel que � uma arma��o do Moro. Vou pesquisar, vou saber", disse Lula.

A declara��o causou rea��o negativa e foi rebatida por seus advers�rios e por Moro, que disse que Lula seria respons�vel por qualquer coisa que acontecesse � sua fam�lia.

Al�m do desgaste causado por suas declara��es, Lula tamb�m enfrenta dificuldades junto ao Congresso Nacional. Apesar de ter distribu�do minist�rios para partidos do chamado Centr�o, como o Uni�o Brasil, a percep��o � de que seu governo ainda n�o tem uma base s�lida no Parlamento capaz de aprovar seus projetos.
Essa percep��o havia ficado expressa em declara��es do presidente da C�mara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e do l�der do Uni�o Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), que disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que apesar de ter tr�s minist�rios, n�o seria conveniente ao partido entrar na base do governo.

Nos �ltimos dias, o governo tem estado sob alerta depois que Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), passaram a debater sobre o rito de tramita��o de medidas provis�rias.

Lira quer maior participa��o da C�mara nas comiss�es mistas que precisam ser criadas para avaliar as medidas enviadas pelo Executivo.

Pacheco, no entanto, resiste � proposta de Lira. O impasse, por�m, pode acabar afetando o governo, uma vez que as medidas provis�rias enviadas pelo Executivo t�m validade de at� 120 dias. Se n�o forem convertidas em lei antes disso, elas perdem a vig�ncia.

"A volta de Bolsonaro acontece em um momento em que o governo est� batendo cabe�a o tempo inteiro. Lula vem dando declara��es desastrosas e isso tem aumentado o desgaste dele", disse o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), um dos principais aliados de Bolsonaro.

"O presidente (Bolsonaro) � intutel�vel e faz as coisas que saem da cabe�a dele, mas, com certeza, ele volta num momento de desgaste muito grande do Lula. Tanto pelas declara��es quanto pela falta de articula��o pol�tica", disse o tamb�m deputado federal Capit�o Augusto (PL-SP).

Economia em marcha lenta

Um outro ponto destacado por aliados de Bolsonaro ao analisar o que levou o ex-presidente a retornar agora � o cen�rio econ�mico do pa�s.

Quase tr�s meses depois de assumir a Presid�ncia da Rep�blica, Lula ainda n�o conseguiu colher seus primeiros resultados positivos na �rea econ�mica.

Uma das principais e mais imediatas batalhas travadas por Lula nessa �rea tem sido a queda da taxa de juros b�sica da economia, definida pelo Banco Central e que tem como objetivo controlar o avan�o da infla��o.

Desde o in�cio do mandato, Lula e seus aliados mais pr�ximos, como a deputada federal e presidente nacional do PT Gleisi Hoffmann (PR), t�m feito cr�ticas abertas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por conta do atual patamar da taxa de juros, que � de 13,75% ao ano, considerada uma das mais altas do mundo.

A cr�tica � de que as taxas nesse patamar desestimulam investimento privado, dificultando a gera��o de empregos e o crescimento do PIB.

E o crescimento do PIB � uma das principais metas de Lula. Segundo o �ltimo boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, a previs�o � de que a economia brasileira deva crescer em torno de 0,88% em 2023.

Em reuni�o com ministros no dia 10 de mar�o, Lula enfatizou que quer o empenho de sua equipe para acelerar o andamento de obras e projetos que gerem empregos.

"A gente n�o pode aceitar a ideia de que o PIB n�o vai crescer porque algu�m disse que o PIB n�o vai crescer... N�s vamos dizer que o PIB vai crescer porque n�s vamos gerar emprego e vamos gerar emprego com as pequenas coisas", disse Lula durante a reuni�o.

A expectativa de que a taxa pudesse cair ap�s uma campanha de cr�ticas do governo, por�m, se desfez na semana passada depois que o Conselho de Pol�tica Monet�ria (Copom) manteve a taxa de juros no mesmo patamar em que estava.

A ata da reuni�o ainda menciona a necessidade de o governo apresentar um novo conjunto de regras fiscais que norteiam como a atual gest�o vai cuidar das contas p�blicas.

O chamado "arcabou�o fiscal" vem sendo desenhado pela equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e deveria ter sido apresentado em mar�o, mas Lula acabou adiando o an�ncio �s v�speras de sua viagem para a China.

A viagem, no entanto, acabou n�o ocorrendo porque Lula foi diagnosticado com uma pneumonia. Agentes do mercado avaliam que o an�ncio de um novo arcabou�o fiscal que seja cr�vel e transparente pode abrir caminho para a redu��o na taxa de juros.

Uma fonte que acompanha de perto o retorno de Bolsonaro citou a fragilidade da agenda econ�mica de Lula como um dos elementos que influenciaram na escolha do ex-presidente sobre o momento do seu retorno.

Segundo ele, faltando pouco mais de uma semana para a marca de 100 dias de mandato, Lula teria pouco a mostrar nessa �rea.

Para o deputado federal Capit�o Augusto (PL-SP), um dos principais aliados de Bolsonaro na C�mara dos Deputados, a economia � um dos principais pontos fracos desse in�cio de governo de Lula e a chegada de Bolsonaro neste momento, colocaria ainda mais press�o sobre o novo governo.

"A economia est� em marcha lenta. Lula est� com dificuldade em fazer a m�quina andar e j� estamos chegando a 100 dias de governo e ele n�o tem quase nada para apresentar. Bolsonaro, por outro lado, tem um mandato para ser comparado", disse o parlamentar.

Oposi��o ainda sem lideran�a

Um dos fatores que, segundo aliados, tamb�m influenciou na escolha do momento de retorno de Bolsonaro � o fato de que, desde sua partida, a direita conservadora no pa�s n�o teria encontrado nenhum outro substituto para liderar a oposi��o ao governo Lula.

A perman�ncia de Bolsonaro nos EUA tamb�m vinha incomodando ex-aliados de seu governo com o presidente do Partido Republicanos, ligado � Igreja Universal do Reino de Deus, o deputado federal Marcos Pereira.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no in�cio deste m�s, ele disse que Bolsonaro n�o seria uma lideran�a da oposi��o.

"Acho que n�o, porque se fosse l�der da oposi��o, ele teria de estar fazendo oposi��o aqui no Brasil. Ele � um turista nos Estados Unidos", disse.

Alguns dos principais nomes da direita no Parlamento ainda n�o teriam conseguido se transformar em protagonistas da oposi��o ao governo Lula.

Entre eles est� o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que foi o mais votado do Brasil em 2023, com 1,4 milh�o de votos.

No Dia Internacional da Mulher, ele protagonizou um epis�dio pol�mico ao usar uma peruca e fazer um pronunciamento com frases interpretadas como ofensivas � comunidade LGBTQIA+.

O outro nome da oposi��o que recuperou alguma notoriedade nos �ltimos dias foi o de Moro, especialmente depois das falas de Lula sobre ele.

Apesar disso, aliados de Bolsonaro entendem que nenhuma dessas lideran�as teria, hoje, condi��es de organizar a oposi��o ao governo Lula.

"A ala conservadora da direita ainda v� o Bolsonaro como a principal lideran�a do pa�s nesse campo. Ningu�m surgiu nesse tempo em que ele esteve fora e assumiu esse posto", disse o deputado Marco Feliciano.

"N�o tem outra lideran�a hoje em dia. Assim como o Lula � a principal lideran�a da esquerda, o Bolsonaro � a principal lideran�a na direita. Novas lideran�as n�o surgem do dia pra noite", afirmou o deputado Capit�o Augusto.

Bolsonaros como cabos eleitorais

O outro fator apontado como determinante para o retorno de Bolsonaro ao Brasil � um plano do presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, para usar o ex-presidente e sua mulher, Michelle Bolsonaro, como cabos eleitorais durante as elei��es municipais de 2024.

No PL, Bolsonaro dever� ocupar o cargo de presidente de honra do partido, com direito a um sal�rio estimado em at� R$ 40 mil. Michelle Bolsonaro tamb�m exercer� atividades no partido. Ela � a presidente do PL Mulher e ter� um sal�rio estimado em R$ 33,7 mil.

A meta de Valdemar � que o partido conquiste pelo menos 1 mil prefeituras em todo o pa�s no ano que vem. A ideia � quase triplicar o n�mero de cidades comandadas pelo partido na compara��o com as �ltimas elei��es.

Em 2020, a legenda, quando ainda n�o tinha Bolsonaro como filiado, o PL ficou em sexto lugar em n�mero de prefeituras conquistadas, com 345.

Naquele ano, o partido que obteve o maior n�mero de prefeituras havia sido o MDB, com 784.

"Bolsonaro teve 58 milh�es de votos em 2022. Ele � nosso maior cabo eleitoral no pa�s. O plano do Valdemar (da Costa Neto) � a gente aumentar e muito o nosso n�mero de prefeituras. Metade do Brasil apoia o Bolsonaro. � um capital eleitoral muito grande", disse Marco Feliciano.

"O presidente do partido quer aumentar o n�mero de filia��es e de candidaturas. Com Bolsonaro viajando pelo Brasil, a gente vai se transformar no maior partido do pa�s em n�mero de filiados, uma vez que j� somos o maior partido em n�mero de deputados", disse Capit�o Augusto.

Em 2022, o PL, ancorado no bolsonarismo, elegeu a maior bancada da C�mara dos Deputados: 99 parlamentares. No senado, o PL tem a segunda maior bancada, com 13 senadores, atr�s apenas do PSD, com 15.

Para o cientista pol�tico e professor da Funda��o Get�lio Vargas (FGV) Cl�udio Couto, os fatores que influenciaram no c�lculo de Bolsonaro para voltar ao Brasil fazem sentido.

"De fato, tudo isso s�o fragilidades do governo Lula e que favorecem o Bolsonaro", disse Couto.

O professor disse, por�m, que nem tudo ser� f�cil para Bolsonaro em seu retorno.

"O problema dele � que v�rios esqueletos no arm�rio est�o aparecendo, o que torna a situa��o dele bem dif�cil", avaliou Couto.

Para o professor, a volta de Bolsonaro pode tornar a vida de Lula no governo mais dif�cil.

"Acho que o Lula n�o tem nada a ganhar com ele aqui, a n�o ser que a situa��o judicial do Bolsonaro piore. Por exemplo, com uma pris�o ou uma busca e apreens�o. Isso inverte o sinal. Se nada disso ocorrer, o Bolsonaro circulando por aqui � ruim para o Lula", disse.


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