ARTES CÊNICAS

Depois do sucesso com "Ainda estou aqui", Bárbara Luz estreia no teatro

Atriz mineira estrela montagem ao lado do pai, Eduardo Moreira, do Grupo Galpão. Na peça, ela interpreta filha que doa colchão ao pai, ao se mudar

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A filha está se mudando de país e resolve dar ao pai seu antigo colchão. O transporte do objeto, a pé, pelos quarteirões de uma cidade, é realizado pelos dois. Algo absolutamente banal, como uma receita de um suco verde que ela resolveu fazer. A vida é assim, comezinha, ainda mais quando estamos entre os que nos são próximos. Mas ela também pode gerar outra coisa, algo muito maior, inominável.

Tomando emprestadas as palavras de Filipe Lampejo, o espetáculo “Das Ding” é sobre o dizível e o indizível. A montagem estreia neste sábado (26/7), no Teatro de Bolso – Centro Cultural Sesiminas. Até a próxima terça-feira (29/7), serão oito apresentações (duas sessões diárias), todas esgotadas. No palco, Eduardo Moreira, de 64 anos, e Bárbara Luz, de 23, pai e filha.

É a primeira vez que o ator e diretor, um dos fundadores do Grupo Galpão, faz teatro com sua filha caçula. Mas não só. Bárbara, que tem uma experiência considerável no cinema, está estreando nos palcos.

Começou aos 10 anos com uma participação em “O menino no espelho” (2014); fez sua primeira protagonista aos 14, com “Unicórnio” (2017); e, no ano passado, ganhou o mundo como Nalu, a filha do meio do casal Rubens (Selton Mello) e Eunice Paiva (Fernanda Torres) no vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional “Ainda estou aqui”, de Walter Salles.

“É um sonho de muitos anos, né, pai?”, ela fala, olhando para Eduardo, durante intervalo do ensaio a que o Estado de Minas assistiu, na última terça (22/7). Bárbara lembra com exatidão o momento em que ouviu falar do texto da escritora e dramaturga Paloma Vidal (“Das Ding” foi publicado em 2014, no livro “Três peças”).

Leitura do texto

Em agosto de 2024, ela e Eduardo se encontraram em um restaurante com Marcelo Castro, cuja trajetória como ator e diretor está diretamente ligada ao próprio Galpão (é um dos fundadores do Espanca!, que surgiu no Cine Horto, e mais recentemente dirigiu projetos do grupo). Marcelo sugeriu que eles se encontrassem para uma leitura do texto.

“A gente leu e resolveu montar”, conta Eduardo. Mas tinham que esperar um ano. Bárbara estava em BH de férias da graduação em Teoria Teatral na Sorbonne, em Paris. Só poderiam neste ano, quando ela retornasse para novo período de férias. Durante meses trabalharam on-line – Castro convidou Filipe Lampejo, outro profissional que trabalha diretamente com o Galpão, para dividir com ele a direção do espetáculo.

Inês Peixoto, do Galpão, mulher de Eduardo e mãe de Bárbara, assina o figurino. A antiga camiseta do grupo Veludo Cotelê que a atriz exibe quando tira o suéter em cena não está ali gratuitamente, entendedores entenderão.

“Das Ding” – expressão em alemão que significa “a Coisa”, é um conceito lacaniano para falar de algo tão íntimo impossível de ser expresso em palavras – marca também a estreia de Filipe como diretor.

“Já no início, a gente decidiu que seria uma espécie de peça-filme. O texto é muito cinematográfico, repartido em 40 cenas, diálogos, quase todos muito curtos. Os espaços entre os diálogos dão uma sensação de passagem de tempo. Entendemos que a linguagem do cinema ajudaria a construir essa narrativa mais expandida”, explica Filipe.

Situação paradoxal

Na semi-arena do Teatro de Bolso, o público vai assistir a um filme (dirigido por Hugo Haddad) de 20 minutos, rodado em cinco locações, da Savassi até a Zona Leste, com pai e filha carregando um colchão e conversando. “É uma situação muito paradoxal, pois um objeto tão íntimo como um colchão é transportado no espaço público”, comenta Eduardo.

Assim que o filme termina, os dois atores entram pela porta do teatro carregando o colchão. Não mais um, mas 12, que servirão não só como cenário como também como espelhos do que eles estão falando. “A peça acontece muito nas entrelinhas, mais até do que está sendo dito”, comenta Filipe.

Na primeira fala de Bárbara no palco, já há uma quebra da quarta parede. O tom coloquial do filme muda drasticamente quando os dois atores estão de frente para o público. “Como é a minha primeira experiência profissional no teatro, coisas que são evidentes para eles não são para mim. A questão da voz, da projeção, da articulação, é muito diferente do cinema. Foi um privilégio estar com uma equipe disposta a me ensinar. Ao mesmo tempo que fico honrada, também dá muito medo”, ela diz.

Eduardo está exibindo um farto bigode, “culpa” do personagem que interpreta em “Professora de francês”, filme que Ricardo Alves Jr. roda até 4 de agosto. “Sem querer mitificar demais, acho que o teatro tem um lugar muito sagrado, de dedicação, de entrega. E acho que a Bárbara sabe fazer isso. A gente se entende muito assim. Eu brinco, vejo o filme e… ela é melhor do que eu, né? Fotografa superbem. Como diria minha mãe: ‘Quem dera eu fotografasse igual a ela em dias de festa’.”

Cinema, teatro, família, pai e filha, vida real e ficção. “Das Ding” fala disso tudo, como resume Marcelo. “Eles chegaram com o texto praticamente decorado, e isso é muito raro. Parte dos ensaios eles fizeram em casa. Ou seja, tem toda uma parte íntima que a gente não acessa, o que é muito interessante”, afirma.

“Eu me dei conta de que o processo (da peça) é uma pesquisa de linguagem, pois estamos trabalhando com interpretação para teatro e para cinema. Estamos justapondo as duas coisas numa peça que fala sobre linguagem. E tem a história de cada um. Eles são pai e filha mesmo, ela faz cinema, ele faz teatro. Então tem uma vertigem da ficção e da realidade”, observa.

“DAS DING”
O espetáculo estreia neste sábado (26/7), às 19h, no Teatro de Bolso – Centro Cultural Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia). Ingressos esgotados.

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