Ana Mendonça
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EM MINAS

A escalada silenciosa de Fernanda Pereira Altoé

O movimento de filiação do vice-governador e herdeiro político de Romeu Zema, Mateus Simões, ao PSD, porém, deslocou as coordenadas do tabuleiro

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“Eu tenho uma ótima relação com Mateus. Ele sabe o quanto admiro ele. Eu não paro quieta e ele também não.” A declaração da vereadora de Belo Horizonte, Fernanda Pereira Altoé, feita à coluna, funciona menos como gesto de cordialidade e mais como senha para decifrar uma articulação que se move no subterrâneo da política mineira. PSD e Novo, siglas habituadas à discrição estratégica, avançam na costura que reposiciona a parlamentar como nome preferencial para a vice na chapa de 2026.
Até poucas semanas atrás, Fernanda operava em rota linear: buscaria uma vaga na Assembleia Legislativa. O movimento de filiação do vice-governador e herdeiro político de Romeu Zema, Mateus Simões, ao PSD, porém, deslocou as coordenadas do tabuleiro. O acordo entre as duas siglas, que reserva ao Novo o direito de indicar a vice, abriu uma brecha que rapidamente recolocou Fernanda no centro da equação.
No cálculo interno do Novo, três vetores sustentam sua força. O primeiro é simbólico: há pressão para que a chapa apresente uma mulher na composição majoritária. O segundo é procedimental: Fernanda é vista como parlamentar disciplinada, de método e sem volatilidades. O terceiro é institucional: acumulou trajetória sólida na Câmara, com reputação de austeridade e rigor técnico, elementos valorizados num partido que tenta resgatar sua identidade original.
Advogada, pós-graduada em direito público, com passagens pelo Judiciário mineiro e pelo Ministério Público paulista, Fernanda levou ao Legislativo uma abordagem jurídica que se converteu em capital político. Foi autora do projeto que extinguiu as votações simbólicas na Câmara, alterando a dinâmica de transparência da Casa, e assumiu papel central em comissões que fiscalizam contratos, especialmente no transporte coletivo. Reeleita em 2024 com 18.682 votos, tornou-se 1ª vice-presidente da Câmara.
No entorno de Mateus Simões, há uma leitura adicional e de natureza estrutural. As trajetórias de ambos guardam paralelos que contam mais sobre Minas que sobre os próprios protagonistas. Ambos emergiram da Câmara de BH, ambos se projetaram pelo Novo, ambos cultivam imagem tecnocrática e discursam em torno de eficiência e disciplina fiscal.
Mas a forma como deixaram o Legislativo tornou-se o ponto de inflexão. Mateus saiu sob atrito, carregando desgaste interno. Fernanda ainda preserva pontes, ampliou redes e consolidou base própria. Para aliados do vice-governador, essa assimetria oferece a “composição complementar” necessária para uma chapa de equilíbrio, característica histórica das duplas mineiras quando o vice funcionava como contrapeso político e símbolo de contenção.
A coluna ouviu vereadores e vereadoras da Câmara para aferir o humor interno diante da possível indicação. Entre parlamentares progressistas, a avaliação é recorrente: a atuação estritamente técnica de Fernanda reduz margem de negociação em agendas sociais. A relação com o prefeito Álvaro Damião (União Brasil) é descrita como distante, quase inexistente, o que alimenta dúvidas sobre sua capacidade de se integrar ao eixo político do Executivo. O conjunto não inviabiliza sua indicação, mas pesa no desenho final para grupos que preferem uma vice com maior plasticidade política.
No Novo, porém, prevalece uma lógica pragmática. A sigla sabe que, para preservar relevância na chapa de 2026, precisa ofertar um nome com densidade institucional, voto testado, experiência pública e coerência ideológica. Fernanda se encaixa com precisão nesses critérios, e, por isso, aparece isolada no topo da lista.
Oficialmente, ela sustenta o discurso de que segue pré-candidata à Assembleia até orientação contrária. Mas, nos bastidores, o ritmo das conversas acelerou. A engenharia política mineira, marcada há décadas por acordos discretos, ajustes milimétricos e aversão ao improviso, já trata sua indicação como possibilidade concreta. A candidatura à vice-governadoria deixou o campo das especulações periféricas e ingressou, com método e coerência, no plano real.

PL

Flávio Bolsonaro assumiu, na prática, a função de novo articulador do PL após a prisão do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O movimento, que reorganiza o tabuleiro interno do partido, abre espaço para Minas retomar protagonismo nas conversas estratégicas. Nesse rearranjo, chama atenção a projeção do deputado mineiro Bruno Engler, que surge cada vez mais próximo de Flávio e circulando com desenvoltura nos debates sobre os rumos da legenda. A aliança recente dos dois tem despertado atenção entre dirigentes e sinaliza um protagonismo, antes colocado exclusivamente sob Nikolas Ferreira.

Dor

Nos corredores onde o bolsonarismo sussurra mais do que fala, a versão que circula é a de que Jair Bolsonaro não resistiria por muito tempo à prisão. A saúde frágil, multiplicada pelos relatos dramáticos que eles mesmos difundem, virou mote para uma operação política em curso. Entre os parlamentares mais fiéis, a palavra de ordem tem sido simples e eficaz: transformar a detenção em espetáculo de piedade, criar a imagem de um ex-presidente à beira do colapso, pressionar a opinião pública por meio da comoção. A preocupação real com a morte de Bolsonaro se mistura, na prática, com a utilidade política do enredo. Deputados alinhados já trabalham para amplificar o cenário de deterioração física, reforçando que um “senhor doente” não poderia estar encarcerado.

Tucanos

Aécio Neves voltou ao centro do tabuleiro tucano, como a coluna antecipou na semana passada, e seu movimento já reacomoda forças dentro do PSDB mineiro. Em discurso durante a posse como presidente nacional da legenda, o ex-governador confirmou que não disputará a reeleição para a Câmara, mas manteve aberta a possibilidade de voltar a disputar o Executivo. Nos bastidores, iniciou a redistribuição de suas bases eleitorais, hoje observada de perto por aliados e potenciais herdeiros políticos.
 

BR-381

O juiz federal Cláudio Pina, responsável pela ação civil pública que trata dos reassentamentos das famílias às margens da BR-381, informou que seguem avançadas as articulações para assinatura e homologação do acordo envolvendo Dnit, Prefeitura de Belo Horizonte, Urbel e as prefeituras de Santa Luzia e Sabará. O entendimento definirá responsabilidades e critérios para realocar moradores das áreas de risco. No Movimento Pró-Vidas, a expectativa é de que o documento seja fechado ainda em dezembro, e as lideranças já tratam o desfecho como iminente nos corredores.
 
 

Novela

O governo Romeu Zema deu, nos bastidores, o sinal que faltava para destravar o impasse em torno do Hospital Regional de Divinópolis. A Secretaria de Planejamento e Gestão enviou à Assembleia uma nota técnica favorável ao PL 4.690/2025, de autoria da deputada Lohanna (PV), autorizando a doação do imóvel à UFSJ. O gesto é considerado a peça-chave para o relator na CCJ, deputado Dr. Jean (PT), avançar com o parecer, já que o acordo entre Estado, UFSJ e Ebserh previa que o governo faria “todos os esforços necessários” para a transferência.
 

Aproximação

Nos corredores da Assembleia, o aval da Seplag foi lido como uma virada de chave na novela do Hospital Regional. A nota técnica encerra rumores sobre supostos entraves jurídicos e afirma que o imóvel pertence regularmente ao Estado, sem impedimentos para a doação. Internamente, o gesto é interpretado como reconhecimento político da promessa firmada pelo próprio governo e como impulso à articulação de Lohanna, que ganhou protagonismo na pauta e agora vê a proposta entrar, de fato, no radar do plenário.

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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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