Documentário "Cazuza: Boas novas" mostra a carreira solo do artista
Filme que estreia nesta quinta-feira (17/7) exibe shows, gravações e imagens inéditas de bastidores de encontros com amigos e da última turnê
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“Cazuza é sempre com emoção”, afirma Nilo Romero, baixista, compositor e produtor carioca de 64 anos. Agora é também diretor, pois assina o documentário “Cazuza: Boas novas”, que chega nesta quinta-feira (17/7) aos cinemas.
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“Se você sabe a história que vai contar, então você dirige”, foi o que Romero ouviu de Júlio Worcman, fundador do Canal Curta!, quando levou a ele o projeto. Já tinha feito o argumento e o roteiro, então foi natural que assumisse o leme do longa – que teve codireção de Roberto Moret.
O documentário cobre essencialmente a carreira solo de Cazuza (1958-1990), iniciada com o álbum “Exagerado” (1985). Em 1987, ele teria o diagnóstico positivo do HIV – o vírus o levou em 7 de julho de 1990, aos 32 anos.
Romero foi o baixista de Cazuza a partir da turnê de “Exagerado”. Gravou o disco “Só se for a dois” (1987), coproduziu o álbum “Ideologia” (1988) e seguiu com Cazuza até o fim (pouco mais de 40 shows) da turnê deste álbum, que rendeu o primeiro disco ao vivo do cantor e compositor, “O tempo não para” (1989).
Fitas VHS
É com essa propriedade que o documentário é levado. O grande achado do filme são as imagens de arquivo, boa parte delas caseiras e inéditas. A “culpa” é de George Israel, do Kid Abelha, amigo de Cazuza e Romero, que sempre registrou em vídeo passagens importantes de sua vida.
“Eu sabia que aquilo existia e estava ali, quietinho. Tinha a sensação de que, se eu não mexesse, aquilo ia ficar ali”, diz Romero. Ele trabalhou em muita fita VHS, como no casamento do próprio Israel, no início da década de 1980, que traz imagens de Cazuza com os amigos tocando na festa.
Há também muitos registros da turnê de “Ideologia”, dirigida por Ney Matogrosso. Uma das imagens mais relevantes, também registrada por Israel, foi do show de 16 de outubro de 1988, no extinto Canecão, no Rio de Janeiro, que se tornou célebre porque Cazuza cuspiu na bandeira do Brasil.
O filme destaca ainda momentos particulares, com o cantor brincando com os amigos, sempre bem-humorado e irônico, a despeito da fragilidade física. São muitas sequências de show, com muita música – todo o áudio foi remixado pelo próprio Romero.
A partir das imagens, foram entrevistadas pessoas próximas a Cazuza. A mãe, Lucinha Araújo, obviamente, além de Roberto Frejat, George Israel, o músico Christiaan Oyens, Ney Matogrosso, Gilberto Gil, o fotógrafo Flávio Colker, que fez capas e encartes dos discos.
Barão Vermelho
A fala de Frejat é particularmente esclarecedora, pois ele conta da amizade com Cazuza e também da saída intempestiva do vocalista do Barão Vermelho. Os dois, segundo Frejat, ficaram seis meses sem se falar, mas depois voltaram às boas e nunca mais tocaram no assunto.
“O Frejat é um caso à parte, pois sei da dimensão do Cazuza e também da dele. O Cazuza é genial, seria sempre genial, mas ele não seria o Cazuza que foi se não tivesse encontrado o Frejat. Eu quis valorizar isso, e mostrá-lo abrindo o coração. Pois foi através de ‘Pro dia nascer feliz’, ‘Blues da piedade’ e ‘Todo amor que houver nessa vida’ (toda assinadas pela dupla) que eles começaram a se viabilizar como compositores”, comenta Romero.
Mais do que a relação com Cazuza, Ney Matogrosso fala da direção do show. “É importante ele falar também para tirar a história [do relacionamento entre os dois, que a despeito da intensidade, durou três meses, do foco exclusivo]. Sobre o Gil, eu sabia que ele tinha conversado sobre a morte com o Cazuza uma semana antes de ele morrer. Ou seja, ninguém está ali por acaso”, comenta.
O fantasma da doença domina boa parte do filme. Uma das sequências relembra a capa da revista “Veja” de 26 de abril de 1989, a infame “Uma vítima da AIDS agoniza em praça pública”, que virou um case de mau jornalismo e levou o artista a ser internado.
Para Romero, é importante que o público perceba a luta de Cazuza para continuar fazendo música. O filme mostra como foi difícil gravar o derradeiro álbum, “Burguesia” (1989). Em muitos momentos, Cazuza, tão frágil estava, gravava deitado no estúdio. “Esse filme, apesar do período [que retrata a carreira do artista] não é triste. Fiz questão que ele ficasse divertido e emocionante, pois ele era exatamente assim”, afirma.
Novas gerações
Antes de dirigir “Cazuza: Boas novas”, Nilo Romero já tinha tido experiências com audiovisual. Produziu a série “O som e o silêncio” (Canal Curta!) sobre luthiers e fez a produção musical, durante 12 anos, de “Zoombido”, programa apresentado por Paulinho Moska no Canal Brasil.
Ainda que contar a história de Cazuza já estivesse em seu norte, Romero conta que uma das motivações para fazer o documentário foi apresentar o artista para a nova geração. “Fui convidado para uma live sobre o Cazuza por um casal fofinho, bem novo. Percebi que eles tinham a maior boa vontade, mas que não sabiam nada dele.”
“CAZUZA: BOAS NOVAS”
(Brasil, 2025, 91min.) Direção: Nilo Romero e Roberto Moret. O filme estreia nesta quinta (17/7), no Centro Cultural Unimed-BH Minas (19h); no Cidade (Sala 5, às 18h40) e no UNA Cine Belas Artes (Sala 2, 16h50 e 18h40).