Eu trabalhava na TV Globo de Juiz de Fora, em 1986, quando meu cinegrafista e amigo Daniel Amorim, que havia se transferido para a TV Manchete em Belo Horizonte, me convidou para trabalhar na nova emissora. Foi ele quem me levou de carro a BH e fomos ouvindo as músicas de Lô Borges pelos 270 quilômetros que separam JF da capital mineira.

Lô Borges Juarez Rodrigues/EM/D.A Press.
Lô Borges participa de último show de Milton Nascimento no Mineirão Túlio Santos/EM/D.A Press
Lô Borges, no piano, e Milton Nascimento durante a gravação de um programa de TV sobre o disco Clube da Esquina, lançado em 1972. Com Wagner Tiso, teclados, Novelli, Beto Guedes, Nelson Angelo. Sentados, ao fundo, Ronaldo Bastos, Marcio Borges e Fernando Brant Mario Luiz Thompson/Facebook de Milton Nascimento
Lô Borges adolescente tocando violão Arquivo EM
Lô Borges adolescente tocando violão Arquivo EM
Lô Borges beija Milton Nascimento durante show em homenagem a Fernando Brant Leandro Couri/EM/D.A Press
Lô Borges faz show no museu Clube da Esquina no Santa Tereza Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Ensaio dos músicos Lô Borges e Samuel Rosa, no teatro do CCBB, na Praça da Liberdade Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Lô Borges, Milton Nascimento, Márcio Borges, Fernando Brant e Juscelino Kubitschek em frente ao seminário em Diamantina Luiz Alfredo/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas
Lô Borges conversa com a imprensa antes da gravação do DVD junto com o cantor Samuel Rosa Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Os irmãos Marcio Borges e Lô Borges durante conversa com alunos do Colégio Padre Eustáquio. Beto Novaes/EM/D.A Press
O artista Carlos Bracher faz um quadro em homenagem a Lô Borges Anna Ftg/Divulgacao
Lô Borges é um dos principais nomes da música mineira Barbara Dutra/Divulgacao
Show do cantor e compositor, Lô Borges, em comemoração 40 anos do Clube da Esquina na praça da Reitoria da UFMG, no Campus Pampulha Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Show do cantor e compositor, Lô Borges, em comemoração 40 anos do Clube da Esquina na praçaa da Reitoria da UFMG, no Campus Pampulha Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Em agosto de 2025, Lô Borges lançou, junto do cantor maranhense Zeca Baleiro, o álbum "Céu de Giz"; na foto, os dois se abraçam no Parque Municipal Flavio Charchar/Divulgacao
Em 2022, Lô Borges fez um concerto junto a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais JPSofranz/Divulgacao
Os integrantes do Clube da Esquina, Fernando Brant, Marcio Borges, Milton Nascimento, Lo Borges e Beto Guedes. Renato Weil/Estado de Minas
Lô Borges e seus familiares Reproducao
Lô Borges e seu irmão Márcio Borges seguram a capa do icônico álbum "Clube da Esquina" Renato Weil/Estado de Minas
Os músicos Lô Borges, Milton Nascimento, Fernando Brant e Marcio Borges em Diamantina Arquivo O Cruzeiro/EM

Daniel me falava das montanhas de Minas, do Clube da Esquina, que teve Lô como fundador, ao lado de Milton Nascimento, e aquelas músicas desse artista me conquistaram. “Foi amor à primeira ouvida”.

Fui morar em BH em 1986 e, depois de um ano na TV Manchete, fui para a Globo de BH. Foi lá que conheci Lô Borges pessoalmente e, certo dia, o entrevistei para o Globo Esporte. Lô, um cruzeirense nato, meu ídolo, estava ao meu lado, me dando entrevista, e aquilo para mim era uma realização.

Lô Borges amava o Cabuloso e exibia pelas ruas a sua camisa, o manto azul. Daquele momento em diante, jamais deixei de ouvir suas músicas e de ter um contato direto com ele. Amizade que dura até hoje.

Dia 30 de agosto último, um sábado, eu estava ouvindo suas músicas, como sempre faço, e mandei uma mensagem para ele: “Lô, ano que vem minha mulher, Alexia, vai completar 50 anos e quero que você cante para a gente na festa”. Imediatamente ele respondeu: “Jaeci, 'bora' lá!! Fico honrado. Tamo Junto!”. “Lô, quem fica honrado sou eu, por ter um dos maiores compositores, um poeta, músico, cantor, como amigo. Você sempre foi sensacional”, respondi.

 

Fui a vários shows dele, durante os 30 anos em que morei em BH, o último, no Palácio das Artes, quando ele e Samuel Rosa faziam aquela parceria e um show por ano. Ao lado da minha Alexia, cantamos as canções que embalaram nossas vidas. “O Trem Azul”, “Clube da Esquina”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” e tantas outras maravilhosas canções. Ao fim do show, pedi “A Força do Vento”, que ele não havia cantado. É a minha música preferida.

Lô Borges foi um fenômeno, representa a mineiridade de verdade e levou sua música ao resto do Brasil e ao mundo. Quem é mineiro sabe muito bem do que estou falando. Embora eu não seja mineiro de nascimento, sou de coração, e amo BH, sua música, sua história, e nosso eterno Lô Borges.

Lembro-me de um jogo decisivo do Cruzeiro, no Mineirão, e meu amigo-irmão Galvão Bueno estava narrando. Naquela época, a Globo convidava um artista que torcia por um dos times que ia jogar, e o convidado foi Lô Borges. Discretamente, na cabine, Galvão me perguntou sobre a história de Lô e a sugestão de uma música. Falei com ele para falar do “Trem Azul”. Foi um sucesso o encontro dos dois.

São histórias que vou levar no coração. Para quem não sabe, meu filho mais velho, João Tadeu, que faz direção de cinema na Universidade Full Sail, em Orlando, aprendeu comigo a gostar de Lô Borges. João, que também faz e canta músicas – está no Spotify com seus álbuns e o nome artístico J.T. –, acordou triste, me ligou e postou sua homenagem ao grande Lô.

"A Via-Láctea" (1979) Divulgação/EMI
Capa do disco "Meu filme" (1996) Divulgação/EMI
Credito: EMI/Odeon/Reproducao - Disco de Lo Borges conhecido como disco do tenis EMI/Odeon/Reproducao - Disco de Lo Borges conhecido como disco do tenis
Foto Cafi/EMI. Capa do cd: Milton Nascimento: Clube da Esquina. Foto Cafi/EMI.
"Samuel Rosa e Lô Borges" (2016) Divulgação/Sony
20/08/2025. Credito: Deck/Divulgacao. Capa Ceu de giz, album de Lô Borges e Zeca Baleiro. Deck/Divulgacao. Capa Ceu de giz, album de Lô Borges e Zeca Baleiro.

João é mineiro, nascido no Mater Dei, e não fugiria à sua mineiridade. Assim como Daniel Amorim, meu cinegrafista preferido, me ensinou a amar Lô Borges, eu ensinei aos meus filhos.

Como escrevi outro dia, os grandes artistas, os grandes jogadores, os grandes estadistas estão indo embora. A música fica mais pobre, mais triste, sem o nosso Lô, mas suas canções são eternas.

No meu coração, meu amigo Lô, seu espaço estará sempre guardado, até que um dia possamos nos encontrar aí no céu, para você cantar “A Força do Vento”, para este amigo. Descanse em paz, eterno ídolo, você deixa órfã uma legião de fãs. Seu legado é eterno.

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O que me deixa mais feliz é que até a nova geração ama Lô Borges, o que implica dizer que ele é um ídolo de todas as gerações. Em seus shows a gente percebia a mescla de juventude e do pessoal da minha geração, estou com 65 anos. Enfim, mais um ídolo que parte, precocemente. Você foi realmente “Tudo Que Você Podia Ser”, uma das suas canções mais maravilhosas. Até algum dia, amigo e ídolo.

 

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