FOLHAPRESS - Começa nesta sexta-feira (18/7), no Museu Fotografiska, em Xangai, na China, uma mostra póstuma com mais de cem fotografias do mineiro Sebastião Salgado. Ele "disse tudo em seu trabalho fotográfico", afirma o curador francês Jean-Luc Monterosso, ao ser questionado sobre o que Salgado ainda buscava, ao morrer em Paris, em maio.

 


"Ele escreveu que toda a sua vida foi fotografia. Há muita humanidade e muita esperança, apesar de tudo. Mesmo que ele tenha fotografado a tragédia, as dificuldades da vida", diz.

Christian Devillers, diretor do Fotografiska, acrescenta que, por ser a primeira grande retrospectiva após a morte, "fomos levados a colocar mais foco no homem, que teve um destino tão extraordinário".

Monterosso diz que serão apresentados "quase todos os períodos de Sebastião", com exceções como "Amazônia", trabalho de 2021. São imagens das grandes séries, inclusive "Trabalhadores", "Outras Américas", "Êxodos", "Gênesis" e "Perfume de sonho".

"A curadora Lélia Salgado coloca os trabalhos na ordem cronológica inversa, como se estivéssemos voltando no tempo com ele, para entendê-lo melhor", diz Devillers.

Monterosso, amigo de longa data do fotógrafo e ex-diretor da Maison Europeenne de la Photographie, dedica a viúva Lélia e seus filhos com Salgado "esta homenagem simples ao fabuloso fotógrafo, maior no mundo".

 

Série de fotos de camponeses sem terra no Brasil Sebastião Salgado
Sicília, na Itália, em 1991 Sebastião Salgado
Sudão, 2006 Sebastião Salgado
Corpos de camponeses assassinados são velados em Curionópolis, no Pará, em 1996 Sebastião Salgado
Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em ação no Paraná, em 1996 Sebastião Salgado
Trabalhadores de minas na Índia Sebastião Salgado
Terminal ferroviário em Bombaim, na Índia Sebastião Salgado
Sebastião Salgado fotografou o Kuwait, em 1991 Sebastião Salgado
Bebês abandonados brincando no teto de unidade da Febem, em São Paulo Sebastião Salgado
Trabalhador em plantação de cana-de-açúcar, em Cuba Sebastião Salgado
Ilhas Anavilhanas, arquipélago do Rio Negro, no Amazonas Sebastião Salgado
Rio Jutaí, no Amazonas Sebastião Salgado
Sebastião Salgado registrou a trajetória do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Sebastião Salgado
Filhotes de elefantes-marinhos-do-sul, na Baía de Saint Andrews, na Geórgia do Sul, entre a Argentina e a Antártica Sebastião Salgado
Impactado pela Amazônia, Sebastião Salgado registrou a grandiosidade daquela região Sebastião Salgado
Xamã yanomami durante ritual para subida ao Pico da Neblina, no Amazonas Sebastião Salgado
Trabalhadores da Serra Pelada, no Pará. Exposição "Gold - Mina de Ouro Serra Pelada" Sebastião Salgado
Fotografia da série "Gold - Mina de Ouro Serra Pelada", realizada no Pará Sebastião Salgado

Descreve as obras apresentadas como "uma análise da nossa situação no mundo, não só a tragédia social, mas a beleza", enfatizando a progressão evidenciada pela mostra.

"No início, é um fotógrafo social, não tão interessado pela beleza", diz. "Ao retratar o desastre, busca usar a luz e respeitar a dignidade da pessoa humana. No final, é muito sensível ao futuro do planeta. Está sempre dentro da nossa época. Essa, para mim, é a mensagem que a exposição traduz para nós."

Fotografia

Segundo Devillers, foram pesquisadas as circunstâncias e histórias que cercam as fotografias, para os guias impresso e em áudio. "Isso ajudará os visitantes a compreender a coragem, a tenacidade e a visão de um artista extraordinário."

Ele lista qualidades como "contrastes marcantes, iluminação dramática e composição meticulosa, evocando uma qualidade atemporal, mesclando realismo documental com arte sublime".

Diz que "isso é ainda mais impressionante quando se conhecem as circunstâncias em que as fotos foram tiradas: por muito tempo, ele trabalhou sozinho, em longas viagens em áreas desertas e com recursos muito limitados".

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Uma das atrações da exposição é uma foto que tirou na própria Xangai, em 1998. São mulheres dançando no Bund, setor financeiro histórico da cidade, diante do rio Huangpu. Do outro lado, mostra o distrito de Pudong, que ganhava forma como o símbolo do desenvolvimento do país. "Ele amava a China", diz Devillers.

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