O imponderável assombra as eleições de 2026. Líderes do Centrão vivem os seus momentos de tensão com a prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, uma bomba-relógio que ameaça a sua extensa rede política – de líderes da Igreja da Lagoinha, passando pelos governadores do Rio de Janeiro e de Brasília, pelas lideranças do Centrão, entre outros parlamentares de todos os campos políticos. Já o governo Lula lida com os seus próprios fantasmas. Para além de uma recuperação política claudicante, está emparedado no Congresso: já não tinha o apoio sólido do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB); agora, poderá perder o do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), insatisfeito com Lula por ter preterido o senador Rodrigo Pacheco (PSD) em favor de Jorge Messias, advogado-geral da União, para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Os Bolsonaros também enfrentam o seu inferno astral. A tentativa de violação da tornozeleira eletrônica com um ferro de solda se somou a outros eventos danosos à centralidade política que ele gostaria de exercer, no campo da oposição, na sucessão presidencial de 2026. Ao ser referendada a prisão preventiva de Jair Bolsonaro pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, nesta segunda-feira, tudo leva a crer que, a menos que fato superveniente ocorra, é grande a chance de que ele deixe a sala na sede regional da Polícia Federal diretamente para o sistema prisional.
Diante do estreitamento das possibilidades de embargos, já era aguardado para os próximos dias o início da execução da pena. Por isso, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) convocou a vigília: manteria viva a percepção da capacidade de mobilização do bolsonarismo. Mas as coisas saíram do controle. No contexto em que Jair Bolsonaro é reincidente em violar medidas cautelares, e considerando que Alexandre Ramagem fugiu para os Estados Unidos, a vigília foi interpretada como ameaça de novos acampamentos, como os que antecederam o 8 de janeiro.
O sonar da tornozeleira violada completou o quadro. Flávio Bolsonaro seguiu na batalha retórica pelo X: “Se reunir para orar é um direito, não um crime”. Mira a repercussão em sua bolha. Para fora dela, a atuação dele foi avaliada como mais uma trapalhada política. Principalmente, após o desembaraço com que o ex-presidente da República revelou à policial que conduziu a inspeção da tornozeleira danificada que metera “um ferro quente, por curiosidade”. Pelo momento, ao ser divulgado, o vídeo desmonta as narrativas dos aliados de Jair Bolsonaro de que não haveria justificativa para a prisão preventiva.
Se, por um lado, é pouco provável que o bolsonarismo raiz se curve à evidência das imagens e áudio, por outro, ele é dirigido ao segmento da população de não engajados – nem lulistas, nem bolsonaristas – ou aos pragmáticos da elite financeira e política do país, que mantêm distanciamento crítico para analisar fatos e evidências. Em almoço anual da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Daniel Vorcaro e Jair Bolsonaro saíram da pauta. Tudo o que traz instabilidade não interessa aos banqueiros.
No campo político, a família Bolsonaro se esvazia. O Centrão, ansioso por capturar o eleitor bolsonarista sem o sobrenome na chapa presidencial, está livre para articular o nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à Presidência da República. O “fantasma” de uma eventual candidatura de Flávio Bolsonaro – que ameaçaria a opção Tarcísio – perde força pela desarticulação e iniciativa de final infeliz.
Até porque o Centrão não tem interesse no projeto da anistia, retoma impulso, com a proximidade da prisão de Bolsonaro, o seu substituto, o chamado projeto da dosimetria, relatado por Paulinho da Força Sindical (Solidariedade-SP). Além da redução de penas, vai incluir dispositivo que prevê remição do tempo de prisão para presos em regime domiciliar, opção que, no médio prazo, beneficiará Jair Bolsonaro.
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Monitoramento
O vice-presidente do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG), conselheiro Agostinho Patrus, determinou, nessa segunda-feira (24/11), a intimação do presidente da Copasa, Fernando Passalio, para que apresente informações e documentos, no prazo de 72 horas, relativas à representação de 18 deputados estaduais, de que a companhia teria contratado monitoramento de parlamentares, jornalistas e autoridades no contexto do processo de privatização da Copasa. De oposição ao governo Zema, os parlamentares questionam a contratação da consultoria Ernst & Young Assessoria Empresarial Ltda (EY): ela teria extrapolado a esfera técnica, influenciando decisões e estratégias internas da companhia, o que levantaria dúvidas sobre independência, finalidade pública e possíveis atos de improbidade administrativa.
Transparência
Na representação, os parlamentares afirmam que o processo de privatização da Copasa estaria sendo conduzido de forma “acelerada e pouco transparente”, sem estudos que comprovem vantagem econômica para o estado e com risco ao patrimônio público. Também apontam possível conflito de interesses entre agentes públicos e privados, com movimentação entre cargos-chave do governo, direção da Copasa e grupos interessados na aquisição.
Sem costura
O presidente nacional do PT, Edinho Silva, virá a Belo Horizonte nesta terça-feira (25/11) para tomar pé da completa desarticulação de seu campo político em Minas Gerais, órfão que se tornou sem a candidatura do senador Rodrigo Pacheco (PSD). Edinho Silva jantará com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil. E, pela manhã, ele se reunirá com a executiva estadual do PT.
Candidatura única
A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), deixa claro o que fará em 2026: não pretende se desincompatibilizar da prefeitura para concorrer ao governo de Minas. Cogita concorrer ao Senado Federal só se for a única candidata de seu campo político. Essa perspectiva entra em choque com o projeto político do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), que também gostaria de concorrer ao Senado.
Eleições na AMMP
A promotora de Justiça Luz Maria Romanelli e o ex-procurador-geral de Justiça Carlos André Mariani Bittencourt foram eleitos para a presidência e a vice-presidência da Associação Mineira do Ministério Público (AMMP). Luz Maria teve 881 votos e o promotor João Medeiros, 516 votos; 24 votaram em branco e 17 anularam o voto. Luz Maria Romanelli sucederá a atual presidente, promotora Larissa Amaral, a primeira mulher a presidir a AMMP em 70 anos.
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