
Tivoli, It�lia – H� livros que nos acompanham a vida inteira: uma hora, ficam em nossas m�os, em outra, na estante ou quietinhos no canto do sof�, mas, sem d�vida, sempre grudados na mem�ria. J� li “Mem�rias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar (1903-1987), algumas (inesquec�veis) vezes, e sempre volto �s p�ginas para visitar lugares, personagens, ideias. E foi no sentido amplo do verbo visitar, com a emo��o aflorada, que parti de Roma em dire��o a Tivoli, distante 30 quil�metros, seguindo pela Via Tiburtina, a fim de conhecer a Villa Adriana – um peda�o monumental da Antiguidade.
Logo de cara, ao comprar o ingresso (12 euros), juntei o prazer de ler a magn�fica obra liter�ria ao de conhecer um dos cen�rios ali descritos, constatando, com satisfa��o, que o nome do espa�o em frente � Villa Adriana se chama Largo Marguerite Yourcenar. Nascida em Bruxelas, B�lgica, a escritora foi a primeira mulher a entrar para a Academia Francesa de Letras (1980). Se estivesse viva no plano f�sico (pois na literatura est� eternizada), ela teria completado 120 anos em 8 de junho.
Que espet�culo, pensei, criador e criatura lado a lado, e totalmente � disposi��o dos viajantes. As palavras conjugadas � terra se envolveram e se materializaram no esp�rito dos tempos.
E fui al�m, ao matutar: que bom gosto tinha o imperador Adriano (Publius Aelius Hadrianus, 76-138 d.C), que escolheu um lugar deslumbrante para erguer, no s�culo 2, o complexo de edif�cios cl�ssicos mesclando elementos da arquitetura eg�pcia, grega e romana. �gua, vegeta��o, arte e sil�ncio dominam os quatro cantos – e atraem o olhar do princ�pio ao fim – da Villa Adriana, reconhecida em 1999 como Patrim�nio Mundial pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco).
O conjunto natural e art�stico demonstra a erudi��o de Adriano um homem de imensa cultura e gosto pelas viagens ao longo do imp�rio romano, e que, pessoalmente, supervisionou as edifica��es na propriedade. Seu lema era “paz e cultura” – e � assim que o passeio deve transcorrer. � beira de uma das piscinas, h� uma cole��o de r�plicas (feitas em gesso) das est�tuas originais.
�GUA E LUZ

Foi no ano 118, um ano ap�s se tornar imperador e retornar a Roma ap�s uma viagem, que Adriano deu in�cio � constru��o da Villa Adriana. S�o 120 hectares, com tr�s complexos termais, edif�cios administrativos, teatro e outros espa�os em meio � imensid�o verde e embelezada por jardins. Como se trata de um s�tio arqueol�gico, � comum o visitante encontrar profissionais fazendo escava��es entre as ru�nas.
Num dia de c�u azul e temperatura amena, o rep�rter p�de caminhar e admirar, favorecido pela luz solar, o terra�o da academia, o vale do Canopo (com as termas), o complexo Pintado (com edif�cios orientados segundo os quatro pontos cardeais), e o Teatro Mar�timo. As esses espa�os, somam-se as bibliotecas, o Pal�cio Imperial, a Sala dos Fil�sofos e os vest�gios da caserna.
A cada passo, n�o se consegue frear a imagina��o. Como seria viver ali? Se o viajante estiver sem guia, vale a pena comprar um pequeno livro (6 euros, na lojinha da entrada), onde s�o encontradas lembrancinhas e respostas para a pergunta no in�cio deste par�grafo. Na publica��o, h� um desenho feito nos anos 1950, pelo arque�logo Italo Gismondi, mostrando como seria a propriedade (resid�ncia oficial do imperador) em sua totalidade. Se o leitor quiser fazer um passeio virtual, h�, na internet, sites com uma recria��o da “villa” em 3D.
“TERNA FLUTUANTE”

Na lojinha da entrada da vila, destaca-se a camisa branca, com a frase de autoria do imperador, que abre “Mem�rias de Adriano”: “Pequena alma terna flutuante, h�spede e companheira do meu corpo...” A obra-prima nasceu, conforme contou Marguerite Yourcenar ao jornalista franc�s Matthieu Galey (“De olhos abertos”, 1980), numa visita que fez � Villa Adriana, aos 20 anos.
“Foi o ponto de partida, a fagulha”, definiu a autora, certa de que, se tivesse escrito o livro na �poca, “teria visto sobretudo o artista, o amante da arte, o grande mecenas, o amante, sem d�vida; n�o teria visto o estadista”. Nas p�ginas, Marguerite Yourcenar narra a paix�o de Adriano pelo jovem Ant�noo, de quem h� v�rias esculturas em museus europeus. Ant�noo, “um jovem grego ou greco-asi�tico”, nas palavras da autora a Matthieu Galey nasceu na Bit�nia, atual Turquia.
APOGEU E DECL�NIO
Estudos mostram que o conjunto foi constru�do em duas ou tr�s fases, durante 20 anos. Ap�s a morte de Adriano (nascido na regi�o onde hoje � a Espanha), seus sucessores continuaram a visitar Tivoli, embora o local tenha ca�do no esquecimento durante a Idade M�dia.
J� a partir do Renascimento, o local passou a ser frequentado por artistas. Mas nem tudo era interesse est�tico: com os olhos da gan�ncia, muita gente chegou para levar esculturas e outros elementos a fim de vender ou enriquecer suas cole��es. Felizmente, muitas das obras de arte se encontram em museus, a exemplo do existente no Vaticano (It�lia).
Em 1870, o dom�nio ficou em posse do governo italiano, que conduziu escava��es e restauros para revelar a grandeza e esplendor da Villa Adriana, com seus jardins, piscinas e ru�nas.
COMO CHEGAR Para chegar � Villa Adriana, o viajante pode pegar um �nibus em dire��o a Tivoli, ficando atento � parada (do contr�rio, ter� que caminhar 3 quil�metros). Outra op��o est� em procurar um receptivo tur�stico e agendar o passeio. Se o viajante tiver pouco tempo, vale conversar com um taxista em Roma: ida e volta, mais a espera, podem custar entre 150 e 200 euros (mas � bom acertar tudo direitinho, antes).
Companheira por 40 anos

Na capital italiana, os viajantes podem conhecer mais sobre a hist�ria do imperador Adriano. A sede da C�mara de Com�rcio de Roma, na Piazza di Pietra, ocupa, desde 1874, o magn�fico Templo de Vibia Sabina e Adriano (Hadrianeum), antes chamado apenas Templo de Adriano. O objetivo da mudan�a de nome foi homenagear a imperatriz Vibia Sabina, que acompanhou Adriano por quase 40 anos.
Um dos destaques do grandioso espa�o totalmente restaurado, com suas onze colunas na fachada principal – j�ia arquitet�nica de Roma – est� na est�tua, em m�rmore branco, de Vibia Sabina (nascida em Roma, em 86 d.C.). Ela tem a cabe�a coberta por um v�u, envolta por um manto e cal�a sand�lias. A constru��o data de 145 d.C, sete anos, portanto, ap�s a morte do imperador, e numa sala de proje��o, o visitante assiste a um v�deo contando sobre a hist�ria de Adriano e da sua esposa, a imperatriz Vibia Sabina, e mostrando a import�ncia do templo.