Um encontro musical que teve início em 1971, e que rendeu uma penca de sucessos que atravessaram gerações, ganha seu capítulo final no próximo sábado (12/7), quando Sá e Guarabyra sobem ao palco do Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes para o show que marca o encerramento das atividades da dupla. Haverá, por assim dizer, um posfácio: uma derradeira apresentação, em setembro, em Itajaí (SC), marcada desde o ano passado, antes mesmo que a dupla decidisse se separar.

A história começou quando os caminhos dos cariocas Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix (1947-2009) e do baiano Guttemberg Guarabyra se cruzaram. Rodrix abandonou o barco pouco depois da formação do trio, que chegou a lançar, em 1972, os álbuns “Passado, presente e futuro” e “Terra”. A dupla Sá & Garabyra debutou em 1974, com o LP “Nunca”. De lá para cá, lançaram músicas de grande alcance popular, como “Dona”, “Sobradinho”, “Roque Santeiro”, “Mestre Jonas”, “Espanhola” e “Caçador de mim”, entre tantas outras.

Em mais de cinco décadas de parceria, foram muitas histórias vividas – algumas delas íntimas, desconhecidas pelos fãs da dupla. Para Sá, por exemplo, o momento mais marcante da trajetória não foi entre 1985 e 1986, quando emplacaram três músicas na trilha da novela “Roque Santeiro”, da TV Globo, mas entre 1978 e 1979, quando excursionou com Guarabyra por cidades do vale do rio São Francisco.

Novo Brasil

“Essa viagem teve um peso na minha formação. Eu estava na casa dos 30 anos e abriu-se um novo Brasil para mim quando conheci o São Francisco. Como todo carioca, eu imaginava que o mundo ia do Leme ao Pontal. Viajamos de carro, numa época em que nem estrada tinha direito”, conta. Guarabyra lembra que foi nessa viagem, rumo à casa de seus pais, em Bom Jesus da Lapa (BA), que tomaram conhecimento da barragem que estava sendo construída em Sobradinho – mote para uma das músicas de maior sucesso da dupla.

No embalo memorialístico, Sá se recorda também de casos pitorescos, como quando a dupla foi, mais ou menos na mesma época da viagem pelo vale do São Francisco, se apresentar em Guanambi, no sertão da Bahia. Guarabyra se perdeu a caminho da cidade – convém lembrar que ainda não existia celular – e, na hora do show, Sá se viu sozinho no camarim. Ele e o produtor chegaram à conclusão que o melhor a fazer era subir no palco, explicar a situação e apresentar o show sozinho.

“O que a gente não sabia era que na semana anterior tinha passado pela cidade um falso Raul Seixas, que se apresentou como se fosse o verdadeiro e tomou o dinheiro das pessoas. Quando eu estava no palco, explicando o porquê de estar sozinho, um cara lá atrás começou a gritar: ‘Não é o Sá’. De repente, toda a multidão estava gritando junto. Tive que sair correndo para não ser escorraçado. Guarabyra apareceu no dia seguinte e fizemos um show gratuito em praça pública, só aí Guanambi soube que eu era o Sá”, relata.

Bala na agulha

A trajetória da dupla registra passagens engraçadas, momentos de descoberta e também de glória. Certa vez, eles foram se apresentar, sem banda, no formato voz e violão, em um estádio em Montes Claros. “Fazíamos esse show habitualmente, só nós dois, mas não tínhamos noção da grandeza do que nos esperava nessa ocasião. No estádio tinha umas 40 mil ou 50 mil pessoas. Era preciso ter muita bala na agulha para encarar. Descobrimos que tínhamos, porque pusemos todo mundo para cantar junto. Foi marcante”, conta Sá.

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No show de despedida, no próximo sábado, no formato acústico, mas com apoio de banda, a dupla vai, naturalmente, apresentar os grandes sucessos, mas também músicas que nunca ou quase nunca tocaram em shows, de acordo com Sá. Nesse rol, entram no roteiro canções como “Porta do farol”, “Ribeirão”, “Fogo caipira”, “Ribeirão” e “Rio-Bahia”, cuja letra constata que o ponto de encontro dos dois, o meio do caminho entre o baiano e o carioca, é Minas Gerais.

“SÁ & GUARABYRA”
Show de despedida da dupla, sábado (12/7), às 21h, no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes

(av. Afonso Pena, 1.537, Centro – fone: 3236 7400).

Ingressos para a plateia 2 a R$ 260 (inteira) e R$ 130 (meia), e para a plateia superior a R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia), à venda pela plataforma

Eventim ou na bilheteria do Teatro. Os ingressos para a plateia 1 já estão esgotados


Razões do fim

No comunicado que Sá e Guarabyra emitiram, no fim de abril deste ano, anunciando o término das atividades da dupla, eles explicam que o fato de estarem morando em estados diferentes foi determinante para a tomada da decisão. “As razões foram causas naturais. O fato de morarmos, há bastante tempo, em cidades e estados diferentes acabou por nos fazer criar raízes diversas com outros parceiros mais frequentes e mais próximos. Portanto, antes que alguma desinformação aconteça, esclarecemos que a decisão ocorreu de forma espontânea e sem nenhuma interferência de questões discordantes”, diz o texto. Sá passou um período de dois anos, durante a pandemia, morando em Portugal. Quando retornou, fixou residência por um breve período em Nova Lima e, desde 2023, está em Belo Horizonte, no apartamento que a família tem no bairro Sion. Guarabyra mora há 30 anos em São Paulo.

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