ARTES VISUAIS

Froiid expõe obras que questionam a guerra na mostra "Abaixa o braço" 

Individual do artista mineiro na Albuquerque Contemporânea Galeria de Arte aborda a presença da ideologia bélica em brincadeiras infantis e jogos esportivos

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Durante a Segunda Guerra Mundial, o cantor e compositor mineiro Ataulfo Alves (1909-1969) fez uma crítica irônica a Hitler e à principal saudação nazista com a canção “Abaixa o braço” (1944). Em um dos trechos, cantava: “Abaixa o braço/Deixa de cena/Lugar de palhaçada é no cinema/Seu Adolfito, pra que tanta valentia/Se nós queremos a democracia?”.


Inspirado na resistência brasileira a conflitos por meio da cultura popular, o artista Froiid apresenta a exposição individual “Abaixa o braço”, em cartaz até 30 de agosto na Albuquerque Contemporânea Galeria de Arte. A exposição reúne fotografias, pinturas e instalações que abordam os jogos e as guerras, tensionando a história e os costumes brasileiros.


Os jogos, entendidos como disputas entre parceiros e rivais, espelham conflitos cotidianos, que vão de guerras a embates internos no país e, até mesmo, tensões individuais. “Venho reparando como a gente tem se colocado no sentido global nos últimos anos. Estamos sempre à espreita nas guerras, mas podemos pensar em outros aspectos”, diz Froiid.


Erros do passado


“Quando abordo esse assunto, estou falando do enfrentamento constante que se dá no micro e no macro. Estamos em um momento de reflexão, até para que a gente não repita erros do passado”, comenta o artista.


Froiid pesquisa jogos há mais de uma década, com foco na sinuca, no jogo do bicho e nas variações do futebol. Ele afirma que o passatempo é parte da cultura brasileira e ambos se influenciam mutuamente. Diante das constantes transformações que envolvem os jogos, o artista percebe um repertório de “discussão quase que infinita”.


As obras expostas têm o movimento como elemento central. Entre as referências de estilo utilizadas estão o construtivismo e a história da arte moderna brasileira. O primeiro conjunto da mostra, “E agora”, é uma releitura da obra homônima de Carlos Scliar (1920-2001).


Scliar foi desenhista e pracinha – ou seja, soldado da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial. Nas obras de Froiid, a inspiração está no estilo geométrico do artista gaúcho, com desenhos de retângulos sobrepostos em vermelho e branco.


A pintura “Bola dente de leite” relaciona infância e autoritarismo. As bolas de vinil, conhecidas como bolas dente de leite ou bolas pingo de leite, eram populares entre crianças de famílias de classes mais baixas. Na tela, um menino joga futebol com a bola, usando chuteira, uniforme e um capacete de guerra.


Propaganda do regime

O elemento disruptivo propõe um questionamento sobre a infiltração da guerra em meio ao universo infantil por meio das propagandas da época. “A ditadura militar quis usar o futebol como um elemento de propaganda do regime. Com a obra, faço uma desconstrução desse símbolo e crio uma nova narrativa”, explica Froiid.


Uma das instalações, “Galinha caolha procura poleiro mais cedo”, apresenta campos de futebol de botão. A obra, como destaca Froiid, se realiza na interação com o público. Os campos, encaixados nas colunas da galeria, estão incompletos.


“Há um uso da arquitetura na exposição. Nesse caso, funciona quase como uma barricada. Foi algo proposital para causar um impedimento no jogo”, conta. A ideia é instigar o público a pensar novas formas de se posicionar e ainda jogar conforme as regras.


O conjunto de fotografias “O peixe pela boca” se destaca pelo uso de inteligência artificial. Froiid criou seis imagens de jogadores de futebol beijando troféus, sem identificar atletas, times ou campeonatos. As figuras reproduzem o padrão de comportamento esperado dos atletas em momentos de disputa e vitória.


“O momento do beijo, do uniforme e da medalha é a representação de uma nação à qual a torcida se refere. Para os torcedores, ‘se você beija o escudo do meu time, você me representa’. Esses corpos são colocados em estado de guerra, dentro dessa disputa que mexe tanto com a promoção da nossa nação”, diz Froiid.


O artista também comenta a decisão de produzir com IA em meio a debates sobre autoria e autenticidade. Ele conta que pesquisa a relação entre arte e tecnologia há 11 anos. “Dentro do meu trabalho, ela tem o uso de ferramenta conceitual. Não sou tecnofóbico nem tecnofílico”, afirma.


Em cada trabalho, o artista usa tecnologia para abrir novas discussões. Além do debate proposto na mostra sobre imagens genéricas, ele apresentou na 14ª Bienal do Mercosul, realizada entre março e junho deste ano em Porto Alegre, obras que tratam a inteligência artificial como sistema de reprodução.


“Inteligência artificial não é só gerar imagem com prompts. É tudo, desde o nosso sinal de trânsito até os algoritmos que nos fazem recomendações do que assistir nas plataformas. Como essas coisas estão na vida, dificilmente não estariam na arte”, observa o artista.

“ABAIXA O BRAÇO”

Individual de Froiid. Na Albuquerque Contemporânea Galeria de Arte (Rua Antônio de Albuquerque, 885, Funcionários). Visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 13h30. Até 30/8. Entrada franca.

*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes

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