Assim como Jair Bolsonaro (PL) está para o PT e Lula, a personagem encarnada hoje pelo governador Romeu Zema (Novo) não existiria sem o malfadado governo Fernando Pimentel (PT). Não só porque Pimentel, em acordo político com os seus antecessores, chamou para si as condições em que recebera o estado, mas também porque foi apenas no apagar das luzes de seu mandato que obteve do Supremo Tribunal Federal (STF) o pleito de suspensão do pagamento das parcelas da dívida, alegando a urgência da compensação da Lei Kandir, benefício que viria a cair no colo de Zema.

Foi no contexto do lavajatismo e das narrativas da antipolítica que se elegeu Romeu Zema em 2018. O mineiro se recusou a eleger o PT e o PSDB, berços de tantas lideranças, entre as quais o vice-governador Mateus Simões (PSD). O político do Novo recebeu o discurso pronto da inadimplência e também a porta de saída dela, à qual se agarrou para não pagar as parcelas da dívida em quase seis dos sete anos em que governa. Exatamente por isso a dívida de Minas negociada com a União, que era de R$ 88,77 bilhões ao final de dezembro de 2018, hoje alcança R$ 177,48 bilhões. Os pagamentos foram retomados apenas em outubro de 2024.


Lá se vão sete anos e o governo de Pimentel segue rendendo dividendos políticos a Zema, que exibe como seu grande – e ao que tudo indica único – trunfo ter “solucionado” a inadimplência com o funcionalismo e os municípios: lançou a granada da inadimplência do estado ao colo da União. Devo, não nego, pago quando puder, diria Jânio Quadros. Zema contou com o presidente da Assembleia, Tadeu Leite (MDB), a bancada do PT e PV na Assembleia e o senador Rodrigo Pacheco (PSD) para articularem junto ao governo Lula a solução definitiva da dívida estrutural de Minas com a União.

Dessa articulação política, que passou ao largo de sua gestão, nasceu o Programa de Pleno Pagamento das Dívidas de Estados (Propag). Foi aprovado em desenho para atender Minas Gerais. Nem por isso o governador mineiro maneirou as narrativas e polêmicas ou teve qualquer gesto de elegância com o presidente da República em suas visitas a Minas, chegando a ser descortês, em momentos chave da negociação do Propag com a União. É como se dissesse: que os preocupados com o estado resolvam. Será que alguém lhe explicou de quem seria tal responsabilidade?

Interesses de Minas às favas, Zema não perde uma oportunidade de promover a falsa cisão na sociedade. Perambula pelo país em eventos digitais em busca de visibilidade: onde surge a possibilidade de um palanque, está ele repisando polêmicas ideológicas que promovem o ódio. Senta-se com jovens de esquerda para discutir chavões que escolheu debater: “A esquerda defende bandido”; “A esquerda quebrou o Brasil”; “A esquerda nunca deu certo”; “A esquerda é contra a religião”; e “O MST é terrorista”.

Tomou não poucas traulitadas, mas isso é detalhe: à sua bolha, exibe os cortes que escolhe. Desde a negação histórica – “não houve ditadura” – até artificialidades mais recentes, Zema não perdeu uma oportunidade de acenar ao bolsonarismo raiz, seduzido que foi pela ideia de que poderia ser “ungido” por Bolsonaro na corrida ao Planalto. Descobriu agora que não foi e jamais seria. Mas segue tentando. Não se importaria em ser o vice na chapa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Sentindo-se, talvez, o astro que faz política negando a política, quem sabe imaginando-se um Jonathan Bailey ou um Michael Jordan, Zema vai, até aqui, encerrando o ano em seu perfil oficial exibindo os pés despidos do tênis e da meia e enfiando-os em uma sandália Samoa. Aquele corpo que carregaria naturalmente – se não a negasse o tempo todo – a representação simbólica do estado, é reduzido aos pés e canelas que a poucos interessa ver.

Nesse particular episódio, sempre é bom lembrar que Montes Claros é sede de uma das mais modernas fábricas da Alpargatas – um centro de inovação e tecnologia. Ali está uma das principais unidades de produção de sandálias da marca no Brasil e uma das mais automatizadas do grupo. Mas a Zema talvez mais valha a falsa polêmica do que um bom par das sandálias Havaianas confeccionadas em Minas. Parodiando Guy Debord, na sociedade do espetáculo virtual, o verdadeiro é um momento do falso.

Federação União-PP

A candidatura de Flávio Bolsonaro (PL) ao Palácio do Planalto promove não apenas a reaproximação de parte da União ao governo Lula. Mas também, em Minas, negociação em curso pretende entregar a presidência da federação ao prefeito Álvaro Damião (União) e a presidência da legenda, ao deputado federal Rodrigo de Castro.

No União

Caso se confirme tal movimentação, o senador Rodrigo Pacheco (PSD) tende a se filiar ao União, legenda pela qual iniciou a sua carreira política.

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Vídeo

Na carona da emenda constitucional, de autoria do senador Cleitinho (Republicanos), que isenta carros com mais de 20 anos do IPVA, o vice-governador Mateus Simões (PSD) foi ao gabinete dele em Brasília gravar um vídeo. Na peça, Mateus explica que Romeu Zema vai editar decreto a partir de 1º de janeiro de 2026 implementando a nova regra. Ao lado de Alagoas, Pernambuco, Santa Catarina e Tocantins, Minas Gerais integra o seleto grupo de estados que não concedia a isenção a carros antigos. Aliados de Mateus Simões, dobraram a aposta de que Cleitinho não concorrerá ao governo de Minas, movimento para o qual Mateus vem trabalhando intensamente.

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