Celina Aquino
Celina Aquino
Formada em jornalismo pela PUC Minas. Começou como estagiária nos Diários Associados e teve passagens por editorias como Polícia, Saúde, Imóveis, Negócios e Emprego. Hoje é especializada em gastronomia e também escreve sobre moda
ACEITO UM DOCE

Cora Coralina: ela se considerava mais doceira que poeta

Era um trabalho como outro qualquer, com rotina de compras, encomendas e produção

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Na minha busca constante por livros de confeitaria (falo sobre isso em uma coluna passada), achei um tesouro que conta a história de Cora Coralina como doceira. Sim, você não se confundiu, a Cora Coralina em questão é a poeta. Também foi surpresa para mim descobrir que ela se considerava muito mais doceira do que escritora.

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Cora Coralina nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto. O ano era 1889 e o lugar, Villa Boa de Goyaz, a capital de Goiás até a mudança para Goiânia, hoje chamada Cidade de Goiás (ou Goiás Velho).

Mas ela logo assumiu um pseudônimo. Primeiro, porque dizia haver muitas "Anas" na sua cidade, pela devoção à padroeira Santa Ana. Segundo, porque gostava do significado: Cora de coração e Coralina de vermelho. Já fazia poesia no nome.


Cora sempre gostou de escrever e de fazer doces. Viveu uma vida dedicada tanto às letras quanto ao tacho de cobre, à colher de pau, às frutas do cerrado goiano e ao ofício que pede tempo, paciência e, por que não, uma certa poesia. Isso fica evidente nos versos “Minhas mãos doceiras... Jamais ociosas. Fecundas. Imensas e ocupadas. Mãos laboriosas.”


Logo penso na minha avó materna, uma grande referência para mim em doces de compota (por isso ela já apareceu e vai aparecer com frequência por aqui).


Também me lembro de Dona Nelsa, a Nelsa Trombino do Xapuri, que lutou com todas as suas forças para impedir que uma norma sanitária mudasse a tradição da nossa doçaria. Ela teria dito: “Podem tirar tudo de mim, mas o tacho de cobre e a colher de pau ficam”.

Obrigada, Dona Nelsa, por deixar um legado tão importante, que valoriza o saber de doceiras espalhadas por Minas Gerais, Goiás e todo o interior do Brasil. Cora, inclusive, falava que os (muitos) tachos eram o legado do seu trabalho.


O livro “Cora Coralina – Doceira e Poeta”, da Global Editora, tem histórias, trechos de textos da própria escritora e receitas. Exatamente como ela fazia, inclusive com alguns “segredos” retirados do seu caderno.


Como uma boa doceira, Cora tinha seus truques, como colocar os frutos em água com bicarbonato ou cal virgem para que ficassem “durinhos por fora e macios por dentro”. O bicarbonato (ou cinza de fogão a lenha) também servia para facilitar a retirada da pele do figo e conservar sua cor.

Ela deixava a laranja de molho por dois a três dias, trocando a água várias vezes, para eliminar o seu amargor. O “pulo do gato”, como escreve, era retirar uma porção da polpa, que é mais amarga, com uma colher de sobremesa.


Cora deixava as frutas escorrendo em peneira e levava ao sol para terminar de secar. Abria o coco na mão e cortava em fitas. Quem mais tem paciência para fazer isso? O tempo (ou a falta dele) virou um grande inimigo da arte da doçaria.


Um dos seus doces famosos era o de mamão vermelho (novidade para mim, que achava que só existia doce de mamão verde). Outro que aguçou a minha curiosidade são as passas de caju, que ficam parecidas com uva passa ou ameixa seca.


Soube no livro que Cora Coralina não fazia doces só para a família, não. Era um trabalho como outro qualquer, com rotina de compras, encomendas e produção. Num dos trechos, seu neto Flávio de Almeida Salles Júnior conta que ela forrava a caixa de papelão com papel celofane e preenchia com camadas de doces diferentes, separadas pelo mesmo papel. A caixa era embrulhada e amarrada com barbante.

Um cliente apressado, que queria abrir mão da embalagem, ouviu: “Da próxima vez que você vier a Goiás, você levará meus doces. Doce meu só sai daqui em caixa embrulhada e amarrada”.


Enquanto lia essa parte do livro sobre o seu capricho, me veio à cabeça a imagem dos doces da Mazé, que fica em Carmópolis de Minas. Como são lindos os doces de frutas cristalizadas, em especial o abacaxi inteiro em calda de açúcar. É uma verdadeira joia. Queria ter tido a oportunidade de comer um doce de Cora Coralina. Ainda bem que podemos saborear seus doces poemas.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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