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Estado de Minas COLUNA HIT

Vida de Jorge Lafond, morto h� 20 anos, � reverenciada em pe�a no CCBB

'Jorge pra sempre ver�o' foi escrita por Aline Mohamad, prima do ator, em parceria com Diego do Sub�rbio. Espet�culo tem �ltima sess�o em 31 de julho


17/07/2023 04:00 - atualizado 31/07/2023 01:12
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Jorge Lafond com elenco de A praça é nossa
Jorge Lafond, do alto de seus quase 2m de altura, divertiu o pa�s em 'A pra�a � nossa', programa humor�stico do SBT/Alterosa (foto: SBT/reprodu��o)

Para a gera��o que passou dos 50 anos, Vera Ver�o, personagem de Jorge Lafond, � velha conhecida. Todas as semanas, por muitos anos, ela entrou nos lares por meio do humor�stico “A pra�a � nossa”, exibido pelo SBT/Alterosa. Mas a vida do ator n�o se resumiu ao estrelato na telinha. Pelo menos � o que mostra a pe�a “Jorge pra sempre ver�o”, em cartaz at� 31 de julho, �s 20h30, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Pra�a da Liberdade.


Escrita por Aline Mohamad em parceria com Diego do Sub�rbio, a pe�a ficcional se inspirou na biografia do ator. Rodrigo Fran�a assina a dire��o. A ideia do texto surgiu ap�s a carta p�stuma que Aline escreveu a Lafond, seu primo. O elenco re�ne Alexandre Mitre, Aretha Sadick, Noemia Oliveira e, como stand in, Joa Assump��o e �rika Marinho.

 

Diretor de teatro Rodrigo França
O diretor Rodrigo Fran�a diz que Jorge Lafond, que morreu em 2003, conquista jovens f�s por meio da internet (foto: Magali Moraes/Divulga��o)

'O Jorge � uma das figuras mais importantes do movimento negro. Ele � uma das figuras mais importantes do universo LGBTQIAP '

Rodrigo Fran�a, diretor de teatro

 

 

Jorge Lafond morreu novo, aos 50 anos, devido a problemas card�acos, em 2003. Para muita gente, ele � a bicha engra�ada do programa humor�stico. Mas quem realmente foi Lafond? O que ele representa para o movimento LGBTQIAP+?
Rodrigo Fran�a - Jorge Lafond foi um dos maiores intelectuais deste pa�s. Era uma pessoa da academia, formada em educa��o f�sica, formada em dan�a. Foi da companhia de Mercedes Baptista, primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Fora esse artista extraordin�rio, era um intelectual que sabia o que estava fazendo. Sabia utilizar sua arte como estrat�gia para se manter, inclusive em espa�os contradit�rios � sua luta, � sua arte. E, como resultado, tem o Jorge Lafond que a gente admira hoje.

A pe�a � ficcional. Mas muita coisa parece real, como o momento em que ele viu o parceiro de m�os dadas com a mulher evang�lica, a surra que levou do padre. O que h� de verdade e de fic��o no palco?
Rodrigo Fran�a - Sempre ser� fic��o, n�? O interessante dessa obra � que ao mesmo tempo em que voc� tem uma rela��o muito documental, ela � muito ficcional. Estraga muito do trabalho art�stico definir o que � verdade e o que � mentira. Na verdade, tudo � cr�vel, porque o Jorge representa muitas bichas pretas, muitas travestis pretas que est�o a�, n�?. Ent�o, tudo � verdade, a partir desse ponto do Jorge Vera Ver�o como espelho de parte da sociedade que at� hoje � marginalizada e sofre.

Um padre for�ou a retirada dele do palco de um programa de televis�o, essa hist�ria � bem conhecida. Em algum momento ele se desculpou com o Lafond?
Rodrigo Fran�a - Eu, como artista, como intelectual que sou, prefiro levar para o campo das ideias. N�o foi o padre, s�o os padres, s�o os pastores, s�o as pessoas que representam esse indiv�duo que foi violento com Jorge. Foi por preconceito, por �dio. Por �dio mesmo. E t� a� at� hoje, n�? A gente pode dizer que o �dio, a intoler�ncia mataram o Jorge Lafond, representado aqui por uma �nica pessoa que tem desdobramentos, por uma sociedade que ainda � hip�crita, que ainda � colonial, que ainda � violenta.

 

Cena da peça Jorge pra sempre verão com Jorge Lafond no telão
Pe�a 'Jorge pra sempre ver�o' est� em cartaz no CCBB desde 13 de julho (foto: Rai do Vale/divulga��o)
 

 

A rela��o com a prima, que por preconceito ficou anos afastada dele, � o fio condutor da hist�ria. A pe�a � o pedido de perd�o dela?
Rodrigo Fran�a - Essa prima � a gente da sociedade que, de certa forma, deixa de conhecer pessoas interessantes, deixa de ter pessoas t�o excepcionais vivas por conta do �dio. O quanto mazelas como LGBTQIAP fobia, como machismo e racismo fazem com que pessoas que poderiam contribuir t�o fortemente para a sociedade estejam marginalizadas ou at� mesmo mortas? Isso faz com que a sociedade, cada vez mais, esteja longe da sua humanidade. � imposs�vel voc� ter a vis�o de humanidade ao ver algu�m ou um grupo em que a juventude morre a cada 23 minutos, � assassinada a cada 23 minutos, como ocorre com a juventude negra deste pa�s. Como posso falar que existe humanidade no Brasil, com grande parte da popula��o fechando os olhos para isso?

Como era a sua rela��o com Lafond?

Rodrigo Fran�a - Comecei a fazer teatro em 1992. Eu era um jovem de 14 anos, tive a sorte de o teatro onde comecei ter Jorge Lafond. Eu o vi brilhar, na coxia. Sempre foi uma grande refer�ncia para mim, como excepcional artista e profissional que era, de chegar com seu texto decorado, cumprir a pontualidade, ser algu�m muito respeitoso. � sempre muito importante frisar que se at� hoje se perpetua a viol�ncia nas rela��es profissionais, ela era uma pessoa muito respeitosa com seus colegas. Ent�o, pra mim, � um exemplo daquilo que eu sou e daquilo que quero ser.

O destino foi cruel com Lafond, que morreu h� 20 anos. Se estivesse vivo, qual seria a import�ncia dele para o movimento LGBTQIAP ?
Quando a gente fala sobre ancestralidade negra, a gente n�o coloca no passado, a gente coloca no presente. O Jorge � uma das figuras mais importantes do movimento negro. Ele � uma das figuras mais importantes do universo LGBTQIAP . N�o d� para discutir carnaval sem falar sobre Jorge Lafond. � inadmiss�vel falar sobre artes c�nicas, sobre dan�a, sobre arte perform�tica sem falar dele. Jorge Lafond ainda est� vivo. � delicioso ver (na pe�a) uma plateia mista que mistura gera��es, principalmente jovens que n�o estavam aqui presentes no auge do Jorge Lafond. Os jovens de 16, 20 anos v�m contemplar o espet�culo porque a internet fez com que a exuber�ncia de Jorge Lafond chegasse at� esta gera��o.

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