
Desde a vandaliza��o de locais antigos at� o desrespeito � cultura local, estamos cada vez mais cientes do mau comportamento dos turistas - e isso pode ser uma coisa boa.
Neste ver�o no hemisf�rio norte, todos os dias parecem trazer outra manchete de turistas de todo o mundo se comportando mal.
Na semana passada, dois americanos b�bados se infiltraram em uma se��o fechada da Torre Eiffel e dormiram bem acima de Paris. Na semana anterior, uma francesa foi presa por esculpir um cora��o e suas iniciais na ic�nica torre inclinada de Pisa, na It�lia.
Um adolescente canadense desfigurou um templo japon�s de 1.200 anos recentemente, logo depois que um homem de Bristol gravou dois nomes no Coliseu de Roma e disse �s autoridades que desconhecia a idade da arena.
E quem poderia esquecer o turista alem�o que interrompeu uma apresenta��o dentro de um templo sagrado em Bali e ficou nu - depois de ter sa�do sem pagar a conta em v�rios hot�is locais?
Parece que o mundo inteiro esqueceu como se comportar nas casas dos outros.
Mas, embora isso possa parecer um epis�dio isolado de um ver�o com muitos turistas mal-educados, o fen�meno poderia, na verdade, representar apenas uma verdade bastante desconfort�vel: desde que as pessoas come�aram a viajar, temos agido de forma inadequada.
De Pomp�ia �s pir�mides eg�pcias, algumas das maravilhas constru�das mais famosas do mundo s�o marcadas com picha��es milenares gravadas por turistas em suas paredes.
N�o � segredo que muitos dos "maiores" viajantes do mundo - como Crist�v�o Colombo e Hernan Cortes - estavam entre os piores.
E de acordo com Lauren A Siegel, professora de turismo e eventos da Universidade de Greenwich em Londres, ainda nos s�culos 18 e 19, era comum que os nobres brit�nicos que faziam o Grand Tour da Europa menosprezassem e tratassem sem considera��o as pessoas e lugares que eles estavam visitando.
O que � diferente agora � que cada vez mais ouvimos falar de maus viajantes - e, em �ltima an�lise, isso pode ser uma coisa boa.
A cada novo relato de comportamento absurdo ou simplesmente desrespeitoso, nossa indigna��o coletiva parece estar aumentando, levando ao que poderia ser apenas um momento de acerto de contas para turistas que praticam vandalismo.
Em uma �poca de maior consci�ncia sobre privil�gio e como tratamos outras pessoas de culturas diferentes, esse foco maior em viajantes grosseiros pode parecer uma progress�o natural de outros movimentos sociais recentes.
Mas os especialistas sugerem que uma combina��o de fatores est� impulsionando o mau comportamento no exterior e a aten��o recente que estamos dando a isso.
De acordo com Siegel, ao contr�rio dos anos anteriores, muitos viajantes hoje est�o competindo por curtidas e visualiza��es nas redes sociais.
“As pessoas est�o comentando as a��es mais extremas para seus feeds do Instagram ou TikTok”, observou ela.
Ironicamente, contas famosas nas redes sociais, como a Passenger Shaming tamb�m est�o sendo usadas para denunciar comportamentos insens�veis e desrespeitosos.

David Beirman, pesquisador adjunto da Universidade de Tecnologia de Sydney, observou que quase 1,5 bilh�o de pessoas fizeram viagens internacionais em 2019.
Com as viagens atingindo seus n�veis mais altos desde antes da pandemia, ele disse que � inevit�vel que alguns turistas pensem "� legal posar nua em frente a um templo em Bali, embebedar-se em um local sagrado isl�mico ou dan�ar em frente a um campo de concentra��o nazista".
Gail Saltz, apresentadora do podcast How Can I Help?, disse que tamb�m v� outros fatores em jogo, incluindo o fato de que muitas viagens est�o sendo feitas ap�s anos de restri��es pela pandemia, o que causou ansiedade.
“As pessoas t�m a sensa��o de que � justo que agora eu fa�a coisas que n�o consegui fazer [durante as restri��es], e posso faz�-las � vontade”, disse ela.
"Eles v�m com a mentalidade de que [os pa�ses estrangeiros s�o] uma grande festa na qual podem fazer o que quiser."
Em particular, Saltz n�o se surpreende com o n�mero de pessoas flagradas gravando seus nomes em monumentos antigos. "Eles acham que esta � uma chance de se imortalizar."
No entanto, as manchetes vergonhosas deste ver�o podem oferecer uma oportunidade de mudan�a. A cada nova ofensa, somos lembrados de que viagens internacionais s�o um privil�gio.
Nunca antes essa realidade foi t�o clara como no Hava�.
Enquanto os inc�ndios florestais mais devastadores da hist�ria recente dos EUA causavam estragos em partes de Maui (um dos destinos tur�sticos mais populares do pa�s), muitas pessoas continuavam a viajar em busca das praias.
Um residente local compartilhou com a BBC que turistas estavam nadando nas "mesmas �guas onde nosso povo faleceu h� tr�s dias".
Ter privil�gios traz consigo responsabilidades, e esperamos que, assim como reagimos ao ver uma imagem de passageiro mal-educado com os p�s sobre a cabe�a de outra pessoa, tamb�m possamos sentir uma esp�cie de inc�modo coletivo ao pensar em viajantes reclamando que n�o podem mais praticar tirolesa em Lahaina em meio a um desastre natural.
Uma das maravilhas de viajar � que as belezas do mundo se tornam ainda mais extraordin�rias ap�s serem visitadas.
Cuidamos profundamente daquilo que conhecemos e tendemos a proteg�-lo – ou pelo menos a n�o prejudic�-lo.
Isso � ilustrado de forma marcante no filme recente de Oppenheimer. Em uma cena memor�vel, o Secret�rio de Guerra dos Estados Unidos, Henry Stimson, propositalmente excluiu Kyoto da lista de cidades a serem bombardeadas com armas nucleares.
A antiga capital japonesa, conhecida por seus templos e mosteiros, era considerada demasiado preciosa para ser destru�da. Stimson tomou essa decis�o porque ele pr�prio tinha passado sua lua de mel l�.
Embora no filme isso seja apresentado como uma piada, a mensagem subjacente � genu�na: tendemos a preservar aquilo que valorizamos profundamente.
V�rios destinos adotaram uma abordagem proativa a essa ideia. Pontos tur�sticos como Bali e Isl�ndia agora pedem formalmente aos turistas que prometam respeitar sua cultura e meio ambiente depois de visit�-los. Palau, pa�s na Oceania, exige que os visitantes assinem um compromisso ecol�gico na chegada.
Locais t�picos nas listas de desejos das pessoas tamb�m est�o cada vez mais regulando os turistas. Os visitantes da Austr�lia, por exemplo, n�o podem mais escalar o mon�lito de arenito Uluru (Ayres Rock), porque o pa�s o reconhece como um local sagrado dos abor�gines.
Enquanto isso, Amsterd� lan�ou recentemente uma campanha publicit�ria que tem como foco, em tradu��o literal, as palavras "fique longe". A ideia � voltada aos brit�nicos b�bados.
Siegel aplaude essas diretrizes mais r�gidas e o que ela v� como um crescente reconhecimento do problema por parte de outros viajantes.
Ela aponta para uma nova tend�ncia "Instagram x realidade" nas m�dias sociais, onde as pessoas mostram propositalmente as multid�es nos bastidores e o caos comum em pontos tur�sticos, muitas vezes omitidos das imagens e v�deos perfeitamente compartilhado por influenciadores.
E cada vez que isso acontecer, nossos tesouros globais estar�o um pouco mais seguros.
*Larry Bleiberg � ex-presidente da Society of American Travel Writers.