
Em entrevistas concedidas na quarta-feira, Bolsonaro negou ter conhecimento sobre qualquer fraude relativa aos seus dados de vacina��o e voltou a afirmar que ele e sua filha de 12 anos de idade n�o foram vacinados.
A Opera��o Venire, deflagrada na manh� de hoje, investiga um suposto esquema que teria sido iniciado pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel do Ex�rcito Mauro Cid, com o objetivo de alterar dados de vacina��o de pessoas pr�ximas ao militar, inclusive do ex-presidente Bolsonaro e sua filha.
O advogado Rodrigo Roca, que representa Mauro Cid, disse � BBC News Brasil que a defesa do tenente-coronel teve acesso a parte dos autos do processo.
"Estamos lendo. Devemos nos manifestar somente amanh�", afirmou.
Pelo Twitter, o ex-secret�rio de comunica��o do governo de Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse que a acusa��o sobre a suposta adultera��o dos cart�es de vacina��o de Bolsonaro "� obra de fic��o oportunista. Como sabido por todos, Bolsonaro sempre deixou claro que nunca foi vacinado".
Ao todo, seis pessoas foram presas preventivamente e diversos mandados de busca e apreens�o foram expedidos.
Um deles, o que causou mais repercuss�o, foi executado na casa do ex-presidente em condom�nio de luxo de Bras�lia. Entre os itens levados pelos agentes da PF est� um telefone celular de Bolsonaro.
De acordo com as investiga��es, entre os dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022, foram inseridos dados nos sistemas de vacina��o do Minist�rio da Sa�de indicando que Bolsonaro havia sido vacinado.
A informa��o, por�m, ia na contram�o do discurso do ent�o presidente, que dizia que n�o havia se vacinado.
A inser��o dos dados, segundo a PF, aconteceu pelo ent�o secret�rio de sa�de do munic�pio de Duque de Caxias Jo�o Carlos de Sousa Brecha, que � o atual secret�rio de Governo da cidade.
Os dados foram, segundo a PF, posteriormente apagados em dezembro de 2022, pouco antes de Bolsonaro embarcar para os Estados Unidos.
A reportagem enviou e-mails para a Prefeitura de Duque de Caxias, mas n�o obteve retorno. A reportagem n�o conseguiu localizar a defesa do atual secret�rio de Governo da cidade.
O caso envolve Mauro Cid, assessores pr�ximos a Bolsonaro e servidores p�blicos de Duque de Caxias. Cid foi um dos presos.
A Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) foi contra o mandado de busca e apreens�o contra a resid�ncia de Bolsonaro alegando que n�o havia elementos suficientes para indicar que ele tivesse ci�ncia do esquema.
Alexandre de Moraes, no entanto, argumentou que a justificativa apresentada pela PGR n�o era "cr�vel" e acatou o pedido feito pela PF.
Confira abaixo, os principais elementos elencados pela Pol�cia Federal e por Alexandre de Moraes que embasaram a opera��o contra Bolsonaro:
Proximidade entre Mauro Cid e Bolsonaro
Um dos pontos elencados pela PF e por Alexandre de Moraes � a proximidade de Mauro Cid com Bolsonaro, e a suposta impossibilidade de que o esquema funcionasse sem que o ex-presidente tivesse conhecimento.
Mauro Cid ficou conhecido ao longo dos quatro anos em que Bolsonaro esteve no poder como um de seus assessores mais pr�ximos. Ele � formado na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), a mesma onde Bolsonaro se formou nos anos 1970.
Cid tamb�m � filho de um ex-colega de Bolsonaro dos tempos em que o ex-presidente foi militar.
Mauro Cid tamb�m � investigado pela Pol�cia Federal no caso envolvendo joias dadas pelo governo da Ar�bia Saudita � fam�lia Bolsonaro. Foi ele quem assinou um of�cio endere�ado � Receita Federal de S�o Paulo pedindo a libera��o de um lote de joias apreendido no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Essa proximidade fez com que a PF conclu�sse que seria improv�vel que Bolsonaro n�o soubesse da inser��o das informa��es falsas a respeito da sua situa��o vacinal.
A tese de que Bolsonaro poderia n�o saber de nada foi aventada pela PGR em uma manifesta��o feita pela subprocuradora-geral da Rep�blica Lind�ra Ara�jo em resposta aos pedidos de pris�o e busca e apreens�o feitos pela PF.
A PGR foi contra o mandado de busca e apreens�o na casa de Bolsonaro argumentando que n�o havia ind�cios de que ele soubesse do esquema.
"Diversamente do enredo desenhado pela Pol�cia Federal, o que se extrai � que Mauro Cesar Barbosa Cid teria arquitetado e capitaneado toda a a��o criminosa, � revelia, sem o conhecimento e sem a anu�ncia do ex-Presidente da Rep�blica Jair Messias Bolsonaro", disse o parecer da subprocuradora-geral.
Alexandre de Moraes, no entanto, n�o acatou a argumenta��o. Segundo ele, a tese levantada pela PGR n�o seria "cr�vel".
"N�o h� qualquer indica��o nos autos que conceda credibilidade � vers�o de que o ajudante de ordens do ex-Presidente da Rep�blica Jair Messias Bolsonaro pudesse ter comandado relevante opera��o criminosa, destinada diretamente ao ent�o mandat�rio e sua filha L. F. B., sem, no m�nimo, conhecimento e aquiesc�ncia daquele (Bolsonaro), circunst�ncia que somente poder� ser apurada mediante a realiza��o da medida de busca e apreens�o requerida pela autoridade policial", disse Moraes ao justificar a decis�o que autorizou a busca e apreens�o na casa de Bolsonaro, em Bras�lia.
Ao analisar os dados levantados pela Pol�cia Federal, Moraes afirmou que seria plaus�vel supor que Bolsonaro tenha tentado se beneficiar da inser��o dos dados falsos sobre a vacina��o.
"� plaus�vel, l�gica e robusta a linha investigativa sobre a possibilidade de o ex-Presidente da Rep�blica, de maneira velada e mediante inser��o de dados falsos nos sistemas do SUS (Sistema �nico de Sa�de), buscar para si e para terceiros eventuais vantagens advindas da efetiva imuniza��o, especialmente considerado o fato de n�o ter conseguido a reelei��o nas Elei��es Gerais de 2022", disse Moraes em seu despacho.

Certificado de Bolsonaro pelo celular de Mauro Cid
De acordo com a Pol�cia Federal, depois que os dados sobre a suposta vacina��o de Bolsonaro contra a covid-19 foram inseridos no sistema do Minist�rio da Sa�de, Mauro Cid acessou o sistema ConecteSUS do seu pr�prio telefone para emitir o certificado de vacina��o de Bolsonaro.
Os acessos aconteceram, segundo a PF, nos dias 22, 27 e 30 de dezembro de 2022. O �ltimo acesso, portanto, ocorreu no mesmo dia em que o presidente e sua comitiva embarcaram em um avi�o da For�a A�rea Brasileira (FAB) rumo aos Estados Unidos, onde ficou por tr�s meses.
"As consequentes emiss�es de certificado de vacina��o contra a Covid-19, nos dias 22 e 27 de dezembro de 2022, pelo usu�rio do ex-Presidente da Rep�blica JAIR BOLSONARO foram realizados no Pal�cio do Planalto, local condizente com a atividade ent�o exercida por Jair Messias Bolsonaro [...] Da mesma forma, o acesso ao aplicativo ConecteSUS e a emiss�o de certificado de vacina��o contra a Covid-19 no dia 30 de dezembro de 2022 foram realizadas por meio do telefone celular de Mauro Cesar Cid", diz um trecho do relat�rio feito pela PF e entregue a Alexandre de Moraes.
Em outro trecho, a PF avalia que Bolsonaro, Mauro Cid e um militar que atuava como m�dico do ent�o presidente "tinham plena ci�ncia da inser��o fraudulenta dos dados de vacina��o, se quedando (ficando) inertes em rela��o a tais fatos at� o presente momento".
Ainda de acordo com a PF, as inser��es supostamente falsas de informa��es pode ter tido um objetivo espec�fico: "Gerar vantagem indevida para o ex-presidente da Rep�blica, Jair Bolsonaro, relacionada a fatos e situa��es que necessitem de comprovante de vacina��o contra a Covid-19", diz um trecho do relat�rio da PF.
Certificado de filha de Bolsonaro �s v�speras de viagem
Outro elemento apontado pela Pol�cia Federal foi o fato de que o esquema teria sido respons�vel pela emiss�o de certificado de vacina��o para a filha de 12 anos de idade de Bolsonaro com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Segundo as investiga��es, os dados sobre a vacina��o dela foram inseridos, inicialmente, nos dias 24 de julho de 2022 e 13 de agosto de 2022. Os registros teriam sido feitos no munic�pio de Duque de Caxias.
O relat�rio enviado pela PF ao STF aponta, ainda, que no dia 27 de dezembro de 2022, foi emitido um certificado de vacina��o em ingl�s.
A PF aponta que, coincidentemente, no dia seguinte, 28 de dezembro, a filha de Bolsonaro embarcou para os Estados Unidos.
De acordo com a PF, a supostas inser��es falsas de dados referentes � filha de Bolsonaro teriam como objetivo "gerar vantagem indevida para a filha adolescente, por determina��o de seus pais".
Ainda segundo a PF, os ind�cios apontam que Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro tinham "plena ci�ncia" sobre os dados falsos envolvendo sua filha.
"Obviamente, Jair Messias Bolsonaro e Michelle Firmo Bolsonaro, t�m plena ci�ncia de que os dados de vacina��o em nome de sua filha menor de idade s�o ideologicamente falsos. Ainda assim, o certificado digital de vacina��o contra a Covid-19 foi emitido no dia 27/12/2022, em l�ngua inglesa, na v�spera da viagem da adolescente para os Estados Unidos da Am�rica", aponta a PF.