O cortejo anuncia o que estar� por vir. Ao canto de “seja bem-vindo, bendito seja”, o grupo, na maioria mulheres, entoa o sentimento de acolhida no local. Com passos firmes, elas chegam at� a entrada de uma galeria. L�, um portal se abre, e dentro dele faz-se o mergulho no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Paredes cobertas de terra vermelha remetem � regi�o mineira que tem no barro a express�o m�xima da arte popular. Nesse ambiente, as pe�as em cer�mica ocupam, pela primeira vez, o devido merecimento de ser expostas como obras de arte: s�o joias raras, feitas a m�o por ‘reis e rainhas’, artes�os e artes�s, do Vale. Vale de mulheres guerreiras. Vale de almas. Vale de mineiridade.

Na galeria que j� abrigou obras de renomados artistas brasileiros e do exterior como Tarsila do Amaral, C�ndido Portinari, Anita Malfatti, Alfredo Volpi, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Emeric Marcier, C�cero Dias, Iber� Camargo, Fayga Ostrower, Burle Marx, Alberto da Veiga Guignard, Inim� de Paula, Arlindo Daibert, Sebasti�o Salgado, Escher e Ziraldo, recebeu, na noite de ontem, nomes de artistas populares com o quilate desses mestres das artes e n�o s�o conhecidos do grande p�blico. Ent�o, guardem esses nomes: dona Rita, N�sia, Sabrina, Zezinha, J�nia, Pedrelina, Tereza, Terezinha e o Gabriel.
A mostra “Jequitinhonha: Origem e gesto” inaugurada na Galeria Alberto Veiga Guignard, no Pal�cio das Artes, no Centro de Belo Horizonte, � composta por 100 pe�as hist�ricas, vindas de acervos particulares, do Centro de Arte Popular (CAP), com obras da colecionadora Priscila Freire, e do Sebrae/MG, al�m de cria��es atuais feitas especialmente para o evento.
Vidas retratadas no barro

Falecida em 2014, dona Izabel, a bonequeira mais famosa de Minas Gerais, teria orgulho de ver que, ao abrir as portas para tantas outras mulheres simples do Vale do Jequitinhonha, deixou um legado. Hoje, suas ‘aprendizes’ coroam a mais importante galeria de arte de Minas. Como j� disse Priscila Freire: “As bonecas s�o de uma import�ncia �nica. Inconfund�veis, parecem rainhas, santas de altar”.

As bonecas apresentadas na exposi��o s�o registros do cotidiano de muitas mulheres do Vale, conhecidas como noivinhas ou vi�vas de maridos vivos. A turism�loga da Prefeitura de Turmalina Poliana Caldeira explica por que as representa��es em cer�mica s�o, em sua maioria, femininas: “Na nossa regi�o, historicamente, os homens sa�am para trabalha e ficavam sete ou oito meses fora e as mulheres ficavam em casa, tomando conta da casa, dos filhos, da lavoura, ent�o, elas tomavam conta de tudo. E, mesmo que inconsciente, elas retratam tudo o que viviam.. Essas mulheres foram conhecidas como vi�vas da seca ou noivas da seca. � o retrato do cotidiano delas, como nas cirandas como os filhos e no pil�o. Por isso, tem poucas pe�as retratando homens”, explica

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Pal�cio aberto ao popular

Na abertura, o secret�rio de Cultura e Turismo de Minas Le�nidas Oliveira falou da import�ncia da manifesta��o de arte popular ocupar o espa�o no templo das artes em Minas: “O Pal�cio das Artes � o pal�cio do Jequitinhonha. N�s somos o estado de esp�rito como diz Guimar�es Rosa. E somos, tamb�m, Minas Gerais como o estado da Cultura. Quando n�s vemos o IBGE trazendo o aumento do turismo do estado, como 720% acima da m�dia nacional e o turismo puxado pela cultura � muito orgulho pra todos n�s nessa terra. Seja nas artes, seja na cultura alimentar, seja nas express�es da cultura popular que voc�s fazem de forma magn�fica no barro”, emociona.
S�rgio Reis, presidente da Funda��o Cl�vis Salgado, destaca a presen�a da arte popular em ocupar a principal galeria do Pal�cio das Artes: "Pela primeira vez na hist�ria, abrimos a Grande Galeria para uma express�o do povo, de um dos lugares mais ricos de Minas Gerais, que � o Vale do Jequitinhonha. Fomos muito bem acolhidos nesta regi�o fant�stica. Quem n�o conhece, v� conhecer.Com carinho e casas abertas, a gente conseguiu inspira��o para essa beleza de exposi��o. Voc� poder� vivenciar as ocupa��es art�sticas trazidas para essa galeria e, tamb�m, apreciar o novo espet�culo da Cia de Dan�a”.

A Galeria Alberto Veiga Guignard, recebeu ambienta��o inspirada na paisagem do Vale do Jequitinhonha. Terra, barro, casa de pau a pique, �rvores secas est�o por todo lado. Marco Paulo Rolla, que assina a curadoria da exposi��o e a dire��o do espet�culo, afirma que “ tinha que fazer alguma coisa para receber � altura de voc�s. Voc�s merecem ser colocadas nesse local de arte, por conta da total notoriedade criativa, humana e cultural de seus trabalhos. Isso me alegra muito, podendo retribuir tudo o que voc�s fazem pela humanidade.”
Outro destaque que chama a aten��o dos visitantes � a identidade visual feita pelo design Gabriel Figueiredo. Em tons terrosos, ele cria um chamativo para quem passa pela avenida Afonso Pena ter o desejo de conhecer a arte das meninas do Vale.
Nesse mesmo cen�rio, ocorrer�, nesta sexta-feira (4/8), �s 20h, a estreia da coreografia da Cia. de Dan�a Pal�cio das Artes, Nos finais de semana, de agosto a outubro, sempre �s 20h, a coreografia ser� encenada em sess�es gratuitas, na pr�pria galeria. N�o deixe de ir e se emocionar
Informa��es: (31) 3236-7400