Museu ao ar livre
Refer�ncia na difus�o do cristianismo, a cidade foi por muito tempo a segunda mais importante do Imp�rio Romano
A Turquia � um pa�s fascinante, sonho de consumo para qualquer turista. A efervescente Istambul, cidade instalada entre dois continentes – o europeu e o asi�tico – com suas famosas mesquitas, bazares e pal�cios, � de deixar qualquer turista boquiaberto.
A Capad�cia, com in�meras cavernas – ref�gio dos crist�os perseguidos ap�s a crucifica��o de Jesus em Jerusal�m – e suas igrejas escavadas na pedra, como � o caso da Igreja S�o Jorge, forma��es rochosas c�nicas e o famoso passeio de bal�o tamb�m n�o deixam por menos.
Se n�o bastassem as atra��es dessas bel�ssimas cidades do ex-antigo Imp�rio Otomano, o pa�s turco guarda, ainda, um grande tesouro da humanidade: as ru�nas da cidade de �feso. Por muito tempo, essa foi a segunda cidade mais importante do Imp�rio Romano, tamb�m de grande relev�ncia para o mundo pag�o e refer�ncia na difus�o do cristianismo.
Um dos maiores museus arqueol�gicos do mundo ao ar livre, localizado na parte ocidental da �sia menor, na regi�o de Anat�lia, pr�ximo ao Mar Egeu, a cidade de �feso foi constru�da por volta de 1000 a.C. pelos gregos. As escava��es na regi�o onde se localiza a cidade come�aram h� 100 anos e, segundo arque�logos, apenas 25% foram redescobertos.

Foi no per�odo de dom�nio grego, em �feso, a constru��o do Templo de �rtemis, a deusa grega, denominada de Diana pelos romanos, a protetora dos bosques, da ca�a e dos animais selvagens. O monumento foi uma das sete maravilhas do mundo antigo e se tornou centro de venera��o � deusa. Era composto por 127 colunas de m�rmore dispostas em filas duplas, todas decoradas com obras de arte, tendo cada uma 20 metros de altura. Tinha 138 metros de comprimento e 71,5 metros de largura.
No seu interior, a est�tua de �rtemis em �bano, ouro, prata e pedra era venerada pelos habitantes da regi�o. Do monumento, que levou 200 anos para ser erguido, resta hoje apenas uma �nica coluna, que resistiu �s invas�es, saques e terremotos ao longo dos tempos. Mesmo assim, o local � um dos mais visitados de �feso.
Mas foi foi em 129 a.C., sob o comando do Imp�rio Romano, que �feso conheceu seu apogeu, perdendo em import�ncia apenas para Roma. Estima-se que a cidade chegou a ter 400 mil habitantes, formada por intelectuais, mercadores, pessoas de grandes posses e escravos. Seu com�rcio fervilhava e era um dos mais importantes centros comerciais da �poca, gra�as principalmente � sua localiza��o estrat�gica: pelo mar estava ligada � Roma e por terra com grande parte da �sia.
Cidade foi reconstru�da quatro vezes

A prosperidade econ�mica de �feso possibilitou a constru��o de v�rias edifica��es memor�veis. Suas ruas pavimentadas com m�rmore nos levam a monumentos grandiosos, que merecem ser destacados, como � o caso da Biblioteca de Celso (Governador romano), uma das edifica��es mais conservadas do s�tio arqueol�gico. Foi a terceira mais importante biblioteca do mundo antigo, ficando atr�s apenas das bibliotecas de Alexandria, no Egito, e de Pergamo, na Gr�cia. Chegou a ter mais de 12 mil rolos de manuscritos. Seu interior, como era comum em �feso, era pavimentado em m�rmore.
Em sua fachada, encontram-se as est�tuas de quatro deusas: Sophia, que representa a sabedoria; Episteme, o conhecimento; Ennoia, a intelig�ncia, e, por �ltimo, Arete, representando a bravura. Segundo historiadores, essas seriam as virtudes de Celso durante sua vida. As ru�nas da biblioteca s�o uma representa��o clara do estilo arquitet�nico dos romanos nos primeiros s�culos.
�feso tamb�m ficou famosa pelo seu grande est�dio, com capacidade para 25 mil pessoas, tr�s andares e 18 metros de altura. O espa�o era usado para eventos de m�sica, cerim�nias religiosas, discuss�es sobre quest�es da cidade, jogos e luta de animais com gladiadores (um grande cemit�rio desses lutadores foi encontrado na cidade). Tamb�m foi palco das prega��es do ap�stolo Paulo, que viveu na cidade difundindo o cristianismo. No in�cio, os ensinamentos do ap�stolo de Cristo n�o tiveram muita aceita��o pela popula��o local, o que s� ocorreu depois de ‘batalhas’ incans�veis.
A edifica��o chegou a ser destru�da por crist�os em vingan�a aos sofrimentos ocorridos no local na Era Romana. Muitos crist�os eram obrigados a lutar com animais na arena. Al�m do est�dio, existia o Teatro Odeon, com capacidade para 1.500 pessoas, cen�rio de atra��es musicais e principalmente discuss�es de quest�es pol�ticas da cidade – Servia como Parlamento.
H� em �feso o Templo de Adriano, constru�do em homenagem � visita do imperador romano � cidade. O monumento tamb�m se encontra em bom estado de conserva��o. O templo est� situado na Rua Curetes. A mais famosa avenida da cidade, com 650 metros e pavimentada com m�rmore. Al�m de unir a parte administrativa e pol�tica com a parte p�blica, era famosa pelo grande n�mero de lojas, onde os ricos faziam suas compras. Os principais produtos e mercadorias da �poca podiam ser encontrados nessa rua. Tamb�m pr�ximo a ela existiam os famosos banhos p�blicos, com latrinas constru�das lado a lado. O que deveria ser uma situa��o bastante constrangedora. Consegue imaginar? Segundo um guia local, os escravos sentavam antes para esquentar a pedra da latrina para em seguida os ricos a usarem.
Ao longo do tempo, grandes nomes da hist�ria desfilaram pela cidade, como Alexandre, o Grande, Cle�patra, S�o Paulo, S�o Jo�o e a Virgem Maria, m�e de Jesus Cristo. Vale acrescentar que foi em �feso a primeira igreja constru�da em homenagem a Santa Maria.Ficou curioso? A hist�ria de S�o Jo�o, o ap�stolo amado, e da m�e de Cristo na cidade voc� vai saber mais � frente.
Entre terremotos e invas�es, a cidade foi reconstru�da quatro vezes. O decl�nio da cidade de �feso se deu devido ao assoreamento do porto, que era artificial e mantido atrav�s de dragagem. Hoje, o Mar Egeu fica a cinco quil�metros de dist�ncia.
N�o � necess�rio um olhar de especialista para perceber que �feso foi esculpida a m�o, retrato do talento dos povos antigos e destino imperd�vel para os turistas que gostam de conciliar hist�ria em sua viagens.
A Casa da Virgem Maria
Est� nos arredores de �feso, mais precisamente a oito quil�metros do centro do s�tio arqueol�gico, na Colina de Bullbul-dag (Colina do Rouxinol), um lugar sagrado para crist�os e mu�ulmanos, a casa onde teria vivido seus �ltimos nove anos de vida a Virgem Maria, m�e de Jesus.
Segundo a B�blia, quando foi pregado na cruz, Jesus olhou para sua m�e e perto dela estava o ap�stolo S�o Jo�o Evangelista. Dirigindo-se a Maria, disse: “Mulher, eis a� o teu filho!”, e voltando-se para Jo�o, falou: “Eis a tua m�e!”. Depois da morte de Jesus, o disc�pulo levou Maria para sua casa.
A partir de ent�o, Jo�o cuidou de Maria at� a morte dela, aos 61 anos, ou seja, 13 anos e dois meses depois da crucifica��o de Cristo. Preocupado em proteger Maria, j� que muitos crist�os estavam sendo assassinados pelos romanos ap�s a morte de Jesus, o disc�pulo amado de Cristo levou a Virgem Maria para �feso. Embora Jo�o tenha vivido na cidade, onde escreveu seu evangelho e pregou o cristianismo, Maria n�o permaneceu na cidade por muito tempo. O disc�pulo achou mais seguro construir uma casa nas redondezas da cidade.
As vis�es de KATHARINA
A vers�o de Maria morando nos arredores de �feso ganhou for�a no s�culo 19, mais precisamente em 1842, ano da publica��o, em Munique, dos apontamentos do poeta alem�o Clemont Brentano sobre as vis�es da alem� Katharina Emmerick – beata que sofria com os estigmas de Cristo e viveu parte de sua vida em uma cama, encontrando conforto nas vis�es que tinha sobre a vida da Virgem Maria. O livro A vida da Virgem Maria segundo as revela��es de Anna Katharina Emmerick, publicado ap�s a morte de Clemont, relata com precis�o detalhes da forma e localiza��o da casa onde teria vivido Nossa Senhora, como se percebe em trechos do seu �ltimo cap�tulo:
“Maria n�o vivia em �feso, mas sim nos arredores (...) A casa se situava no topo de uma montanha, do lado esquerdo de uma estrada que vem de Jerusal�m, a cerca de tr�s l�guas de �feso. (...) Apenas a casa de Maria era de pedra.”
Em 1891, dois padres vicentinos do col�gio franc�s de Esmirna, seguindo as afirma��es e orienta��es das vis�es da beata descritas no livro, descobrem as ru�nas da casa de Maria. Um ano depois, uma comiss�o de inqu�rito formada por autoridades da diocese de Esmirna, ap�s a realiza��o de diversas inspe��es, decretou a autenticidade da descoberta da casa de Maria, reconhecendo semelhan�as inquestion�veis entre as descri��es de Emmerick e a edifica��o redescoberta.
Hoje, a casa de pedra – pequena, r�stica e modesta – � chamada de Santu�rio de Meryemana (A Casa de Maria). Local de sil�ncio, ora��o e reflex�o. O lugar � t�o m�stico que � dif�cil descrever com palavras a energia do lugar. Muitas pessoas se emocionam e choram contagiadas pelo clima do ambiente.
No caminho, pain�is contam a hist�ria do santu�rio em v�rias l�nguas. Apenas a parte central, onde se encontra o altar e uma pequena sala, est� aberta ao p�blico. As fotos no seu interior s�o expressamente proibidas. H� lugares para acender velas e fazer ora��es. No quintal da casa existe uma fonte, que, segundo a tradi��o, tem poder curativo. A �gua ficou conhecida como a �gua de Maria. Muitos visitantes enchem garrafas e levam para suas casas ou d�o para familiares e amigos. Um pouco � frente, em um muro colorido recoberto de pap�is, o retrato fiel da f� em Nossa Senhora: milhares de pedidos e agradecimentos s�o pregados na parede.
O santu�rio recebe por ano mais de 800 mil peregrinos. Entre eles, crist�os, crist�os ortodoxos e muitos mu�ulmanos, j� que no Alcor�o Maria � muito respeitada e bastante citada e chamada de v�rias formas, como a escolhida de Deus, a mulher mais not�vel do mundo, pura, imaculada, casta.
Sobre a morte de Maria na casa, o Vaticano n�o se pronuncia. N�o existem provas cient�ficas para comprova��o da sua morte na Colina do Rouxinol. Uma outra vers�o seria que Maria teria morrido em Jerusal�m. Por�m, a casa de Maria j� recebeu a visita de tr�s papas: Paulo VI, em 1967; Jo�o Paulo II, em 1979, e Bento XVI, em 2006. O local foi considerado sagrado e lugar de peregrina��o.
Foi em �feso, no s�culo 4, a primeira igreja dedicada a Virgem Maria em um enorme edif�cio romano. Nesse templo foi celebrado um importante conc�lio ecum�nico, no qual ficou estabelecido que Maria poderia ser chamada de Theotokos, a m�e de Deus.
O Santu�rio de Meryemana n�o tem a ostenta��o da Bas�lica de S�o Pedro, em Roma, e como j� foi dito, � bastante simples, mas de uma energia inexplic�vel. Um lugar imperd�vel, n�o s� pelo valor hist�rico, mas pela experi�ncia espiritual surpreendente e m�gica. Se voc� vai a �feso, n�o perca a visita��o da casa de Maria, que fica a apenas 8 quil�metros do s�tio arqueol�gico.