Frequentador de velórios de celebridades conta porque vai a tantos funerais
Com cartazes feitos à mão, ele homenageia celebridades no último adeus e virou figurinha carimbada nas coberturas de funerais no Rio
compartilhe
Siga noRIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Quando morre algum famoso no Rio de Janeiro, é batata: na cobertura jornalística do velório (ou do enterro), lá estará Carlos Henrique do Nascimento com seu cartaz em uma tipografia própria, que parece gritar a mensagem que quer passar - geralmente, "Descanse em paz" e suas variações, seguido pelo nome da celebridade que está no caixão.
Caíque, 56, faz parte de uma nova geração de papagaios de pirata da cidade, uma turma que tem como maior expoente Jaime Dias Sabino, conhecido como Jaiminho. Morto em 2013 aos 87 anos, Jaiminho participou de mais de mil enterros, incluindo figuras como Getúlio Vargas e Oscar Niemeyer, e era conhecido por sua habilidade em se posicionar estrategicamente para aparecer nas transmissões televisivas. Não raro, segurava na alça dos caixões, ajudando a carregá-los.
Caíque não chega a tanto. Para ele está de bom tamanho exibir seus cartazes com mensagens positivas e homenagens ao famoso morto, o mais importante é ser visto.
Sua aparição mais recente foi no funeral de Preta Gil, na sexta-feira (25), quando mais uma vez informou-se sobre a hora e o local nos telejornais para definir sua agenda. O próximo passo: buscar o papelão numa central de reciclagem perto de casa ("Já deixo no esquema"). A frase a ser exibida é então pintada com tinta guache. "Todo mundo acha que é pilot porque sai certinha, mas faço devagarzinho, com o dedo, com muito carinho", conta.
Leia Mais
Morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Caíque é solteiro, não tem filhos e não se recorda ao certo a quantos funerais já foi. Diz que passou a frequentá-los não tem muito tempo, mas cita como um dos mais marcantes o de Jorge Lafond, ator que interpretava Vera Verão no humorístico "A Praça é Nossa", no SBT. Isso foi em 2003, lá se vão mais de 20 anos. "Eu morria de rir quando ele falava 'Epa!' no programa, esse [velório] me emocionou de verdade".
Chico Anysio, morto nove anos depois, também mereceu suas homenagens, assim como Zagallo, Aracy Balabanian, Glória Maria, José Wilker, e até o Papa Francisco - esse numa participação, digamos, remota, de Caíque, que foi às ruas munido de um cartaz durante a longa cerimônia de despedida do pontífice.
Ele diz que uma de suas motivações para frequentar velórios, enterros e afins é levar uma mensagem de paz aos familiares e fazer um último tributo ao morto. "Mas não vou mentir para você, não. Eu gosto de aparecer".
E ele vem aparecendo bastante. Tanto que, na vizinhança dele, os amigos sempre comentam que o viram na TV. "Eles falam que eu sou famoso, fazem a maior festa".
Caíque vem fazendo escola e já se vê outros frequentadores de cerimônias fúnebres com cartazes parecidos e a mesma desenvoltura frente às câmeras. Ele diz curtir a companhia, não os vê como concorrentes. "É tudo amigo", afirma.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Sua ausência em um funeral midiático só acontece quando não há brecha na agenda profissional. Ele faz rebaixamento de teto, constrói camas, e prioriza o trabalho quando há coincidência de horários. "Tento ajeitar tudo para conseguir ir, mas se não dá, não dá. Preciso ganha dinheiro", diz, já emendando uma pergunta antes de se despedir: "Vem cá, essa reportagem vai sair com destaque?".