Milton Nascimento: 'Nada na minha vida seria como foi sem os amigos'
'Clube da Esquina' nasceu da amizade e da 'vontade gigante de fazer m�sica', afirma o cantor e compositor, em entrevista sobre os 50 anos do disco
13/03/2022 04:00
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atualizado 05/06/2023 00:06
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Milton Nascimento diz que a m�sica 'simplesmente acontecia' durante as grava��es de 'Clube da Esquina', nos est�dios da Odeon (foto: Iris Zampetti/divulga��o)
Gabriel de S�
Especial para o EM
Nos �ltimos dias de 2021, Milton Nascimento presenteou os f�s com apresenta��o gravada em Juiz de Fora (MG), ao lado da Orquestra Ouro Preto e transmitida pela internet. Entre violinos e contrabaixos, o compositor, de 79 anos, sentou-se diante dos m�sicos trajando boina e os insepar�veis �culos escuros. Emocionou a todos ao reviver can��es emblem�ticas do “Clube da Esquina”.
Interpretou “Um girassol da cor de seu cabelo”, can��o de L� e M�rcio Borges rara em sua voz, e entregou-se tamb�m �s parcerias com Fernando Brant e Ronaldo Bastos. Ainda homenageou a m�e com a instrumental “L�lia”. “Ela n�o tem letra porque n�o existe palavra no mundo que possa definir a beleza dessa mulher”, disse.
Depois de tanto falarmos dele ao longo da s�rie especial “Nada foi como antes - 50 anos do Clube da Esquina”, talvez o Estado de Minas j� possa chamar Milton de Bituca. Entrevistamos o cantor e compositor por e-mail, ele revelou que a hist�ria de sua vida vai virar filme em breve.
Bituca, que completa 80 anos em 26 de outubro, relembrou a temporada em Mar Azul, contou que a cr�tica bateu muito em “Clube da Esquina” na �poca do lan�amento e elogiou a genialidade de L� Borges. “As coisas que ele faz, n�o existe artista em lugar nenhum do mundo que consegue algo parecido.”
(foto: Instagram/reprodu��o)
''Foi um come�o muito dif�cil, a cr�tica da �poca bateu muito no disco. Mas fico muito feliz que a mensagem tenha chegado nas pessoas como a gente sonhava''
Milton Nascimento, cantor e compositor
A amizade est� no n�cleo do “Clube da Esquina”, e voc� � o elo que une todos esses m�sicos. Como os la�os se mantiveram s�lidos ao longo de sua vida?
Eu sempre costumo dizer que, sem a amizade, nada disso teria acontecido. E vou ainda mais longe: tenho certeza que nada na minha vida seria como foi sem os amigos que tive, e que ainda tenho, ao meu lado.
O que faz com que o “Clube da Esquina” seja t�o reverenciado ainda hoje, 50 anos depois do lan�amento?
Sendo muito sincero, eu mesmo n�o saberia responder essa pergunta. Quando a gente fez o disco, ningu�m estava pensando nessa coisa de ser reverenciado e tal. Mas eu fico muito feliz que tudo tenha acontecido dessa forma.
A temporada de cria��o do disco em Mar Azul � lembrada com carinho por L� Borges. Quais s�o as suas mem�rias desse per�odo?
Sabe que, algumas semanas atr�s, o Beto Guedes e o L� Borges estiveram aqui em casa, no Rio, e juntos relembramos muitas hist�rias de nossa temporada em Mar Azul. E uma coisa que a gente concluiu � que esse disco veio atrav�s do resultado direto da nossa imers�o naquela casa, e da vontade gigante de fazer m�sica.
Os m�sicos relataram que as grava��es do disco ocorreram em um clima de total liberdade criativa. Quais passagens voc� guarda daqueles momentos no est�dio?
Nossa, tem muita coisa que eu lembro daquele est�dio da Odeon, no Centro do Rio. E uma das mais interessantes � que o pessoal que tocou, muitas vezes, eram os que estavam ali na hora no est�dio. Pode ver que tem m�sica ali com Toninho Horta e o L� na percuss�o, o Beto Guedes no baixo. Era um clima de muita cria��o o tempo todo.
Qual foi a m�sica mais desafiadora para gravar no disco?
Era um momento t�o especial que n�o tinha muito esse lance de ser algo “desafiador”. A m�sica simplesmente acontecia.
''Tem m�sica ali com Toninho Horta e o L� na percuss�o, o Beto Guedes no baixo. Era um clima de muita cria��o o tempo todo''
Milton Nascimento, cantor e compositor
M�rcio Borges conta que quando o disco saiu, os cr�ticos n�o foram receptivos e os shows de lan�amento foram atribulados.
Realmente, foi um come�o muito dif�cil, a cr�tica da �poca bateu muito no disco. Mas fico muito feliz que a mensagem tenha chegado nas pessoas como a gente sonhava.
Como foi o convite para a Ala�de Costa cantar com voc� no disco?
Desde quando ainda morava em Tr�s Pontas, eu j� era muito f� da Ala�de Costa. Pra mim, uma das maiores cantoras do mundo. E eu sempre tive o sonho de cantar com a Ala�de. Aquele dueto em “Me deixa em paz” foi um dos grandes momentos n�o s� do disco, mas da minha carreira.
Dentre tantos compositores e instrumentistas talentosos que passaram por sua vida, voc� escolheu apostar em L� Borges.
Sempre tive certeza da genialidade do L�. Sempre. As coisas que ele faz, n�o existe artista em lugar nenhum do mundo que consegue algo parecido. E ele continua criando m�sicas maravilhosas at� hoje. N�o teria “Clube da Esquina” sem L� Borges, tanto que � bastante conhecida a hist�ria de que se a EMI n�o o aceitasse no disco, n�o teria existido disco nenhum.
Quais s�o os planos para este ano?
O meu principal projeto para 2022 � a turn� “A �ltima sess�o de m�sica”, que ser� dirigida pelo meu filho, Augusto, que j� est� trabalhando em todos os detalhes desde o ano passado. Outra coisa que t� vindo por a� � o longa inspirado na minha vida, que ter� a produ��o da Gullane em parceria com a Nascimento M�sica.