F�tima: um lugar de sil�ncio e f� onde os mineiros buscam devo��o

 

F�tima, Portugal – O sorriso, seguido de olhos ligeiramente arregalados, toma conta do rosto da recepcionista, no setor de informa��es ao p�blico do Santu�rio de F�tima, em Portugal, quando um viajante rec�m-chegado pergunta sobre o prov�vel grande n�mero de visitantes no pr�ximo s�bado. “Milhares...milh�es de pessoas de todos os lugares”, responde a jovem portuguesa sobre as celebra��es na data consagrada a Nossa Senhora de F�tima, 13 de maio, e o tradicional per�odo de peregrina��o internacional (at� 12 de outubro).

Segundo a assessoria de imprensa do santu�rio, a m�dia do n�mero de visitantes entre 2010 e 2019 ficou em 6 milh�es de pessoas – houve queda natural durante a pandemia e boa recupera��o no ano passado, com 4,9 milh�es. Com o final da emerg�ncia da COVID-19 decretado na sexta-feira pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), a romaria dever� seguir o ritmo da f� e levar cada vez mais devotos a Portugal, que sedia, de 1 a 6 de agosto, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023. Para o pr�ximo fim de semana, n�o � poss�vel estimar o p�blico, j� havendo grupos inscritos de mais de 20 pa�ses.

Nesta primavera europeia, � intensa a movimenta��o de romeiros cruzando a gigantesca esplanada do santu�rio para conhecer o local das apari��es da Virgem Maria relatadas, em 1917, por tr�s crian�as (L�cia, Francisco e Jacinta), rezar nas bas�licas Nossa Senhora do Ros�rio e Sant�ssima Trindade, participar da recita��o do ter�o ou simplesmente observar o espa�o sagrado. Em cada um, a busca de profunda experi�ncia espiritual, de Deus e de um modo mais fraterno para viver. 

Um dos pontos de peregrina��o cat�lica mais visitados do mundo, F�tima, distante 125 quil�metros da capital do pa�s, Lisboa, causa entusiasmo a quem j� o conhece e muita emo��o aos de “primeira viagem”, a exemplo da belo-horizontina Sandra Maria Fruet Romagnoli: “Sempre tive vontade de vir aqui. Logo ao chegar, senti um vento no rosto como se Nossa Senhora estivesse me tocando. Foi uma sensa��o diferente de outros locais onde j� estive. A emo��o � realmente intensa”.

Independentemente da cren�a do visitante, estar em F�tima amplia o conhecimento sobre um espa�o sagrado, abre portas para a cultura, estimula o gosto pela hist�ria. Impressionante ver, ao sol do meio-dia, pessoas seguindo, de joelhos, em dire��o � Bas�lica Nossa Senhora do Ros�rio para pagar promessas e pedir gra�as. Da mesma forma, causa como��o ouvir homens e mulheres, crian�as, jovens e adultos, rezando o ter�o em v�rios idiomas, na Capela das Apari��es. 

Moradora de Patroc�nio, na Regi�o do Alto Parana�ba (MG), a servidora p�blica Bet�nia Jaber de Britto Guimar�es contou ter sentido uma “energia forte” ao chegar ao santu�rio mariano. Pertencente a um grupo de ora��o que se re�ne para rezar o ter�o diante da imagem de Nossa Senhora de F�tima, Bet�nia disse admirar a devo��o das pessoas. “Vir a F�tima s� aumenta minha f�.” Tamb�m de Patroc�nio, a professora S�nia F�tima Rom�o Nunes, cujo segundo nome homenageia Nossa Senhora, abriu o cora��o �s b�n��os, pedindo gra�as para a fam�lia, os amigos e a humanidade. “Rezo o ter�o todos os dias, e estar no local onde Nossa Senhora de F�tima apareceu � um momento especial na minha vida”.

O peregrino pode, se quiser, escolher um canto para ficar sozinho – pode ser perto da azinheira, �rvore sobre a qual Nossa Senhora teria aparecido, um banco na Praceta Santo Ant�nio, e, em completo sil�ncio, conforme mostram os avisos, ficar conectado com o divino nas bas�licas. Nos folhetos e nas placas, est� escrito: “F�tima � um lugar de sil�ncio”.

Como hist�ria n�o falta a essa regi�o de Portugal, o visitante deve se preparar de corpo, alma e “c�mera do celular” para momentos de espiritualidade e posterior registro nos arquivos digitais. Bem na frente da Bas�lica da Sant�ssima Trindade, est� a Cruz Alta, feita em a�o corten, com 34 metros de altura e 17m de largura; e as est�tuas de S�o Jo�o Paulo II, em bronze, e do Beato Paulo VI.

Uma curiosidade est� no monumento apresentando um bloco do Muro de Berlim – constru�do em 1961 para impedir a passagem de cidad�os da Alemanha Oriental para a Alemanha Ocidental e derrubado em 1989. O peda�o de concreto, aos olhos do p�blico desde 1994 e oferecido por um emigrante portugu�s na Alemanha, pesa 2,6 mil quilos, mede 3,60 metros e tem 1,20m de largura.

E o que tem Berlim a ver com F�tima? – � de se perguntar. A resposta, conforme consta no folheto informativo do santu�rio, � que o monumento foi colocado “como grata recorda��o da interven��o de Deus, prometida em F�tima, da queda do comunismo”. As apari��es relatadas pelas crian�as ocorreram em 1917, ano em que ocorreu a Revolu��o de Outubro, tamb�m conhecida como Revolu��o Bolchevique, que mudou os destinos da R�ssia com a instaura��o do governo socialista sovi�tico. Tamb�m naquele ano, o planeta estava mergulhando na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

 

Imposs�vel estar em F�tima sem conhecer Aljustrel, a dois quil�metros do santu�rio – ainda com edifica��es hist�ricas preservadas, o lugar lembra um pres�pio, daqueles que os mineiros bem sabem fazer com montanhas, caminhos estreitos, casinhas singelas. A� moravam os pastorinhos L�cia de Jesus, de 10 anos, e seus primos Francisco Marto, de 9, e Jacinta Marto, de 7.

A can��o que diz “A Treze de Maio, na Cova da Iria, dos c�us aparece a Virgem Maria” certamente grudar� na cabe�a do visitante cat�lico como trilha sonora do passeio. Tanto em Aljustrel como em F�tima, h� lojas de artesanato com uma s�rie de produtos religiosos, incluindo imagens, ter�os, escapul�rios, �gua benta, camisas, pulseiras e outros suvenires para agradar a turma que ficou no Brasil.

No passeio por Aljustrel, o visitante ver� as casas dos pastores, edifica��es que n�o sofreram transforma��es significativas ap�s as apari��es relatadas por eles. No fundo do quintal da Casa de L�cia, v�-se o po�o onde o “Anjo da Paz” teria aparecido (em 1916) pela segunda vez, e, junto � moradia, a Casa-Museu de Aljustrel, chamada “Terra dos pastorinhos”.

 

De acordo com os relatos, em 13 de maio de 1917 as crian�as cuidavam de um pequeno rebanho na Cova da Iria, onde hoje se encontra a bas�lica, quando viram no c�u uma luz brilhante. Pensando ser um rel�mpago, decidiram ir embora, mas surgiu outro clar�o e eles viram sobre uma pequena azinheira (onde hoje se encontra a Capelinha das Apari��es) uma “Senhora mais brilhante do que o Sol”, de cujas m�os pendia um ter�o branco.

Eis o que diz o texto divulgado pelo Santu�rio de F�tima: “A Senhora disse aos tr�s pastorinhos que era necess�rio rezar muito, e os convidou a voltar � Cova da Iria durante mais cinco meses consecutivos, no dia 13 e �quela hora (...) Na �ltima apari��o, em outubro, estando presentes cerca de 70 mil pessoas, a Senhora disse-lhes que era a ‘Senhora do Ros�rio’, que fizessem uma capela em Sua honra, e n�o ofendesse a Deus Nosso Senhor que j� estava muito ofendido”. S�o dessa �poca os “tr�s segredos de F�tima”, as revela��es de Nossa Senhora, que, ao longo de mais de um s�culo, despertaram especula��es, estudos e, principalmente, muita curiosidade. Um dos segredos versava sobre a difus�o do comunismo. 

 

Um roteiro para aproveitar bem a viagem a F�tima, em Portugal;

1) Em Aljustrel

- As casas dos pequenos pastores L�cia, Francisco e Jacinta, com fotos, mobili�rio e arquitetura que n�o sofreram transforma��es significativas ao longo do tempo.

- Perto da Casa de L�cia, fica a Casa-Museu de Aljustrel

- Em Valinhos, a 400 metros de Aljustrel, um monumento marca a quarta apari��o de Nossa Senhora. H� tamb�m a Loca do Anjo, onde as crian�as receberam a primeira e a terceira visitas do Anjo da Paz, a via-sacra e o calv�rio.

2) No Santu�rio de F�tima

- A Capelinha das Apari��es � considerada o cora��o do santu�rio, sendo a primeira constru��o (iniciada em 1919) na Cova da Iria, no lugar das apari��es de Nossa Senhora.

- Com in�cio da sua constru��o em 1928, a Bas�lica de Nossa Senhora do Ros�rio de F�tima foi sagrada em 7 de outubro de 1953. Tem 15 altares dedicados aos 15 mist�rios do ros�rio. Na bas�lica, encontram-se os t�mulos de Francisco (1908-1919) e Jacinta (1910-1920).

- Azinheira grande, �rvore sob a qual os pastorinhos e os primeiros peregrinos esperavam e rezavam o ter�o, antes da chegada de Nossa Senhora.

- Monumento com um bloco de concreto do Muro de Berlim. Fica na entrada do santu�rio, do lado Sul da reitoria.

- Pra�a Jo�o Paulo II est� na frente da Bas�lica da Sant�ssima Trindade, onde se pode ver tamb�m a Cruz Alta, com 34 metros, e a est�tua de S�o Jo�o Paulo II, em bronze.