Milton Nascimento inicia sua �ltima turn�, mas descarta adeus � m�sica
At� novembro, cantor e banda far�o 26 shows no Brasil, EUA e Europa, com ingressos esgotados. Maratona come�a neste s�bado (11/6), no Rio, e termina em BH
Milton Nascimento deixar� de fazer turn�s, mas seguir� compondo e cantando
(foto: MARCOS HERMES/DIVULGA��O)
"A m�sica do Milton � quase a cria��o de um g�nero. Ele tem outra forma de pensar m�sica, e mesmo que tenha 60 anos de carreira, o jeito como ele pensa � novo, muito diferente do usual. Quanto mais entro na obra, mais vejo a genialidade dele''
Wilson Lopes, diretor musical da turn�
Dias antes da abertura da venda de ingressos da turn� “A �ltima sess�o de m�sica”, o movimento era grande na casa em Itanhang�, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Com Milton Nascimento e banda ensaiando na pr�pria resid�ncia, onde Milton voltou a morar desde a virada do ano, a equipe resolveu fazer um bol�o.
Quantos ingressos seriam vendidos no primeiro dia? “Vinte e oito mil”, disse um. “N�o, acho que no m�ximo 20 mil”, apostou Augusto Kesrouani Nascimento, filho, empres�rio de Milton e diretor art�stico da turn�. Em quatro horas daquele 18 de maio, os 65 mil ingressos colocados � venda acabaram.
EXTRAS
A derradeira temporada nos palcos de Milton, que tem in�cio neste s�bado (11/6) na Cidade das Artes, no Rio, vendeu 100 mil ingressos para as doze datas brasileiras – tudo esgotado, com exce��o das apresenta��es de 1º e 4 de novembro, em S�o Paulo, datas extras anunciadas posteriormente.
Somando com os shows no exterior – 10 na Europa, entre junho e julho, e quatro nos EUA, entre o final de setembro e outubro –, Milton, que chega aos 80 em 26 de outubro, far� 26 apresenta��es ao todo.
O show no Mineir�o, encerramento da turn�, em 13 de novembro, ter� 50 mil pessoas – n�mero semelhante de pessoas assistiu, no est�dio, a Paul McCartney, em 2013 e 2017, e a Roger Waters em 2018.
� o final de trajet�ria nos palcos, diga-se. “N�o estou me despedindo da m�sica. Recuso-me a dizer adeus � m�sica”, afirmou Milton em recente entrevista ao jornal brit�nico The Guardian.
“Desde que assumi a carreira dele, minha ideia era coloc�-lo de volta no lugar que lhe pertencia na m�sica. A hist�ria foi num crescendo bem bonito. O tempo todo o levei para o p�blico jovem. Essa galera j� escutou ‘Maria, Maria’, ‘Ca�ador de mim’ em casa, e a ideia foi mostrar que Milton Nascimento � foda, e que as pessoas tinham que fazer parte da hist�ria. Nos �ltimos anos, o crescimento do p�blico jovem nos shows foi muito grande”, afirma Augusto, que h� seis meses passou a administrar a carreira de Beto Guedes. Desde 2016, ele diz, j� pensava em como seria a �ltima turn� do pai.
Sul-mato-grossense, Augusto foi oficialmente adotado por Milton em 2017 – mas a rela��o vinha de mais de uma d�cada. Foi ele quem, ent�o estudante de direito em Juiz de Fora, levou Milton para morar na cidade da Zona da Mata, em 2015. Deprimido e com a sa�de debilitada, o cantor ficou recluso por alguns anos, retornando aos palcos em 2017 – desde ent�o, fez as turn�s “Semente da terra” (2017 e 2018) e “Clube da Esquina” (2019-2020-2022).
Com temas mineiros, figurino criado especialmente por Ronaldo Fraga para a turn� remete ao manto que Arthur Bispo do Ros�rio teceu para se apresentar a Deus (foto: Marcos Hermes/divulga��o)
Augusto completou 29 anos em 4 de junho. O que ele tem de idade o violonista e guitarrista Wilson Lopes, de 56, tem de Milton Nascimento. Vinte e nove anos atr�s, ele estreou na banda de Milton e h� cerca duas d�cadas assumiu os arranjos e a dire��o musical. Os dois decidiram o repert�rio da turn� – que ter� entre 38 e 40 can��es.
“O grande diferencial � que esta turn� ser� sobre toda a obra. Augustinho e eu pegamos todos os discos e fomos pincelando o que n�o dava para ficar de fora. Quando chegamos por volta das 40, comecei a reduzir. Tanto que algumas m�sicas est�o em medley, outras foram diminu�das e outras ficaram inteiras. ‘Morro velho’, por exemplo, est� na �ntegra, n�o d� para cortar, aquilo � uma hist�ria”, comenta Wilson. M�sicas que h� muito n�o eram executadas ao vivo estar�o no repert�rio, como “Ca�ador de mim”, “Catavento” e “Fazenda”.
"Vamos fazer quase tudo de trem e de carro. A turn� europeia em 2019 foi mais batida do que esta. Quando chegou o �ltimo show, ele estava puto porque estava acabando. � bastante show, mas ele viaja acompanhado de fonoaudi�loga e tem m�dico controlando tudo"
Augusto Kesrouani Nascimento, filho e diretor art�stico da turn�
PAZ
Wilson Lopes diz que Milton, no passado, participava muito mais das decis�es musicais do que atualmente. “Resolvi o repert�rio da turn� com o Augustinho, fiz todos os arranjos. O Bituca, para mim, est� chegando no patamar de anjo. Ele n�o exige nada e est� sempre em paz de esp�rito. Ele chega (para os ensaios) todo bonitinho, pergunta o que vai cantar ou n�o, e n�o reclama de nada. Mas ele nunca foi de reclamar”, continua Wilson.
Profundo conhecedor da obra do cantor e compositor, Wilson Lopes, professor da Escola de M�sica da UFMG, criou h� 10 anos a disciplina M�sica de Milton.
“A m�sica dele � quase a cria��o de um g�nero. Ele tem outra forma de pensar m�sica, e mesmo que tenha 60 anos de carreira, o jeito como ele pensa � novo, muito diferente do usual. Quanto mais entro na obra, mais vejo a genialidade dele”, afirma Lopes.
Wilson Lopes, diretor da turn�, criou a disciplina M�sica de Milton na Escola de M�sica da Universidade Federal de Minas Gerais (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Bastante concorrida, a cadeira na UFMG tem, geralmente, de 30 a 40 alunos. “Deixei de dar a disciplina durante um semestre e teve at� abaixo-assinado no colegiado”, diz Wilson, que em 21 de julho re�ne o grupo de alunos desta temporada para, no Bar do Museu Clube da Esquina, em BH, executar o repert�rio do �lbum duplo que completou 50 anos em 2022.
Wilson Lopes est� � frente da banda formada por Lincoln Cheib (bateria), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (metais), Z� Ibarra (vocal e viol�o), Ronaldo Silva (percuss�o), Alexandre Primo Ito (baixo ac�stico) e Fred Heliodoro (vocal e baixo el�trico), que est� estreando no grupo. Filho do cantor, compositor e guitarrista Affonsinho, Fred, de 34, foi sugerido pelo baixista Alberto Continentino.
A ideia � que ele e Z� Ibarra, al�m de tocar, dividam os vocais com Milton – coisa que Ibarra fez na turn� anterior. “� um canto de soma, de apoio, de forma que n�o atrapalhe a voz dele, que � a principal. Tive que entender a forma como o Milton canta, como ele divide a m�trica”, conta Fred, que j� conhecia bem as m�sicas, pois integrou a banda de Affonsinho, que dedicou dois �lbuns, “Esquinas de Minas 1” e “2”, ao repert�rio do Clube.
Fred canta “Maria, Maria”, “Paula e Bebeto” e “Bola de meia, bola de gude”, al�m de fazer backing em boa parte do repert�rio. Em maio, ele, que hoje vive em S�o Paulo, ficou hospedado com toda a banda na casa de Milton para os primeiros ensaios. Na quinta-feira (9/6), o grupo voltou a se reunir para os ensaios finais.
Milton Nascimento e o filho adotivo Augusto, diretor art�stico da turn� "�ltima sess�o de m�sica" (foto: Reprodu��o)
Milton deixou a casa de Itanhang� em 2015, onde vivia h� mais de duas d�cadas. Traumatizado, estava decidido a n�o mais voltar. Uma parte do teto caiu, houve infesta��o de cupins, o im�vel estava em p�ssimo estado. Em meio aos preparativos da turn�, Augusto precisava de uma base no Rio. No ano passado, fez uma grande reforma – colocou elevador, instalou sala de cinema. Milton foi passar o r�veillon e n�o quis mais voltar a Juiz de Fora.
Foi ainda por causa de Augusto que Milton raspou os cabelos. “Gosto dos olhos e da express�o dele, e as tran�as tampavam. Cabe�a-dura, ele n�o queria de jeito nenhum. Quando veio a pandemia, as tran�as precisaram de manuten��o. Falei que n�o poderia colocar ningu�m em casa para mexer no rosto dele, pois, caso acontecesse alguma coisa, o mundo inteiro iria me culpar”, conta Augusto. Milton teve de raspar e agora, segundo o filho, acha muito “mais confort�vel” a aus�ncia de cabelos.
Ainda de acordo com Augusto, a pandemia foi um baque para o pai, “como com toda pessoa de idade”. Milton acabou de fazer exames m�dicos e est� tudo bem, ele diz.
Mas a temporada de seis meses com 26 shows em tr�s continentes n�o � algo ousado, diante da fragilidade de Milton?
“Pensei muito nisso na hora de desenhar a turn�. Este m�s, na Europa – a agenda come�a na quarta (15/6) no Torino Jazz Festival, na It�lia –, � um dos momentos de que ele mais gosta. Vamos fazer quase tudo de trem e de carro. A turn� europeia em 2019 foi mais batida do que esta. Quando chegou o �ltimo show, ele estava puto porque estava acabando. � bastante show, mas ele viaja acompanhado de fonoaudi�loga e tem m�dico controlando tudo.”
Bituca convida o mundo a acompanh�-lo em sua nova travessia:
Augusto Nascimento se diz a pessoa mais xingada no mundo porque os shows brasileiros se concentrar�o no Rio, S�o Paulo e Belo Horizonte.
“No Nordeste, como escolher um estado s�? Se fosse na Bahia, o pessoal de Pernambuco ou da Para�ba ia ficar com raiva. No Sul, a mesma coisa: ele tem um superp�blico em Curitiba, imagina se fosse s� em Porto Alegre? Optei pelas tr�s principais capitais por causa da malha a�rea, pois fica muito mais f�cil.”
Diante de tanta procura, h� possibilidade de novas datas? “Meu par�metro � ver se ele est� confort�vel. Tudo pode acontecer, mas ele tem de estar tranquilo”, finaliza Augusto Nascimento.
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