CINEMA

Em ‘A mensagem de Jequi’, garoto quilombola faz plano para salvar rio

Longa que estreia nesta quinta (7/8) tem origem em oficinas para crianças oferecidas em São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro (Vale do Jequitinhonha)

Publicidade
Carregando...

O filme “A mensagem de Jequi”, que entra em cartaz nesta quinta-feira (7/8) no UNA Cine Belas Artes, é, em boa medida, fruto de encontros e acasos. O longa, que traz como mensagem a defesa dos rios e do meio ambiente, nasceu a partir de oficinas de educação climática que o diretor Igor Amin ministra para crianças quilombolas da Escola Estadual Mestra Virgínia Reis, em São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro (MG), no Vale do Jequitinhonha.


Nessas oficinas, ele conheceu o carismático Kaique Santos Silva – que dá vida a Jequi, o protagonista da história – e seus amigos. A relação com essas crianças o estimulou a realizar o filme. Amin conta que, nas oficinas, realiza pequenos vídeos, que mostram os resultados do que foi transmitido.

“Percebi a potência daquelas crianças e vislumbrei a possibilidade de construir com elas uma história mais alentada com o propósito de refletir sobre a importância da preservação do rio das Pedras, que é afluente do rio Jequitinhonha”, diz.

Mensagens na garrafa


A dinâmica proposta nas oficinas é que os alunos trocassem mensagens em garrafas – na verdade, mensagens em vídeo, usando QR Code no rótulo das garrafas. Essa é a espinha dorsal do filme. Diante da ameaça de um empreendimento predatório em sua região, Jequi arquiteta uma artimanha para impedir o projeto, compartilhando o alerta com o maior número de crianças possível através dessa singela solução: enviando, pelas águas do rio, mensagens em garrafas e em pequenos barcos de madeira que constrói.

Amin conta que, a partir do contato com Kaique e seus amigos, começou a escrever um pré roteiro para o que seria um documentário e que acabou se tornando uma narrativa ficcional. “Percebi que as crianças não expressam verbalmente a relação que têm com as águas. Eu ia para a beira do rio das Pedras, para entrevistá-las, e elas começavam a jogar água em mim, me chamavam para nadar, criavam jogos com os seixos. Entendi que aquelas crianças não iam falar da importância do rio, elas simplesmente brincam nele. O rio faz parte da vida delas”, diz.


Ele recorda que resolveu, então, impregnar as imagens que vinha registrando de ludicidade, com uma narrativa que pudesse tocar o coração das pessoas sobre a importância das águas para aquela comunidade. As oficinas tiveram início em 2019, foram interrompidas durante a pandemia e retomadas logo depois, quando o diretor conseguiu aprovar o projeto para o filme na Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Trata-se, pois de uma obra feita em muitas etapas.

Raízes africanas


A história parte de São Gonçalo do Rio das Pedras, segue para o oceano Atlântico e chega a Portugal e Moçambique. “Jequi tem o sonho de que seu barquinho com a mensagem navegue pelas águas, não só do Jequitinhonha, mas do mundo, porque as águas não têm fim. O projeto durou três anos, começando em São Gonçalo e terminando em Moçambique. Nesse processo de navegar, o protagonista vai encontrando outras crianças. Queríamos chegar na ancestralidade de Jequi, que é a África”, afirma Amin.

Paralelamente à saga onírica de Jequi, o filme investiga os impactos sofridos pelas águas dos territórios percorridos diante das mudanças climáticas e da ameaça do “progresso” nessas regiões. “Trata-se de algo que põe em risco o direito das crianças coexistirem com os rios que cortam suas comunidades. Essa é a mensagem que o filme quer transmitir. Jequi é um guardião das águas de seu território. Isso é o que a narrativa mostra”, ressalta.

Realidade do Jequitinhonha


Esse enredo espelha uma realidade local, de mobilização em prol da preservação das águas no Alto Jequitinhonha, segundo o diretor. Ele conta que a comunidade quilombola em que atua lidera um movimento de proteção do meio ambiente. “Acompanhei esse movimento, registrando, como cineasta, audiências públicas, negociações e a falta de consulta prévia e livre junto a esses povos quando se pretende a implantação de algum empreendimento”, conta.


Ele diz que “A mensagem de Jequi” coloca a criança como agente de transformação, alguém que precisa ser ouvido e ter seus direitos garantidos. “A gente leva para a sala de cinema um menino negro, quilombola, que defende seu território, que está sendo ameaçado. Observando e entrevistando os moradores da comunidade e do território como um todo – são nove grupos quilombolas na região do Serro – nos veio o questionamento sobre que desenvolvimento é esse que querem trazer para a região sem consultar quem vive ali.”


“A MENSAGEM DE JEQUI”
(Brasil, 2024, 73 min.) Direção: Igor Amin. Com Kaique Santos Silva, Mateus Andrade, Hillary Moreira e Meryê Paraguassu. Estreia nesta quinta-feira (7/8), no UNA Cine Belas Artes (Sala 2, 14h e 15h20).

Tópicos relacionados:

bh cinema cultura- em-cartaz estreia filme

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay