Mestre Negoativo celebra a Minas negra no disco 'O arco ancestral'
Álbum do cantor e compositor inspirado nos vissungos, cantos de trabalho dos escravizados, será lançado domingo (20/6), em show no Galpão Cine Horto
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Siga noUm mergulho na afromineiridade. Assim é o novo álbum de Mestre Negoativo, que será lançado em show neste domingo (22/6), no Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte. Com 10 faixas autorais, “O arco ancestral e os vissungos das Gerais” foi produzido por Sérgio Pererê, expert nas sonoridades africanas presentes em Minas e no Brasil.
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O novo trabalho do músico, cineasta e capoeirista estará disponível nas plataformas digitais em julho, mas o clipe da faixa “Il était une fois” já chegou ao YouTube. Com esse projeto, o artista mineiro comemora 50 anos de ofício.
Berimbrown
Ramon Lopes, o Mestre Negoativo, iniciou a carreira artística muito jovem, no Bairro Maria Goretti, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Em 1997, criou o grupo Berimbrown, que chamou a atenção com seu congopop, mesclando funk, reggae, samba, congada, folia de reis, soul e marujada.
Pesquisador da cultura bantu, Negoativo conta que tem estreitado laços com as ancestralidades afromineiras. “Me deu o desejo de gravar algo que vem de meu lugar mais íntimo. Nesses últimos anos, no meu processo de amadurecimento, fiz um regresso. Retornei ainda mais a minhas raízes, ao cerrado mineiro, de onde vêm minhas avós.”
Ao visitar a comunidade do Cubas, entre Diamantina e o Serro, ele trabalhou com terra e plantio. Desde os anos 1990, tem percorrido quilombos de Minas Gerais, sobretudo na região de Diamantina. Essa jornada o aproximou do “povo do vissungo”, como diz, referindo-se ao canto de trabalho de origem africana desenvolvido por escravizados trazidos para Minas Gerais.
“Aprendi os vissungos, esses ritos linguísticos, o bantu mesmo, que hoje está em extinção. Cada vez mais, fui trazendo isso para mim”, ressalta Negoativo.
Ele explica que vivencia o sankofa, ou seja, “o movimento de você retornar no passado, aproximando-se mais de suas raízes, para ter certeza daquilo que lhe pertence, especialmente neste mundo veloz no qual vivemos”.
O processo, que vai na contramão da fugacidade contemporânea, deu origem às novas canções. O álbum traz elementos do moçambique, dos vissungos e do candombe. “Tem também os berimbaus de afinação baixa, tudo isso inspirado no Mestre Waldemar da Liberdade, verdadeiro griot e líder comunitário”, afirma Negoativo.
“Nesses últimos 10 anos, tenho me dedicado à vivência da musicalidade, viajado por todos os continentes e trabalhado com a partilha das afinações”, prossegue.
Parte das gravações ocorreu no estúdio Musalab, em Sabará, pertencente ao guitarrista, produtor e arranjador Thiago Guedes, que está mixando e masterizando o disco de Mestre Negoativo. Outra parte foi gravada no estúdio Bangalô, em BH.
“Na verdade, começamos a gravar lá na comunidade do Cubas, porque eu quis iniciar o projeto no território de onde vêm as minhas origens. Lá, captei os sons da natureza. É um álbum recheado de sons no verão, outono e inverno. A cada estação, os bichos vão entoando de formas diferentes”, explica.
Mestre Negoativo destaca a homenagem que faz aos curiandambas, guardiões e guardiãs de saberes ancestrais.
“Sobretudo a Dona Miúda, matriarca do quilombo do Quartel do Indaiá, que me recebeu muito bem com a dona Maria Macarrão e a Maria Diberto. Elas foram minhas mestras do vissungo, além do Sô Pedro Alexina”, ressalta.
Livreto
No show deste domingo, será distribuído um livreto com 36 páginas. “Ele traz a história de toda a minha vivência, da minha pesquisa, além das letras das músicas. Tem várias fotos feitas de 30 anos para cá”, informa.
O novo álbum é também agradecimento a dona Ester e a dona Doca, respectivamente, avó e mãe do compositor e cantor. “Essas duas matriarcas me moldaram para que eu entendesse a africanidade de Minas Gerais”, conclui Mestre Negoativo.
MESTRE NEGOATIVO
Show de lançamento do álbum “O arco ancestral e os vissungos das Gerais”. Domingo (22/6), às 20h, no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada), à venda na plataforma Sympla. Em julho, a íntegra do repertório do disco chegará às plataformas.