“Foi muito sacrificante. Aquele choro e a gente fechando a boca do t�mulo querendo chorar tamb�m. Pessoas come�ando a desmaiar, passando mal e a gente n�o podia largar o servi�o para ajudar. Eu pensava: 'Tenho que segurar a barra, tenho que fazer o servi�o'. Dos 28 sepultamentos, eu conhecia umas 14, 15 pessoas. O 280 (n�mero do t�mulo) ali foi meu vizinho, o Glayson. E v�rios outros que eu conheci, presenciei, vivenciei com eles o dia a dia.
A gente conviver com choro, as lamenta��es daquelas fam�lias pr�ximas � a mesma coisa que se eu fosse da fam�lia. Para mim, � uma situa��o dif�cil. �s vezes a gente chega em casa, fica pensativo. �s vezes sonha. Minha esposa chega e fala: 'Atenagos, voc� est� sonhando com morto?'. Porque a gente acorda assustado, pensando em um telefonema, pessoas ligando para saber informa��o de um parente. Eu penso no outro dia: 'Ser� que vai chegar mais corpos amanh�? Esses helic�pteros passando, ser� que � um corpo passando ali? ' Tudo isso a gente pensa e j� acorda cedo, preocupado. Eu gosto do que fa�o. N�o fa�o com m� vontade, n�o xingo. Minhas coisas, gosto de fazer bem feito.
Eu trabalhava em S�o Jos� do Paraopeba, quando fui presenciar o sepultamento de uma parente da minha esposa. Tive de tirar a roupa e terminar de cavar o buraco. Eles n�o sabiam ou n�o deram conta de furar na metragem certa e tive de entrar e fazer. A partir disso, vieram aqui, conversaram com o prefeito e me perguntaram se eu me interessava em seguir esse caminho. Fiquei dois anos em S�o Jos� do Paraopeba como zelador. Ent�o, passei a fazer a marca��o na metragem certa, que � 2,20m de altura, com 90cm de largura e 1,50m...1,60m de profundidade.
Em 1999, eu vim (para Brumadinho), conversei com o Jos� M�rcio, que era vereador. Ele me arrumou um caixote, um livro, comprou uma caneta, papel, a� passei a arquivar todo sepultamento. Esse aqui � o cemit�rio municipal velho ou central. � o principal de Brumadinho. At� o momento, deve chegar em quase 700 jazigos. Pela data das placas, recebe sepultamentos desde 1929. De 2000 para frente, d� um total de 96 a 110 sepultamentos por ano, juntando esse cemit�rio aqui e o Parque das Rosas.
Aqui foram uns cinco sepultamentos em um s� dia. Eu e meu amigo, o Den�lson, tivemos a ajuda de volunt�rios, que deram muita ajuda. Era um sepultamento atr�s do outro. Eles me passavam os dados e eu fazia o an�ncio pelo microfone. A gente tinha de anunciar, preparar, enquanto o outro colocava na gaveta, �s vezes era no ch�o.
Pe�o a Deus que d� o conforto, o segmento da vida, a paz, harmonia, compreens�o e entendimento. Brumadinho acabou? N�o. Brumadinho vai seguir a vida e todos que moramos aqui temos a esperan�a de vida nova.”