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Estado de Minas DELTA DO PARNA�BA

Horrores de uma guerra desconhecida dos brasileiros

Batalha de Jenipapo guarda um dos mais sangrentos epis�dios da independ�ncia do Brasil


postado em 04/02/2020 04:00 / atualizado em 05/02/2020 14:10

No local da Batalha de Jenipapo foi erguido um monumento em memória aos piauienses que ali morreram (foto: Bertha Maakaroun/EM/D. A Press)
No local da Batalha de Jenipapo foi erguido um monumento em mem�ria aos piauienses que ali morreram (foto: Bertha Maakaroun/EM/D. A Press)


“Batalha de Jenipapo. Ber�o da Independ�ncia”. O marco chama a aten��o sobre a BR 353, a 88 quil�metros de Teresina, em dire��o a Parna�ba, no Norte do Piau�. A hist�ria, pouco contada para al�m daquelas fronteiras, guarda um dos mais sangrentos epis�dios da independ�ncia do Brasil.
 
Apesar disso, por muito tempo, essa foi uma independ�ncia retratada pela historiografia oficial como se pac�fica e consensual tivesse sido, muito focada no jovem dom Pedro I, em seu “heroico brado” de 7 de setembro de 1822, �s margens do Ipiranga, retratado por Pedro Am�rico no quadro Independ�ncia ou morte.
 
A hist�ria real, contudo, tem outras vertentes. Em rea��o � tentativa de dom Jo�o VI de manter como col�nias portuguesas as prov�ncias do Norte , houve muita resist�ncia dos brasileiros. E muitas batalhas. Em 13 de mar�o de 1823, � beira do Rio Jenipapo, na Vila de Campo Maior, no Piau�, registrou-se um dos mais violentos confrontos entre brasileiros e portugueses. Foi crucial para a integridade territorial do Brasil tal como conhecemos hoje. De t�o importante, a data integra, desde 2005, a bandeira do Piau�.
 
� margem da BR-353, o sangrento conflito � retratado no monumento aos her�is da Batalha do Jenipapo, no exato local da luta, tombado pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional. Erguido em 1973, por ocasi�o das celebra��es de seus 150 anos, abriga um pequeno museu, atr�s do qual est�o enterrados muitos dos combatentes. Quadros relatam a hist�ria da batalha, naquele tempo em que o territ�rio da Am�rica portuguesa dividia-se em dois estados aut�nomos: ao Sul, o estado do Brasil, com capital em Salvador; ao Norte, o estado do Maranh�o, com capital em S�o Lu�s, abrangendo as capitanias do Par�, Maranh�o, Piau� e Cear�, regi�o que mantinha mais rela��es comerciais com Lisboa do que com Salvador e, posteriormente, com o Rio de Janeiro.
 
Pressionado pela revolu��o liberal do Porto, ao retornar a Portugal em 1821, dom Jo�o VI reconhecia a inevitabilidade da independ�ncia do Brasil. Chegou a aconselhar o filho: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me h� de me respeitar, do que para algum aventureiro”. Contudo, diante do fato consumado �s margens do Ipiranga, o monarca portugu�s tentou preservar as prov�ncias do Par�, do Maranh�o e do Piau�, este criador de gado bovino e fornecedor de carne �s demais regi�es brasileiras, inclusive a regi�o Sul. Dom Jo�o VI enviou a Oeiras, ent�o capital do Piau�, o comando das armas sob as ordens do experiente militar portugu�s Jo�o Jos� da Cunha Fidi�, que havia combatido na Europa contra Napole�o Bonaparte.
 
Logo ap�s a posse de Fidi�, em 9 de agosto de 1822, em Parna�ba, a 700 quil�metros de Oeiras, um grupo de brasileiros declarou a ades�o � causa da independ�ncia. Para sufocar tal movimento, Fidi� seguiu com as tropas portuguesas, chegando em 18 de dezembro de 1822. N�o encontrou os chefes do movimento independentista, que se refugiaram em Granja, no Cear�. De Oeiras, entretanto, chegaram-lhe um m�s depois, novas not�cias: Manuel de Sousa Martins, futuro Visconde da Parna�ba, tamb�m proclamara a independ�ncia, assumindo a presid�ncia da Junta do Governo do Piau�. Fidi� decide regressar com 1.100 homens armados e 11 pe�as de artilharia, disposto a aniquilar os revolucion�rios.
 
Campo Maior estava na rota de retorno de Fidi�. Ali, formara-se um centro de for�as nacionalistas que tamb�m havia aderido � independ�ncia, em 2 de fevereiro de 1823. Na vila, os brasileiros prepararam-se para o confronto. O capit�o Lu�s Rodrigues Chaves convocou os piauienses. Reuniu mais de mil, aos quais se juntaram 500 cearenses. Eram camponeses, mal-armados, carregando foices, fac�es, espingardas de ca�a, espadas, sem qualquer treinamento militar. Nas palavras do senador da Rep�blica Velha Abdia Neves: “E s� a loucura patri�tica explica a cegueira desses homens que iam partir ao encontro de Fidi� quase desarmados”.
 
Em 13 de mar�o de 1823, �s 9h, em longo e violento combate, os brasileiros foram derrotados. “Quando passava do meio-dia, n�o a consci�ncia da derrota, mas o cansa�o puro e simples come�ou a domin�-los. As armas ca�am-lhes das m�os tr�mulas. As pernas bambeavam. J� n�o combatiam, arrastavam-se para a morte (...). Tamb�m os partid�rios de Fidi� ca�am de cansa�o. Cinco horas de luta ininterrupta e um sol abrasador tiravam-lhe totalmente o �nimo. N�o perseguiram os independentes em retirada. N�o poderiam faz�-lo. A vit�ria amarga n�o conseguira alegrar o cora��o do comandante portugu�s. Ele estava assombrado com o arrojo, a valentia e o desamor pela vida demonstrados pelos seus advers�rios, relata o historiador Joaquim Raimundo Ferreira Chaves.
 
Fidi�, com superioridade em termos de armamento e de experi�ncia militar, venceu a Batalha do Jenipapo. Mas sofreu um forte rev�s: os brasileiros roubaram-lhe a bagagem de guerra com os soldos e muni��o. Sem ambos, precisou refugiar-se em Caxias, no Maranh�o, onde resistiu por tr�s meses, at� capitular. Foi levado preso para Oeiras e depois para o Rio de Janeiro, de onde foi deportado para Portugal por ordem de dom Pedro I. O projeto de dom Jo�o VI de manter o Norte do Brasil fracassara.
 
Nas palavras de Fidi�: “Resisti at� o �ltimo apuro, tirando do campo inimigo, � ponta da baioneta, os v�veres precisos para sustentar a minha tropa, cheia de fadiga, e reduzida �s circunst�ncias mais penosas, at� que certo de que n�o podia ser socorrido e n�o podendo fazer mais nada honroso, capitulei”.


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