
O psiquiatra americano do 'Marechal de Hitler'
Livro interessante aborda a relação do médico e capitão Douglas Mc Kelley com Hermann Göring, chefe da força aérea nazista, às vésperas de Nuremberg
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No último domingo, assisti, via TV, a um curto documentário em que Hitler aparece furioso, dando ataques de nervos – já pressentia que sua guerra estava perdida. Isso me fez voltar ao assunto de que andei falando semanas atrás: a perseguição dos judeus pelos nazistas.
Como recebi alguns livros sobre o tema, resolvi retomá-lo, agora sobre novo foco: psiquiatras americanos entrevistando prisioneiros para tentar compreender o ódio que os nazistas tinham da humanidade.
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O livro que li, “O nazista e o psiquiatra” (Editora Planeta), de autoria de Jack El-Hai, fala sobretudo de Hermann Göring, aquele que queria substituir Hitler. O alemão fazia parte do grupo de 51 prisioneiros que estava em Luxemburgo, à espera do Julgamento de Nuremberg.
O marechal do Reich reclamava porque todos queriam que ele soubesse de tudo, mas alegava não saber de nada. “Finalmente começou a falar com vigor sobre os esforços dos britânicos para envenenar sua comida”, conta o autor.
“Junto com todos os seus pertences – seus artigos pessoais incluíam um relógio de bolso, chaves, um relógio da Força Aérea e um lacre prateado –, Hess entregou os pacotes supostamente contaminados de açúcar, chocolate e bolachas salgadas, lacrados com cera vermelha, que ele estivera guardando desde seu cativeiro britânico”, relata.
O prisioneiro nazista fala sobre o que todos tinham e escondiam: pílulas de cianureto de potássio, que poderiam ser colocadas na boca e mastigadas.
“Eu sempre tive a cápsula de veneno comigo, desde que passei a ser um prisioneiro. Quando fui levado para Mondorf, tinha três cápsulas. A primeira eu deixei em meio às minhas roupas, para que ela fosse encontrada quando uma busca fosse feita. A segunda eu colocava sob a prateleira quando trocava de roupa e guardava comigo novamente ao me vestir. Eu a escondi em Mondorf e aqui nesta cela tão bem que, apesar de buscas frequentes e minuciosas, ela não poderia ser encontrada. Durante as sessões no tribunal, eu a escondi em meu corpo e nas minhas botas de cano alto. A terceira cápsula está em minha maleta, na lata redonda de creme para pele, escondida no creme”.
Outro dos presos, Ley, faz parte do relato do marechal do Reich: “Na noite seguinte, perto das 20h15, um guarda deu sinal de alarme no corredor da cela. Ley havia secretamente fabricado um nó corrediço com a borda de uma toalha e o zíper de sua jaqueta, mergulhando os nós na água para fazer com que eles ficassem firmes e amarrando a ponta dessa corda improvisada ao redor do cano de seu vaso sanitário. Ele então encheu a boca com sua própria roupa de baixo para evitar gritar e se abaixou até a altura do vaso sanitário. Inclinando-se para a frente, ele se asfixiou.”
Para conseguir o depoimento dos réus, o Exército americano enviou o capitão Douglas McGlashan Kelley, que era psiquiatra e teria condição de fazer uma leitura profunda do que passava pela cabeça dos criminosos de guerra. O livro traz também documentos inéditos.
Condenado em Nuremberg à morte por enforcamento, Hermann Göring se matou em outubro de 1946, na noite anterior à execução da sentença.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.