
Rodopiam alucinadamente em sentido anti-hor�rio. Em c�rculo, os dervixes trazem longos chap�us c�nicos, que simbolizam o “t�mulo do ego”. Renascidos espiritualmente para a viagem da verdade, como pi�es libertos de suas capas pretas, deixam que as tradicionais vestes brancas flutuem sobre o male�vel corpo em jejum. O p� direito comanda o giro, impondo pequenas tor��es sobre o p� esquerdo. Os bra�os se abrem, a m�o direita se eleva ao c�u, pronta para receber a energia divina que fluir� pela palma da m�o esquerda, virada para a terra. O olhar embaralhado sem foco vaga ao alcan�ar, em �xtase, a uni�o perfeita com Deus, a liberta��o de toda agonia e dor humana do estar e desejar.
A embriagante dan�a dos dervixes que rodopiam � carregada de simbologia e se inicia com a melodia da flauta de bambu – “ney” –, que espalha o “sopro de Deus” e se junta ao “duvar” – tambor – aos pratos e ao ud. O ambiente se enche com o recitar da Na’t-i Serif, que louva o profeta Mohammed, os outros profetas que antes dele chegaram e a Deus que tudo criou. Denominada Sema, a impressionante cerim�nia � protagonizada pela ordem asc�tica sufista Mevlevi corrente m�stica do islamismo, fundada em 1273, em Konya, regi�o da Anat�lia, na Turquia, a partir de onde gradualmente se difundiu pelo Imp�rio Turco-Otomano. A ordem sufista Mevlevi foi inspirada pelo mestre espiritual ulama – guardi�o, int�rprete e erudito do isl� Celaleddin-i Rumi (1207-1273), tamb�m conhecido como Mevl�na, poeta persa entre os mais importantes pensadores do misticismo turco-isl�mico.
E � precisamente em Konya, no Museu de Mevl�na, no antigo monast�rio dervixe, obra da arquitetura selj�cida do s�culo 13, onde cerca de 1,5 milh�o de peregrinos buscam todos os anos a filosofia de uni�o espiritual e amor universal apregoada por Rumi, autor de Mathnawi, seis livros que cont�m 25 mil d�sticos rimados, 2,5 mil odes m�sticas e 1,6 mil quadras com o seu pensamento foi ditado ao longo de 15 anos, sempre que a inspira��o lhe ocorria, em qualquer hora ou lugar, fosse meditando, dan�ando, cantando, comendo ou andando.
“Aqueles que aqui entram incompletos, sair�o perfeitos.” A inscri��o salta sobre o portal otomano de prata do s�culo 16, � entrada do mausol�u Kubbe-i Hadra – em tradu��o livre, Mausol�u Verde – que integra o Museu Mevl�na. Coberto com mortalha de pesado veludo bordado em ouro, sobre a qual o grande turbante simboliza a autoridade espiritual, o sarc�fago de Rumi – ou Mevl�na – mira sobre si o domo turquesa arredondado, ainda que talvez preferisse ter por teto o infinito c�u.
Rumi est� enterrado ao lado do pai Sultan�’l-Ulema (1151-1231), te�logo que muito influenciou a sua forma��o na tradi��o sufista, e do seu filho, o sult�o Veled (1226-1312). Esse poeta, que um dia escreveu “a nossa morte � nosso casamento com a eternidade”, tem sobre o seu epit�fio: “Quando estivermos mortos, n�o procure nosso t�mulo na terra, mas o encontre no cora��o dos homens”. Entre os 66 sarc�fagos de dervixes que repousam no mausol�u, alguns est�o ocultos, outros dispostos em plataforma um n�vel abaixo daquela de Rumi, onde a mensagem cunhada em pedra � dedicada aos peregrinos: “As coisas lhe parecem como voc� �”.
